segunda-feira, 30 de novembro de 2020

POR QUE X-MEN THE ANIMATED SERIES AINDA É A MELHOR ANIMAÇÃO FEITA PARA A FRANQUIA?

X-Men the Animated Series foi uma animação diferente de quase todas as demais de sua época, os já longínquos anos 1990. Isto ajudou a revigorar os desenhos animados das manhãs da Rede Globo e também acendeu a rivalidade entre as produções americanas e japonesas, sendo estas transmitidas especialmente através da finada Rede Manchete, onde se destacavam Os Cavaleiros do Zodíaco e inúmeros tokusatsus exibidos na época, como Cybercops.

Mas o que fez esta versão dos X-Men se destacar? 

Principalmente, os seus personagens que contavam com uma profundidade ainda notável. 

Os mutantes poderosos integrantes do elenco tinham suas próprias histórias, lutas contra o preconceito e a intolerância e até mesmo debates políticos. 

Os seus enredos eram densos e com continuidade de episódios semelhante ao estilo já consagrado pelas produções japonesas, os animês. Além disso, havia também capítulos retirados diretamente das páginas dos quadrinhos clássicos dos X-Men para o deleito dos leitores mais antigos do grupo de super-heróis.

Não era necessário ser um leitor assíduo das HQ's para ser cativado pelo seriado. O nível da narrativa era muito atraente para os fãs dos mutantes da Marvel Comics e conquistava os espectadores mais jovens.

Muitos daqueles que hoje se consideram fãs dos X-Men tiveram o seu primeiro contato com os personagens graças a esta animação. Muitos dos personagens presentes desenho foram apresentados a mim desta maneira. 

A equipe do programa lutou contra os produtores que tentavam demolir seus orçamentos, a ridícula integração de merchandising, bem como o problema de ter seus escritores na Califórnia, dubladores no Canadá e animadores na Coreia do Sul, mas a série superou todas as expectativas. 

Listados a seguir estão os principais temas explorados pela série e que tanto contribuíram para conquistar o público não casual de quadrinhos e que poderiam colaborar para a produção de obras similares. 



Um programa sobre exclusão social

Minorias e desprivilegiados sociais há muito se veem nos X-Men, e a Fox estava muito consciente disso, o que resultou na introdução de Bishop, um dos personagens convidados mais memoráveis ​​da animação. 

Curiosamente, Bishop era ainda um personagem desconhecido para os leitores brasileiros das HQ's e, por isso, a nossa dublagem cometeu o erro de traduzir o nome do personagem para "Bispo", como se este fosse uma espécie de codinome, quando na verdade era o próprio nome do personagem (Lucas Bishop).

O racismo é representado metaforicamente na animação, assim como é originalmente feito em sua versão impressa, e o seu enfrentamento é uma constante durante toda a série. 

O seriado também apresenta personagens femininas muito poderosas como Tempestade, Vampira e  Jean Grey e pode ser considerado progressivo mesmo para os nossos padrões atuais por uma série de sub-textos e teorias elaboradas por certos fãs sobre personagens como Mística e Morfo.



Política mutante

Pode parecer inteligente manter a política longe dos desenhos animados destinados para um público corrente do sábado pela manhã, mas não há como eliminar completamente a natureza política dos X-Men. 

O senador Robert Kelly, que declara suas intenções de concorrer à presidência dos EUA,  foi um dos principais antagonistas da série nos seus primeiros episódios e as suas políticas são fortemente antimutantes. 

O Professor X tem um papel de destaque ao se encontrar com políticos e até viaja a Washington, para falar em nome de mutantes de todo mundo. 

A política russa surge em um episódio onde o passado do X-Man Colossus, quando ele vivia em uma fazenda comunitária na Sibéria ao norte de URSS é explorado e também há a presença do vilão mutante Omega Red, transformado em uma arma biológica de guerra e agora determinado a derrubar o governo atual daquela nação. 

O governo canadense também é explorado em um episódio muito marcante, no qual é exposto parte do passado de Wolverine, destacando a introdução da Tropa Alfa imbuída de um caráter multicultural de personagens de um mesmo país, o Canadá, seguindo todas as tendências político-culturais da época. A presença de imigrantes de mais de uma centena de grupos linguísticos e culturas foi muito tardiamente reconhecida como determinante para a composição da identidade canadense.

X-Men também explora a política intramutante, com grupos de mutantes cuja aparência era um fator de impedimento para o convívio social, os Morlocks, nome diretamente retirado do livro A Máquina do Tempo de H. G. Wells e correspondente aos seres humanoides residentes nos subterrâneos do século VIIIXXVIII presentes na obra.

Estes mutantes se reuniam nos esgotos para viverem em conjunto, formando verdadeiros guetos marginalizados, onde se escondiam dos seres humanos por medo das reações que sua aparência poderia incitar, de maneira similar a certos guetos e bairros pobres onde, marginalizados pelos brancos da sociedade norte-americana, muitos negros carentes se reuniam para viver, nas periferias das metrópoles. Os Morlocks são também uma clara referência aos movimentos punk e a contracultura.

No final da série, aprendemos mais sobre a Lei de Contenção de Mutantes, o que nos remete aos episódios que abordam a saga Dias de um Futuro Esquecido, mostrando uma linha temporal sombria onde este lei rege uma distopia antimutante.



Representações superiores para os personagens

Vampira é um das personagens mais sedutoras de toda a série, além de ser uma das mais paqueradoras, ao lado de personagens como Gambit e Wolverine, é claro. E ela lida com o fato de que não pode tocar em ninguém, devido a sua mutação, com suas características falas de flerte como quando viu Colossus pela primeira vez. 

É uma pena que a personagem tenha mudado tanto desde, acredito, a sua representação no filme X-Men (2000). A partir de então, tornou-se natural a sua representação como uma garota triste e deprimida por sua condição, precisando isolar-se e evitar contato físico pelo seu toque quase mortal.

Essa se tornou a tendência reconhecida para a representação da personagem, meio emo, em X-Men Evolution, a qual muitos amam.

É preciso reconhecer ser muito mais crível e perfeitamente compreensível que uma garota com os hormônios à flor da pele e incapaz de se apaixonar e fazer contato físico possa mesmo se transformar em algum tipo de aberração social. Mas não seria a forma como a personagem originalmente enfrentava o seu próprio estado de "deficiência" que a tornava uma super-heroína?


Anos 1990 X Anos 2000:
Punk X Emo

Quando a personagem foi introduzida em X-Men Animated Series, nas HQ's ainda não havia sido revelado nada sobre o seu passado obscuro, isto é, antes dela se tornar a protegida de Mística. Mas, a animação retratou a sua vida anterior, explorando com mais detalhes parte daquilo que os leitores já conheciam da Vampira, uma típica garota sulista e criada na congregação batista do sul. 

O pai da moça, no desenho animado, era um típico caipira fundamentalista cristão, exibindo uma barba e uma barriga de respeito e um boné com a bandeira dos Confederados, e ele expulsa de casa após descobrir ser a sua filha um "mutante cria de Satanás".

Nos quadrinhos, talvez para se diferenciar da animação ou talvez para evitar o estereótipo ambulante descrito acima sobre caipiras do sul dos EUA, Vampira foi retratada tendo nascido em um lar amoroso e que a aceitava.

Sinceramente, gostava mais do seu passado apresentado no desenho animado, uma vez que ele aumentava ainda mais a carga dramática e os questionamentos acerca de si mesma para a heroína.

Vampira foi uma das melhores personagens de X-Men Animated Series e a inspiração e a paixão de muitos. 

Teorizo que a moça foi a inspiração para a personagem Bunnie Rabbot de Sonic SATAM.

Por quê?

Bom... Ambas têm um passado traumático.

Ambas são paqueradoras.

Ambas têm um sotaque caipira sulista suprimido na dublagem brasileira.

São chegadas em um francês.

E as duas têm notáveis a-

-atributos.


... atributos!

O astro Logan Howlett, o Wolverine, também estava em seus melhores dias. 

O passado secreto do personagem poderia muito bem continuar secreto, uma vez que em nada me agradou quando da sua revelação nas HQ's (Wolverine Origins).

A saturação atual da imagem do carcaju tem como um dos culpados, ironicamente, o maior responsável pela popularização do personagem, elevando-o ao mesmo nível de um Superman ou um Batman. 

Estou me referindo ao ator Hugh Jackman que é incontestavelmente excelente e dificílima será a sua agora necessária substituição, mas a sua atuação levou Wolverine a uma exposição excessiva e também transformou muito do seu conceito original.

Amado por poucos, odiado por muito, Ciclope tem a sua versão definitiva nesta animação da década de 1990, muito antes das HQ's o terem transformado uma espécie de terrorista estilo Magneto ou os filmes fazerem dele um líder sem muita liderança e utilidade.



Citações literárias

Embora Fera passe a maior parte da primeira temporada na prisão, ele teve na verdade sorte de estar lá, já que quase não foi incluído na animação. O personagem tornou-se uma parte da série importante a partir de sua segunda temporada. 

Vemos o grande cérebro de Hank McCoy em ação o tempo todo e nos impressionamos com suas muitas reflexões, respostas filosóficas e declarações intelectuais excessivamente prolixas. 

Os telespectadores mais jovens na época (como eu era) provavelmente ficavam confusos com esse gênio de pelo azul, como quando, no primeiro episódio da série, discute o Nome de guerra com um colega de equipe, enquanto muitos adultos riam disso. 

Fera é frequentemente visto lendo, especialmente quando na prisão e ele cita prontamente as obras de Shakespeare, Lord Tennyson e John Donne.

E McCoy não é a único a implantar referências que as crianças não vão entender. 

Morfo consegue algumas falas roubadas de Robert Frost, enquanto Wolverine cita Dirty Harry e The Shining com um efeito assustador. 

Há o grande número de termos científicos usados ​​ao longo da série, como quando a equipe aprende sobre deslocamento temporal e o Darwinismo

Ninguém pode acusar os X-Men de não serem educativos.



Escravidão, intolerância e prisão

A escravidão infesta algumas das partes mais sombrias da história humana e retratá-la, mesmo em um desenho animado de sábado de manhã, pode deixar uma boa impressão. 

No episódio "Ilha dos Escravos", vários membros dos X-Men enviados para investigar o local de férias tropical e a utopia mutante conhecida como Genosha, mas tudo sobre a ilha não passa de uma mentira. 

Os heróis logo são capturados e jogados em celas com outros mutantes, que são mantidos vivos para serem usados ​​como trabalho escravo. Cada um deles é forçado a usar uma coleira que amortece seus poderes, exceto quando estes são necessários para o trabalho manual. É brutal, mas faz sentido que se os mutantes fossem reais, eles não seriam apenas explorados, mas também escravizados.

Outras formas de fanatismo extremo são exploradas na série. 

Tempestade e outros X-Men ajudam a libertar um grupo de escravos alienígenas que são controlados por braçadeiras. 

Quando a série explora o passado de Magneto, o Holocausto é mencionado. Este anti-vilão mutante é um judeu polonês sobrevivente do campo de concentração de Auschwtiz.

Mutantes são capturados e presos (especialmente naqueles episódios que exploram o futuro), e o senador Kelly até fala sobre colocá-los em campos de internação antes de ser salvo pelos X-Men e se tornar um aliado. 

Os mutantes sempre parecem estar a um passo de serem banidos, segregados ou perderem todos os seus direitos.



O fanatismo tem rosto

Os X-Men lidam com ódio e perseguição constantemente, este é um tema explorado na maioria de seus quadrinhos, e o desenho o faz de forma excelente. 

Mutantes são odiados, caçados e atacados e seus inimigos humanos mais ativos logo recebem um nome: Os Amigos da Humanidade. 

Não é difícil ver que esse coletivo se destina a espelhar os grupos neonazistas modernos, em seu simbolismo, manifestações e mentalidade.

O melhor exemplo disso está no episódio "A Bela e a Fera", quando Fera e um colega desenvolveram um tratamento para restaurar a visão de uma jovem, mas o pai dela odeia o gênio mutante e o quer longe de sua filha. 

É uma história comovente, já que Fera está apaixonada pela jovem, que mais tarde é sequestrada pelo supracitado grupo de ódio. É também aquele episódio em que as crianças aprendem a palavra "intolerante" e recebem um exemplo claro do que é a intolerância. 


Uma das cenas mais fortes da animação:
Graydon Creed enlouquece após a revelação do rosto do seu
pai biológico, o mutante Dentes de Sabre, diante de toda a
plateia de seus seguidores fanatizados.

O episódio termina com a revelação de que o líder dos Amigos da Humanidade, Graydon Creed, odeia mutantes porque seu pai e sua mãe são notórias figuras mutantes, Dentes de Sabre e Mística. Assim, Creed leva seu ódio a um nível totalmente novo quando tenta erradicar toda a sua família mutante em um episódio posterior.



A AIDS e o vírus Legado

A epidemia do vírus da imunodeficiência humana foi uma parte importante dos anos 1980 e 1990, o que levou à estigmatização dos homossexuais. Como os X-Men costumam ser vistos como um reflexo da totalidade dos grupos marginalizados, não é surpresa que um arco sobre um vírus que se destaca em matar mutantes tenha feito algumas comparações com a AIDS. 

Concedido, o enredo do Vírus Legado é um pouco complicado, com viagens no tempo e toda a trama do vilão Apocalipse, mas ainda existem alguns momentos pungentes e a comparação se mantém.

Esse vírus fabricado é usado para falsamente enquadrar mutantes e gerar mais ódio contra eles. 

Antimutantes fanáticos afirmam que os mutantes infectam humanos com a doença. 

Graydon Creed acidentalmente se infecta e culpa Bishop, que estava tentando impedi-lo de injetar o vírus em outra pessoa. 

No futuro que Bishop está tentando impedir, muitos mutantes são mostrados sendo trancados em quarentena por medo da sociedade e muitos também morrem com o vírus Legado. 

É tudo parte do esquema maligno de Apocalipse, planejado em um futuro distante. 

Embora os X-Men eventualmente salvem o dia, a imagem de mutantes estigmatizados e sofrendo perdura.



Perda e morte

Ser um membro dos X-Men não é fácil. Os espectadores são expostos a isso logo no início do primeiro arco da história, quando se acredita que Morfo foi morto e mais tarde, o enredo de "Fênix Negra" desfere um golpe devastador nos X-Men com a morte (temporária) de Jean Grey. 

Há também o final da série, no qual a equipe lida com a perda de Charles Xavier, que por pouco evita a morte, mas se perde de sua família mutante, talvez para sempre.

A série também explora vários mundos alternativos, que forçam os espectadores a enfrentar a morte de personagens queridos. 

Os episódios "Dias de um Futuro Esquecido" mostram Wolverine no futuro, condenado a passar pelos túmulos de todos os seus amigos mortos. 

Outro mundo apresenta Wolverine e Tempestade casados e sendo recrutados para ajudar a consertar o tempo novamente. Tragicamente, fazer isso significa que suas vidas e seu amor serão apagados. As lágrimas que derramam quando percebem que tiveram sucesso são profundamente tristes, embora possamos ver pela interação dos dois na linha do tempo correta, que algo ainda pode acontecer. 

O exemplo mais singular de perda no desenho ocorre quando a mansão X é destruída. 

Wolverine relembra em voz alta como aquela foi uma das poucas casas que ele conheceu e ver alguém tão estoico lamentando por um prédio é um momento emocionante.



As relações dos personagens

Os X-Men têm muita história. 

O drama do relacionamento é constante: triângulos amorosos clássicos proliferam, mais proeminentemente entre Ciclope, Jean Grey e Wolverine, assim como o amor não correspondido e até divórcio. 

Vários mutantes são rejeitados por seus próprios pais. 

Os episódios de "Proteus" revelam que um dos mutantes mais poderosos do mundo quer apenas a aceitação de seu pai. 

O ciúme é um sentimento muito presente, como quando Ciclope protege Cristal, enfurecendo Jean, então possuída pela Fênix. Acrescente a isto vários casamentos interrompidos, anúncios surpresas de paternidade, bem como alguns metamorfos, e as coisas ficam realmente loucas como quando Morfo fingindo ser o sacerdote de Scott e Jean para garantir a ilegitimidade de seu casamento, este é talvez o auge do drama.

Esses momentos ultra-emocionais são também por fazerem os personagens se sentirem muito humanos. Os escritores da série queriam mostrar o seu elenco lutando contra seus próprios demônios internos, bem como seus inimigos físicos, o que acabou contribuindo para uma boa e profunda narrativa. 

Como não há muita mídia para crianças que discuta coisas como morte, divórcio e como lidar com emoções fortes, o X-Men foi totalmente útil para os pequenos em busca de orientação. 

O programa sabe que crianças não são estúpidas, mesmo que não entendam todos os detalhes como seus pais. A incorporação de tantos elementos dramáticos torna o programa muito importante.



Os Mutantes e a fé

A religião faz parte dos X-Men. 

Existem religiões fictícias, como aqueles que adoram Garokk nas Terras Selvagens, além disso, a própria Tempestade por vezes é chamada de deusa. 

O cristianismo também está presente no programa, explorado em episódios que discutem a evolução dos mutantes e em episódios abordando o personagem Noturno, cujo catolicismo é grande parte de seu personagem.

Noturno tem uma aparência demoníaca e perturbadora, com pele azul, olhos amarelos, presas, extremidades de formato estranho, orelhas pontudas e uma cauda. Ele até cheira a enxofre ao usar seus poderes de teletransporte. 

Não é nenhuma surpresa, então, que uma turba de fanáticos religiosos venha destruir Noturno, insistindo que Deus está com eles em sua missão. Tal cena, quase retirada integralmente da primeira da hq que marcou a primeira aparição de Noturno nas histórias dos X-Men, também referencia o nazismo e o medo do diferente, uma vez que a nação natal do personagem é a própria Alemanha.

O episódio de estreia do personagem explora os temas ter fé, perdê-la e renovar o relacionamento com o divino, além de levantar a questão de por que Deus criou mutantes em primeiro lugar. 

Em um momento inesperado no final, Noturno dá a Wolverine uma Bíblia, com várias passagens marcadas. O episódio termina com uma cena do mutante canadense lendo passagens em voz alta em uma igreja. 

Isso é particularmente impressionante, dado o cinismo de Wolverine, mas a bondade de Noturno o alcançou. O sósia do demônio fala frequentemente sobre perdão e compaixão, mesmo por aqueles em sua família que fizeram coisas horríveis com ele. Ele sempre tenta viver pela mensagem em que acredita e X-Men está interessado em explorar o que isso significa, com uma profundidade que apenas adultos realmente entendem.

Nada contra o estilo X-Men Evolution, que também é muito bom e marcante, mas Vampira e Noturno estavam muito melhor representados e condizentes com suas versões originais das HQ's em X-Men Animated Series, com Noturno protagonizando dois dos seus melhores episódios. 

Nas HQ's da equipe mutante, a "culpa católica" de Kurt Wagner gerava alguns das histórias mais profundas e filosóficas para o mutante dividido entre a igreja, o mundo dos espetáculos circenses e carreira de super-herói.

A religião era aparentemente melhor vista dentro do mundo do entretenimento na época em que esta animação foi produzida e, embora não diminua a qualidade deste excelente episódio, à atual plateia que venha a assisti-lo sob sua própria ótica pode parecer meio forçada a "conversão relâmpago" do "ateu" Wolverine, aparecendo este inclusive no final do mesmo episódio rezando de joelhos dentro de uma igreja. 

Logan é agora considerado oficialmente um personagem católico (não muito "ortodoxo", verdade) convertido pelo próprio Noturno. 

"Estão vendo só crianças? O Wolverine é durão, mas, dentro de um igreja, mesmo os joelhos dele se dobram." Não seriam estas as prováveis palavras de uma mãe, tia ou avô religiosa aos pequenos que atualmente assistissem o episódio?

Já imaginaram como seria o momento da confissão dos pecados de Wolverine ao quase padre Noturno?


"Quer confessar os seus pecados, mein freund?"

"Padre, confesso que pequei. Matei 67 ninjas e desmembrei outros 26. Além disso, desejo sexualmente a esposa morta-viva de Scott Summers e dormi com a Miss Marvel mais de uma vez... Ah. Matar um exército Skrull conta como pecado, se eles são alienígenas?" 

Mais ou menos assim.

Contudo, um ótimo capítulo a explorar temas tão pouco mencionados neste meio ao retratar as pessoas que usam a religião para o bem (Noturno e os demais monges do convento) em confronto com aquelas que a usam para o mal (o Irmão Reinhart e os moradores da aldeia). 



A violência é onipresente

X-Men está cheio de violência, embora como é o caso de muitos desenhos animados americanos do seu tempo, poucos chutes e socos podem realmente acertar para que as coisas não sangrem. 

A inclusão dos Sentinelas e outros robôs como antagonistas primários ajudou tremendamente com esse dilema, uma dádiva para a violência simulada. 

Rasgar partes cibernéticas de um humano, como aconteceu com Donald Pierce durante a luta com o Clube do Inferno, também é permitido. 

Essas soluções alternativas permitiam que os fãs vessem Wolverine e os outros decapitarem, desmembrarem e eviscerarem seus inimigos, usando seus poderes ao máximo.

A violência também está presente na quantidade de brigas que os X-Men travam entre si. 

Pode ser um pouco estranho ver esses supostos companheiros de equipe constantemente lutando uns contra os outros, usando seus poderes, mas é o X-Men. 

Muitos personagens também se esforçam para ferir inocentes ou são obcecados por serem cruéis, como Dentes de Sabre. 

Magneto jura vingança contra a humanidade, Cable passa sua vida tentando destruir uma pessoa e Arcanjo dedica sua riqueza para rastrear e destruir Apocalipse em um episódio. 

A violência está enraizada na vida desses personagens e na própria animação.



Dia de Formatura:
O episódio mais emocionante da série!

Como pode ser facilmente perceptível à primeira vista, a série animada pode parecer um pouco desatualizada, uma vez que o seu estilo de animação ficou um pouco ultrapassado, mas as histórias valem todo o investimento, superando muitas animações atuais que buscam transmitir mensagens similares. 

X-Men Animated Series nunca parece um anúncio de serviço público embrulhado em um desenho animado e, na verdade, lida perfeitamente bem com questões moralmente ambíguas através das lentes de personagens que nem sempre concordam.

Podem haver momentos em que as coisas ficam mais lentas e uma queda considerável da qualidade nas últimas temporadas, mas na maior parte, esta série não tem medo de entrar em territórios até então desconhecidos ou mesmo proibidos para uma animação projetada para ocupar a grade horário do sábado pela manhã e, certamente, foi inspiradora para diversas outras produções que surgiriam posteriormente.

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