O grande mestre Hayao Miazaki encerra a sua carreira com "Vidas ao vento", que conta a história do homem que deu ao Japão a sua arma mais letal.
Jiro tem um sonho. Ele sonha com aviões. E, por ele ser míope, nunca poderá pilotá-los, igual ao Doutor Nerd (Eu nunca tinha pensado em pilotar um avião, mas, ao descobrir essa limitação, estranhamente senti vontade de fazer isso). Mas, por outro lado, ele poderia construí-los e essa é a vontade que dirige a sua vida.
Contexto histórico: Entre os anos de 1920 e 1930, o Japão imperial está em plena escalada militarista. E é na universidade e depois na fábrica Mitsubishi (daora) que o talentoso Jiro foi reconhecido. Ele sabe o que querem dele, bombardeiros ágeis, velozes e letais. Mas na sua imaginação o que vê é a expressão da beleza e do gênio humano. Aqui reside o drama de "Vidas ao Vento", o homem está fadado a criar o que a sua mente concebe, sejam quais forem as consequências. E no caso de Jiro Horikoshi (1903-1982), elas foram colossais. O que ele criou foi Zero, o caça com o qual o Japão bombardeou Pearl Harbor em 1941, forçando a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
Nos primeiros anos da guerra, Zero foi o caça mais eficaz e com a maior autonomia de voo de todos, de qualquer nacionalidade (!). Foi, em suma, o que permitiu ao Japão a sua agressividade. E tudo isso nas costas de um rapaz que talvez entendesse, talvez não, a tempestade que estava semeando.
Não é por acaso que este filme é tanto sobre sonhos quanto sobre arrependimentos. É com ele que Hayao Miazaki decidiu terminar a sua carreira, na qual produziu apenas outros dez títulos como este. Miazaki desenha só no laboriosíssimo 2D, o qual eu não troco por nada! Suas cores e imagens da natureza são de uma beleza miraculosa que, a cada quadro, propõe uma questão fundamental: A arte é maior quanto maior a subjetividade, não a fidelidade. É a matéria-prima. Quando Jiro atravessa o terremoto de 1923, a sequencia é linda! Ele entrelaça aos destinos de uma ainda pobre e tecnologicamente atrasada nação que quer ser uma potência. Sonha com o etéreo, mas cria uma arma de guerra. Ama Nahoko, uma jovem tuberculosa, mas a negligencia para perseguir a sua vocação.
"Vidas ao Vento" foi atacado tanto por expor a arrogância do Japão imperial quanto por não julgá-lo e por encontrar nele um personagem tão lírico quanto Jiro.
Esta, porém, foi sempre a grande arte de Miazaki, entender que tudo o que há de belo e também de terrível no mundo antes existiu na imaginação de alguém. E a sua é sublime!
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