quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

LEX LUTHOR E A SÍNDROME DA PAPOULA ALTA


O mais icônico inimigo das histórias do Superman (Talvez de todas as HQ's). Lex Luthor é o segundo mais importante personagem da mitologia criada por Joe Shuster e Jerry Siegel e um verdadeiro arquétipo de super-vilão-gênio-cientista-do-mal no qual tantos outros criadores se apoiaram para a concepção de figuras similares.

“Qualquer história que tenha heróis versus vilões só pode ser tão inteligente quanto a inteligência do seu vilão”. (Bruce Willis) 

Essencialmente é o vilão quem faz o enredo de uma história.

O antagonista do filme Duro de Matar (1988), Hans Gruber, é um terrorista e um homem culto, mas que acaba sendo apenas um ladrão. Sua personalidade é fortemente contrastada com o brucutu John McClane, que consegue ser mais esperto e instruído com astutas táticas de rua. 


Hans Gruber ajuda a definir o que há de heroico em John McClane: seu caráter mundano em oposição ao refinamento de Gruber, sua brusquidão em oposição à suavidade de Gruber. Se não fosse por Gruber, McClane seria apenas um idiota.

O que faz de um herói um herói e, na verdade, cria o conflito necessário para uma trama forte, é um vilão que é sua antítese. O valor só pode vir da distinção, afinal. Como John McClane, a maioria dos heróis tem vários vilões para escolher, cada um dos quais pode enfatizar um conflito diferente.

Doutor Octopus, Lagarto ou Duende Verde, antagonistas das histórias do Homem Aranha, são frequentemente usados ​​como representantes da "ciência que deu errado" em oposição à "ciência que deu certo". Por outro lado, Venom é frequentemente usado como um exemplo de como o poder do Homem Aranha pode ser mal utilizado nas mãos erradas.

O Superman também tem muitos vilões, mas nenhum compartilha a mesma gravidade de Lex Luthor, que o desafia como nenhum outro.

Apesar do destaque de Lex Luthor, sua introdução não foi das mais ilustres. Ele não foi o primeiro cientista careca que o Superman enfrentou (Esse foi o Ultra-Humanoide - o macacão albino que você vê no cartoon da Liga da Justiça mudou seu cérebro de corpo constantemente, ele já foi originalmente um velho careca, já foi um insetão, já foi uma mulher sexy, já foi um T-Rex... Ah, quadrinhos).

Em sua estreia, Lex Luthor nem mesmo era careca. Ele era ruivo. E com um guarda-roupas digno de um monge medieval. Ainda muito distante daquela imagem estereotipada de cientista do mal que foi, acredito, consolidada pelo Dr. Sivana.


Originalmente, Luthor conhecera o Superman, na época chamado Superboy, ainda em sua juventude quando ambos viviam em Smallville (Atualmente o Superman e o Superboy não são mais o mesmo personagem devido a uma série de retcons).

Se você já assistiu Superamigos ao menos algumas vezes em sua jovem vida, talvez tenha visto um ótimo episódio cujo título original era History of Doom. Se não assistiu, lamento, porque ele é ótimo, com um tom bem sombrio para aquela inocente animação produzida pelos estúdios Hanna Barbera na década de 70.

O dito episódio traz uma história apocalíptica, o mundo que conhecemos está completamente arruinado, aparentemente por um colapso nuclear resultante de uma guerra.

Um grupo de sábios alienígenas visitam o nosso falecido mundo para estudarem o que restou da civilização e descobrir o que foi que levou um povo pensante como o nosso a sucumbir em uma guerra.


Os inteligentes extraterrestres, encontram as ruínas da Sala da Justiça e tem acesso a um antigo arquivo em vídeo deixado pelos super-heróis da Terra.

Basicamente, Lex Luthor, líder da Legião do Mal, lançou em nosso Sol um foguete de Íons causando uma explosão colossal que nem mesmo o Superman pode impedir de aniquilar com a vida na Terra.

Tenho certeza de que este episódio dos Superamigos foi a inspiração para o episódio de Liga da Justiça, em que o Superman é teletransportado para um futuro igualmente apocalíptico, sendo dado como morto no presente. As situações são muito semelhantes, porém com Vandal Savage colocado no lugar de Luthor como o responsável pelo fim do mundo.


"Obrigado... "

Enfim, o episódio History of Doom abre um espaço para contar a origem do super-vilão Lex Luthor.


Luthor e o Superman se tornaram amigos quando adolescentes em Smallville, logo após o futuro vilão ter salvo o maior herói da Terra de morrer pela queda de um meteoro de kriptonita.

Naquele tempo, Luthor já era um aspirante à cientista e um grande fã do Superman. Como gratidão por salvar-lhe a vida, o Superman reformou o laboratório de Luthor, tornando-o muito mais moderno, para ajudá-lo na realização de seu sonho.


A calvície de Luthor foi devida a um acidente de laboratório que ele atribuiu ao Superman.

Trabalhando num antídoto que tornaria o Superman invulnerável a kriptonita, Luthor se viu preso em seu próprio laboratório em chamas. Ele gritou por socorro, e o Superman tentou salvá-lo apagando o fogo com o seu super-sopro.

Porém, o sopro do Superman não apenas destruiu o laboratório do jovem Lex Luthor, como também derramou substâncias químicas sobre ele, fazendo-o perder todos os seus cabelos. Apesar do Superman alegar inocência, Luthor o acusou de ser um mentiroso e de invejar o seu gênio científico.

Seu ódio pelo Superman fez com que decidisse dedicar o resto da sua vida a cometer crimes super-científicos.


Sim.

A sua origem era exatamente assim nas histórias em quadrinhos daquele tempo.
Esta história veio da necessidade que os roteiristas da época viram em dar ao confronto entre o Superman e Lex Luthor uma rixa pessoal.

Ah, a Era de Prata.

Piadas à parte Ok. Você vai dizer que é uma história de origem idiota, mas eu gostei bastante de conhecê-la ainda quando criança quando via o desenho dos Superamigos. E esta história de origem ainda estabeleceu a irracionalidade da personalidade de Luthor quando se trata do Superman.

Em um grande arco da série animada da Liga da Justiça, Luthor financia uma campanha de um bilhão de dólares para concorrer à presidência. Quando perguntado por outro super-herói, o Questão, sobre o porquê disso tudo, Luthor ri porque alegadamente nem se importa com isso. Ele só queria irritar o Superman.


O Super-Homem de John Byrne, Man of Steel, reformulou o personagem para se ajustar aos tempos, especificamente a América dos anos 80. Em um país da era Reagan, onde os ricos eram vistos agindo sem consideração pelos outros (como ilustrado em filmes como Wall Street e Changing Places), não poderia haver vilão maior do que um executivo corporativo corrupto.

Lex Luthor patenteou suas inovações científicas brilhantes para ganhar bilhões, além de se envolver em algumas atividades ilegais. Se o Superman representa o que é considerado bom em seu país (altruísmo irrestrito), Luthor representa o seu lado mais perigoso (um capitalismo sem restrições).

Esse "reboot" removeu qualquer conexão entre o passado do Superman e Lex Luthor. A animosidade de Luthor decorre de pura arrogância.

Quando Luthor vê pela primeira vez a grande introdução do Superman a Metropolis em Man of Steel, sua secretária pergunta sarcasticamente: "Como é ser o segundo homem mais poderoso de Metropolis?"

Isso resume a razão de Lex Luthor confrontar o Superman: sua própria existência é uma afronta ao seu sucesso.


Esta versão de Lex Luthor não é apenas um homem muito rico, mas também é um homem feito por si mesmo. Ele nasceu na pobreza, filho de um pai abusivo em um distrito da luz vermelha, inocentemente conhecido como Suicide Slum. Ele fez sua fortuna através da engenharia autodidata e do assassinato de seu próprio pai como capital inicial.

Alguém poderia imaginar como um homem assim, que teve que "se sustentar com suas próprias pernas" por toda a vida, reagiria a alguém que tem a divindade como uma primogenitura?


Na vida real, os seres humanos não são os melhores em reagir a disparidades claras de capacidade ou recursos, especialmente quando essas disparidades não são "conquistadas".

Na psicologia social, esse fenômeno é chamado de "síndrome da papoula alta", na qual "pessoas de mérito genuíno são ressentidas, atacadas, cortadas ou criticadas por causa dos seus talentos ou realizações que as elevam ou as diferenciam de seus pares".


Conta-se que o tema da síndrome da alta exposição tem suas primeiras referências nos livros de Heródoto e nas reflexões de Aristóteles. Também aparece em um relato de Lívio sobre o tirano “Tarquínio, o orgulhoso”.

Segundo Heródoto, o imperador enviou um mensageiro para pedir conselhos a Trasíbulo sobre a melhor maneira de manter o controle sobre seu império.

O mensageiro perguntou a ele, mas Trasíbulo somente começou a caminhar entre as plantações de trigo. Cada vez que encontrava uma espiga mais alta, cortava-a e a jogava no chão. E não disse nenhuma palavra.


Quando o mensageiro voltou para o imperador, contou-lhe sobre a atitude estranha do conselheiro. O imperador o compreendeu. A mensagem significava que ele deveria eliminar todos aqueles que estivessem acima dos outros. Acabar com os melhores, para que seu poder e sua supremacia jamais fossem postos em cheque.

A síndrome da alta exposição gera consequências em duas dimensões.

A primeira tem a ver com o indicado. Há uma tendência, quase natural, de não permitir que alguém se destaque demais, porque isso gera inseguranças ou cria uma sensação de ameaça nos outros.

Portanto, aos que se destacam, muito frequentemente são feitas críticas com severidade excessiva. Ou são muito exigidos. Ou procuram minimizar seus talentos e suas conquistas.


A segunda consequência da síndrome da alta exposição é que ela ensina as pessoas a terem medo de se destacar.

Precisamente por tudo o que foi dito, as pessoas aprendem, mais implícita do que explicitamente, que estar acima dos outros pode colocá-las em risco. Risco do quê? De rejeição, questionamentos, crítica e até mesmo de ostracismo.

Por isso, muitos assumem que o correto é não se destacar em nenhuma circunstância. Assumem o “baixo perfil” como uma norma e se assustam ao se verem expostos aos outros. De uma forma ou outra, acabam sendo adestrados para não desafiarem o estabelecido.

É uma pena, pois nesse processo, também perdem capacidades, deixam de lado talentos genuínos e até renunciam ao sucesso.


A síndrome da papoula alta ou da alta exposição nos diz que quando as pessoas se destacam muito em alguma área, provocam o ódio nos demais. Esse ódio não pode ser chamado de inveja propriamente dita. Sobretudo, ele se relaciona como o fato de que o sucesso dos outros faz com que as nossas próprias limitações se tornem mais visíveis.

Na mesma linha, muitas versões de Lex Luthor se consideram trabalhando a favor do público, tentando reduzir o Superman e outros heróis.

Na série 52, Lex Luthor cria o "Everyman Project", que foi um esforço para capacitar humanos normais com meta-habilidades, destruindo assim a distinção de meta-humanos.

É claro que ele quer usar o processo em si mesmo, mas como ele é incompatível, isso o leva a matar alguns dos seus próprios meta-humanos criados.


Apesar de seus óbvios problemas pessoais, a reação de Luthor ao Superman não está muito longe de como as pessoas reais provavelmente reagiriam nessa situação. Pense nas realizações humanas como um todo (ciências, filosofia, etc.), depois pense no que a existência de uma raça alienígena avançada significaria para o nosso orgulho nesses empreendimentos.

O Superman não é apenas mais forte. Em Grandes Astros Superman, é ele retratado como sendo mais inteligente e possuindo tecnologia superior do que Luthor.

Todas as disciplinas empíricas são antrópicas por necessidade. Não temos o benefício de poder perguntar a uma lula ou a um cacto o que eles acham que a vida significa. Por isso o modelo geocêntrico do universo era tão popular.

A narrativa do significado dos seres humanos no universo é baseada na ignorância. Portanto, a existência de um grupo de seres que não são apenas semelhantes a nós, mas também superiores, seria terrivelmente chocante, uma vez que subverte nossa confiança intelectual.

Superman é um homem que Luthor não pode superar, e, portanto, ele deve destituí-lo. Isso explica a afetação de Luthor pelo "humanismo" em suas encarnações recentes.

Filosofias democráticas como o humanismo geralmente têm a nefasta base da síndrome de papoula alta mencionada: se todos são iguais, ninguém pode ser superior. As pessoas naturalmente querem ser superiores a alguém. Sem superioridade, teríamos muito pouco a lutar.

Acontece que sempre haverá alguém com uma superioridade inerente que não pode ser correspondida por nenhuma quantidade de esforço. Lembre-se, Lex Luthor ainda quer poder para si, apesar de suas afetações ao humanismo. Ele justifica sua própria sede de poder por determinação "humana", em oposição aos presentes "alienígenas" do Superman.


Enquanto Lex pensa que Superman é o fim do orgulho humano, eu diria que ele faz exatamente o oposto. Veja sua origem: um simples garoto da fazenda que, por acaso, levanta tratores, descobre que não é humano. Ele é realmente o último sobrevivente de uma raça alienígena hiper avançada.

Ele se torna um atleta profissional e ganha milhões?

Não.

Ele derruba o governo e se declara governante do planeta?

Não.

Ele nem mesmo se tornou um lutador profissional.


Ele coloca uma capa e se torna um super-herói, sem recompensa necessária.

Clark não precisou sofrer uma tragédia horrível (como o Batman ou o Homem-Aranha) ou receber um código de uma vocação superior (como a Mulher Maravilha ou o Lanterna Verde) para se tornar um super-herói. Tudo o que ele precisou foram os bons costumes antigos da sua cidade natal.

Os pais de Superman ensinaram-lhe alguns princípios básicos: cuide de sua família e vizinhos, não faça o mal, seja responsável. Essas são todas as coisas que provavelmente já ouvimos em algum momento de nossas vidas e aplicamos.


Clark levou essas ideias a sério. Quando adulto, ele sentiu que estes mesmos valores eram verdadeiros no nível macro, e por isso levou o universo sob sua proteção. O heroísmo dele é uma versão ampliada da maioria das pessoas. Provavelmente é por isso que a maioria das iterações atuais do personagem enfatiza o quão "comum" o Superman realmente é.

Embora ele possa ter a grandeza de um super-herói, ele é apenas um garoto otimista em seu coração. A maioria das obras que tentam desconstruir o Superman parecem sugerir que seu heroísmo vem de um provincialismo autoritário, especialmente The Dark Knight Returns, onde ele é retratado como um arrogante a serviço do governo estadunidense.

O fato é que Clark nunca pensou em si mesmo de maneiras tão sublimes. Ele é apenas um cara honesto, tentando ao máximo usar suas habilidades para o bem da humanidade.

Para todos os efeitos, ele é humano, e é isso que o torna Superman. Se essa moral de cidade pequena do interior pode inspirá-lo a ser o maior herói do mundo, isso valida os humanos que a mantêm.


O Superman vê através da fachada humanista de Luthor. Se ele quisesse melhorar a humanidade, isso poderia ter sido realizado facilmente, dado seus meios.

Em Grandes Astros Superman, quando Luthor está confiante de que a sua maquinação para morte de Superman foi bem sucedida. Apesar de saber que vai morrer em breve, o que mais irrita o Superman não é o que seu inimigo fez com ele, mas o fato de que Lex Luthor desperdiçou o seu potencial em uma disputa de rancor sem sentido.

Luthor não vai seguir seus objetivos "humanistas" depois de derrotar o Superman, revelando que sua cruzada é uma busca egoísta.

Em contraste, o Superman não vê a humanidade como algo a ser conquistado, ele realmente reconhece a força de vontade e a capacidade que Lex Luthor tem e fica frustrado por seu rival não ser capaz de enxergar a semelhança que compartilham.


O que faz do Superman o maior herói do mundo, pelo menos segundo ele, é que ele vê o melhor da humanidade.

“É uma dicotomia notável. De muitas maneiras, Clark é o mais humano de todos nós. Então... ele atira fogo dos céus e é difícil não pensar ele como um deus. E como somos todos afortunados por isso não lhe ocorrer". (Batman)

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