sábado, 21 de novembro de 2015

GOKU E SUPERMAN: DESCONSTRUINDO MITOS


Há uma divergência entre a ficção oriental e a ocidental na era moderna escondida sob as barreiras culturais. Nós todos gostamos de ser vencedores, nunca perdedores, e a fantasia se funde a realidade resultando em cenários ideológicos. 
Existem grandes diferenças entre a fantasia do Oriente e a do Ocidente, e nada poderia sugerir que sua dicotomia é intencional, mas o subproduto da história, guerra e colonialismo.
Quadrinhos de super-heróis na Era de Bronze e início da Era de Prata demonstraram a sua paixão pela ciência, com personagens de enorme força e coragem que se beneficiaram das maravilhas do engenho e progresso norte-americano. 


A Marvel Comics em particular defendia a superioridade da radiação gama, a terapia gênica, mutagênicos e a evolução através da seleção natural das espécies. Quadrinhos de super-heróis desta variedade são contos sobre moralidade e ficção científica com a intenção de entreter, mas que também provocam admiração. Os X-Men eram heróis na clandestinidade, perseguidos pelos próprios a quem juraram proteger, e o Capitão América era um homem em desacordo com a deterioração contínua do mundo em torno dele, uma relíquia de uma era esquecida de supremacia moral e de solidariedade. Suas habilidades levantam discussões sobre o que significa ser humano, os limites da evolução humana, e o tratamento ético dado às comunidades marginais durante a Guerra Fria, em que a conformidade foi subliminarmente imposta sob a ameaça de ser "anti-americano".


O super-herói sempre foi uma ideia conservadora. Ele é um cidadão que luta pelo bem comum, nunca por privilégios particulares, defende a propriedade privada, empunha as suas próprias armas, e ainda mantém a sua identidade secreta.
Mas super-heróis nos ensinam sobre moralidade, não política!

Desde a Segunda Guerra Mundial, a relação entre ficção científica e fantasia tem sido marcadamente diferente. Na esteira de Hiroshima e Nagasaki, milhões foram afetados negativamente pelo maior avanço na história da humanidade: o aproveitamento do átomo. A partir das cinzas da guerra nuclear nasceu Godzilla, o monstro cartaz do cinema japonês, um pária e uma força imparável aterrorizando o Japão como resultado da radiação que o criou. 
Ao contrário dos EUA, o Japão não tem super-heróis como as gigantes DC e Marvel, ou uma cultura de quadrinhos defendendo seu heroísmo. Em vez disso, o mangá foi desenvolvido em conjunto com a ocupação do pós-guerra e enraizado nas tradições etnocêntricas, além dos momentos ocasionais de sincretismo com a cultura pop ocidental. 


Mas, enquanto quadrinhos norte-americanos criaram o Superman, o arquétipo primordial para todos os super-heróis, não havia nenhuma figura tão unificadora em quadrinhos japoneses até que Akira Toriyama criou Son Goku, o principal protagonista de Dragon Ball e Dragon Ball Z.

Há uma marcada diferença na concepção de um super-herói da DC e da Marvel. Enquanto a Marvel tem uma narrativa mais científica, a DC buscou maiores inspirações nos mitos clássicos.
O super-herói americano clássico tem uma grande influência do mito do messias judaico. Os criadores dos quadrinhos da Era de Ouro eram essencialmente judeus imigrantes ou filhos de judeus. Os super-heróis foram criados no final da década de 1930, e muitos defendem que o seu surgimento está diretamente relacionado a subida dos nazistas ao poder na Alemanha. O anti-semitismo tornou-se uma ameaça real e os judeus ansiavam por um salvador.
Praticamente todos os povos do mundo tem mitos relacionados a um messias, um homem forte que já esteve entre nós, ou que ainda virá, ou que poderá retornar para proteger e salvar o seu povo. Estas questões fazem parte dos anseios inconscientes dos povos de diversas culturas.

Jerry Siegel e Joe Shuster
O Superman foi criado por Joe Shuster e Jerry Siegel, ambos filhos de imigrantes judeus. O seu super-herói representava perfeitamente os anseios do povo judeu em meio a Segunda Guerra Mundial, o Superman é como Moisés, trajando um manto vermelho e surgindo para guiar o seu povo para uma era de paz e liberdade.
Além disso, o Superman é um alienígena vivendo em meio aos terráqueos. Este também representava o sentimento dos judeus imigrantes, necessitados de se adaptaram a uma cultura tão distinta quanto a norte-americana.


A origem do Superman foi um processo longo e demorado. Jerry Siegel era um fã de ficção científica, e inspirou-se também no homem do futuro idealizado por Friedrich Nietzsche, o Ubermensch, que é variadamente traduzido como "super-homem". Este Ubermensch transcenderia os valores cristãos para criar a sua própria moralidade. Siegel escreveu a história The Reign of the Superman que contava como este "Super-homem" empenhava-se na dominação do mundo. Seu amigo Joe Shuster ilustrou a história.

Ao longo dos próximos cinco anos, Siegel e Shuster retrabalharam o Superman transformando-o em um herói. Além das figuras bíblicas como Moisés e Sansão, os jovens buscaram inspiração nas mitologias mais clássicas como Hércules, e em personagens fictícios como Doc Savage e Buck Rogers.

Harold Lloyd
Como cinéfilos ávidos, Siegel e Shuster fizeram o Superman ter a fisionomia do ator Douglas Fairbanks. Seu alter ego Clark Kent foi modelado a partir de Harold Lloyd.
O astro do cinema Harold Lloyd fez a sua carreira mesclando um olhar enganosamente manso com força e capacidade atléticas invejáveis.

Quando falamos sobre Clark Kent, é impossível não lembrar do impressionante monólogo do personagem do cinema Bill, magistralmente interpretado por David Carradine em Kill Bill.
Embora sua presença não seja muito grande no Vol. 1 de Kill Bill, no Vol. 2 Tarantino nos presenteia com os longos monólogos de Bill sobre a vida, a morte e o Superman, tocados com quantidades apropriadas de violência e emoção:


“Todo mito de super-herói tem o herói e seu alter ego. Batman é Bruce Wayne. O Homem-Aranha é Peter Parker, quando acorda pela manhã, ele é Peter Parker. Ele precisa por um uniforme pra virar o Homem-Aranha.

E nesse quesito o Super-Homem se diferencia dos demais. O Super-Homem não virou Super-Homem, ele nasceu o Super-Homem. Quando ele acorda de manhã, ele é o Super-Homem. O alter ego dele é o Clark Kent. Seu uniforme, com o “S” vermelho é o cobertor no qual os Kent enrolaram o bebê quando o acharam, é a roupa dele. O que Kent usa, os óculos, o terno, é um disfarce que o Super-Homem usa para se passar por um de nós. Clark Kent é como o Super-Homem nos vê. E quais são as características de Clark Kent? Ele é fraco, é inseguro e covarde. Clark Kent é uma crítica do Super-Homem à toda raça humana.”

Bill (David Carradine) - Kill Bill Vol. 2


Akira Toriyama
Para a criação de Son Goku, o mangaká Akira Toriyama buscou inspiração nas mitologias mais populares ao povo asiático.
Son Goku é basicamente como os personagens Sun Wukong e o Santo Louco do conto chinês Jornada ao Oeste, conhecido no Japão como Saiyuki. Do primeiro, Son Goku tem a sua maior inspiração, ele é um homem-macaco, voa em uma Nuvem Dourada e porta um bastão mágico; e do segundo herdou parte da sua personalidade, um pacifista que vê todas as vidas como valiosas, independente do caráter das pessoas, acreditando estar, assim como todos os povos viventes do universo, sendo guiado por forças superiores.

Sun Wukong/Son Goku
Jornada ao Oeste é uma obra representativa de todo um povo com o envolvimento de diversos criadores, como o romancista e poeta Wu Cheng'en, durante a Dinastia Ming. A este respeito, pode ser comparado com a Ilíada e a Odisseia, épico grego tradicionalmente atribuído a Homero.

Este trabalho não consiste apenas em ficção com fundo mitológico e religioso sobre uma importante peregrinação de um monge budista a Índia, impulsionado pela busca dos textos budistas originais escritos em sânscrito e criados em várias adaptações. Mas os seus primeiros capítulos cobrem o nascimento do macaco travesso, os seus esforços para alcançar a imortalidade, suas travessuras no Céu, seu confronto com o exército celestial, e sua derrota miserável frente ao poder de Buddha, que termina por confina-lo na Montanha das Cinco Fases por vários séculos. Até que encontra uma chance de redenção auxiliando o monge Genzo Sanzo em sua missão espiritual.

As artes marciais estão muito presentes na concepção do protagonista de Dragon Ball.
Goku vive literalmente em função das lutas, ele busca sempre se aperfeiçoar e aumentar o seu poder, as artes marciais são o seu caminho para a iluminação.
O cinema chinês de artes marciais clássico foi a inspiração definitiva para Akira Toriyama criar Dragon Ball. Todo este universo presente em Dragon Ball deve a sua existência a genialidade de Bruce Lee.

Bruce Lee, Enter the Dragon
Considerado o maior artista marcial de todos os tempos e reverenciado por milhares de fãs no mundo inteiro, Bruce Lee revolucionou os filmes do gênero artes marciais. Akira Toriyama pegou emprestadas várias ideias dos filmes de Lee para homenagear o seu artista marcial favorito.
Toriyama também é um grande cinéfilo. E isto é facilmente perceptível principalmente em Dragon Ball, em sua primeira fase, onde as cenas de luta são muito bem detalhadas, seguindo um estilo quase cinematográfico.


Operação Dragão (Enter the Dragon) é um filme fantástico, lançado três semanas após a morte de Bruce Lee, e tornou-se uma referência para os filmes que viriam, e foi provavelmente a maior influência do mangá Shonen mais famoso do mundo.
Este foi o que introduziu ao ocidente a ideia de um torneio de luta com combates reais entre os melhores lutadores do mundo. Depois dele vários filmes seguiram a ideia. Esta foi a inspiração definitiva para Dragon Ball e o seu Tenkaichi Budoukai!

O Jogo da Morte (Game of Death) foi o filme de Bruce Lee que inspirou a luta de Goku na Torre dos Músculos durante a saga Red Ribbon. No filme de Lee, a Torre dos Músculos é uma construção de cinco andares, com a presença de um lutador em cada andar, sendo que no último encontraria o chefe lutador final.

Sargento Metálico X Exterminador do Futuro (Arnold Schwarzenegger)
Em Dragon Ball há diversas referências ao dito cinema brucutu ocidental dos anos de 1980 e ao cinema chinês de artes marciais.
Tao Pai Pai, o famoso assassino de aluguel contratado pelo exército Red Ribbon, foi inspirado no personagem Betty, interpretado pelo ator Fei Lung, no filme Tiger and Crane Fist.
Ambos peritos em artes marciais, dotados de força sobre-humana e sem o mínimo de misericórdia. Na história do filme há uma rivalidade entre duas escolas de artes marciais, como o conflito entre o mestre Kame e o mestre Tsuru (irmão de Tao Pai Pai).
Betty mata o mestre da escola rival, e o herói (Lou Chen Hui) busca vingar-se por seu mestre. Ele perde a primeira luta, mas após muito treino consegue vencê-lo. Do mesmo modo que foi a luta de Goku contra Tao Pai Pai para vingar seu amigo, o índio Bora.

O estilo de luta predominante em Dragon Ball é o kung fu, e no decorrer da série os personagens desenvolvem um estilo próprio, lutando de maneira diferente de adversário para adversário, lembrando o Jeet Kune Do criado por Bruce Lee:


"Esvazie a sua mente... Não se prenda a formas ou modelos; seja como a água... Você coloca água em um copo, ela torna-se o copo, em uma garrafa e ela torna-se a garrafa.
A água pode fluir ou colidir... Seja a água, meu amigo!"

Bruce Lee

A filosofia de Bruce era de ser como a água e adaptar-se ao inimigo, sem ter um estilo definido.

Do cinema oriental de artes marciais, outro grande astro do gênero que definitivamente influenciou a obra de Akira Toriyama foi Jackie Chan. Muito da personalidade, do estilo das lutas e da irreverência dos filmes do "Homem que não precisa de dublês" estão presentes em Son Goku. 
The Drunken Master foi o filme favorito de Toriyama, e além disso Jackie Chan é diretamente homenageado com a identidade secreta do Mestre Mutenroshi, Jackie Chun.

Samaritano, Astro City
O Superman é um símbolo máximo da cultura pop do ocidente. Na própria mídia das histórias em quadrinhos encontramos diversos personagens que simplesmente não existiriam sem o Superman.
A rival da casa do Superman, a Marvel Comics, por exemplo criou diversos personagens inspirados no Homem de Aço, dentre os quais podemos citar: O Gladiador (guerreiro alienígena da raça dos Kree), Hyperion (alienígena com história de origem e poderes idênticos aos do Superman, e integrante do Esquadrão Supremo), Sentinela (Superman esquizofrênico com o poder de um milhão de sóis explodindo, e provavelmente o personagem mais poderoso da Marvel), e ainda Miracleman, Blue Marvel, dentre outros.
Dentro da própria DC Comics, temos o Shazam Capitão Marvel (um dos mais poderosos personagens da casa e muitas vezes relegado a um simples "Superman mágico"), Ícone, Mr. Majestic, Ajax, dentre outros.
E o meu "spin-off" preferido do Superman: O Samaritano de Astro City, publicado inicialmente na Image Comics em 1995. O Samaritano é um herói preocupado em salvar a tudo e a todos, mas que ainda cultiva os sonhos e os desejos de um homem comum.

Son Gohan, pai adotivo de Goku
A história de Goku seguiu um caminho diferente. Goku não foi criado para ser um Superman, ele tornou-se um.
Son Goku, que já nasceu de uma mitologia riquíssima, teria existido de qualquer forma. Podemos sugerir que Goku tornou-se um Superman por um "acidente", já que Akira Toriyama não tinha a intenção de criar Dragon Ball Z quando começou a trabalhar com o personagem.

Antes de Goku, um personagem japonês que poderia ser equiparado ao Superman seria o Astro Boy de Osamu Tezuka.
O Astro Boy é um garoto-robô construído pelo dr. Tenma para substituir o seu filho Tobio morto em um acidente, e assim como o Superman, possui super-força, a capacidade de voar, e jurou proteger o mundo que o acolheu, mesmo sentindo-se tão deslocado e isolado de tudo e de todos.

Jonathan e Martha Kent, pais adotivos do Superman
Como o Superman, Goku é amplamente reconhecido como uma figura da cultura pop no Japão, aparecendo em comerciais e programas de televisão, bem como é uma influência para artistas ao redor do mundo. Diversos protagonistas dos mangás do estilo Battle Shonen que surgiram depois dele emulam um pouco do estilo do saiyajin criado na Terra. 
Suas histórias de origem são quase idênticas. Superman e Goku são ambos os "únicos sobreviventes" da sua raça (isto é, até que eles descobrem antagonistas que também sobreviveram), e passam a viver entre os humanos na Terra.

A saga dos saiyajins, a primeira fase de Dragon Ball Z, parece ser inspirada pela clássica fase das histórias do Superman em que confronta o trio de criminosos kriptonianos fugitivos da Zona Fantasma. Também são três os saiyajins sobreviventes da destruição do planeta Vegeta.

Raditz é o primeiro saiyajin antagonista a chegar a Terra, ele é o irmão mais velho de Goku e revela a verdadeira origem do herói. Raditz aparece como a escuridão do passado surgindo para revelar os pecados de sua família, e no processo rapta Gohan, o filho de Goku, para forçá-lo a cumprir a missão para a qual fora designado desde seu nascimento: exterminar toda a raça humana. Raditz tem pouca complexidade além do retrato clássico de um vilão rosnando superioridade. Apesar de sua importância, Radtiz não chega a ser uma Faora, uma das mulheres mais mortíferas da DC.
Nappa, ocupando o posto do criminoso kriptoniano Quex-ul, é essencialmente o Golias da mitologia cristã. Ele é o responsável pela maior parte das mortes e sofrimentos quando da sua chegada a Terra junto de um dos personagens mais queridos da série, Vegeta.
O príncipe Vegeta, o General Zod de DBZ, é o anti-Goku e o antagonista principal da saga Saiyajin. Quando Goku é compassivo e alheio, Vegeta é frio, calculista e egoísta. Vegeta vê a fraqueza como a maior falha, até em si mesmo. Nascido da nobreza, teve todas as oportunidades para treinar e subir para a grandeza com plena consciência de seus poderes e suas origens. Vegeta é como Goku, na busca de atingir a perfeição marcial, e ele representa tudo o que Goku e Gohan poderiam ter sido - um grande príncipe do universo conquistando tudo para a glória e as riquezas.

Quando Dragon Ball Z chegou a América, a equipe que adaptou a sua versão para o inglês nos Estados Unidos ficou muito preocupada porque Son Goku poderia tornar-se uma má influência às crianças (?). Para os padrões dos norte-americanos, Son Goku não parecia um super-herói, mas um lutador violento e egoísta.
Qual seria a solução para o problema? Transformar Goku no Superman!
A versão norte-americana acrescentou elementos a mitologia de Goku, transformando por exemplo o seu pai Bardock em um respeitável cientista do mesmo modo que também é Jor-El, o pai do Superman.
E para complicar ainda mais, há o célebre momento em que Goku transforma-se em Super Saiyajin pela primeira vez, ao ter o seu melhor amigo Kuririn assassinado por Freeza.
Neste momento Goku diz uma frase simplesmente épica, mas que não combina em nada com a sua real personalidade:


"Você pode destruir planetas, mas nunca será capaz de destruir o que eu sou.
Eu sou a esperança do universo, eu sou a resposta para todas as coisas vivas que clamam por paz, eu sou o protetor dos inocentes, eu sou a luz em meio a escuridão...

Eu sou a verdade."

Son Goku

Na dublagem norte-americana, Goku declara a Freeza ser literalmente o deus de tudo o que há no universo!

Curioso também é que com o passar dos anos, foram acrescentados detalhes a história de Goku aproximando-o mais de sua contra-parte ocidental.
Conhecemos Gine a bela mãe de Goku, em uma história de Jako, o Patrulheiro das Galáxias, mangá de autoria de Akira Toriyama. E nesta história, Dragon Ball Minus, os próprios Bardock e Gine deixam o recém-nascido Goku em uma pequena nave espacial que o enviará em segurança a Terra.
O que era comum nos quadrinhos parece estar contaminando os mangás mais longos, a mudança drástica na origem de personagens.
Bardock em sua concepção original era um assassino frio, mas um guerreiro honrado e que respeitava profundamente seus companheiros, como todo o saiyajin deveria ser. Ele era atormentado por terríveis alucinações de visões futuras que revelavam o extermínio da sua raça, lutou até o fim das suas forças contra Freeza, e morreu orgulhoso do filho que nem chegou a conhecer, certo das façanhas notáveis que um dia ele realizaria.

Na tradição de sua concepção, Goku persegue princípios Zen de viver em relação com a natureza. Sua maior arma, a Genki Dama, é a combinação das forças vitais de todo o universo. Uma espécie de bomba quântica, a Genki Dama destrói apenas aquilo que é mal e representa o principal tema de Dragon Ball e Dragon Ball Z: a virtude sempre triunfa sobre a maldade. Também enfatiza as ações de Goku em harmonia com as pessoas da Terra, que prossegue a iluminação através das artes marciais. A transformação de Super Saiyajin representa o culminar de Goku ao atingir o Nirvana. 
O propósito de Superman na DC, por outro lado, é relegado a um arquétipo. Ele é o centro moral da DC. As pessoas determinam o que é certo e errado baseadas no personagem de Superman. A diferença cultural que se manifesta em Goku é a sua natureza ingênua em sempre escolher fazer o que é certo e ético. Ele é clemente e gentil com alguém que ele conhece, mas, ao contrário do Superman, ele pode levar vidas para preservar outras. 


Diferente do Superman (na maioria das iterações), Goku é um migrante interestelar que se sente em paz com quem ele é, onde ele está, e com o papel que tem abraçado como um protetor da Terra. É ainda conhecido por usar seus poderes na frente de outros terráqueos, mas intimamente vive na solidão e contemplação, como o seu homólogo americano Superman, um lavrador do Meio-Oeste. 
Goku não tem um alter-ego, o Superman esconde-se na figura do modesto jornalista Clark Kent. Sem uma identidade secreta, Goku não tem necessidade de sentir-se separado de seus entes queridos. Então, ele forma uma família sem culpa e demonstra um profundo amor por sua esposa e filhos.

O meio cultural do universo Dragon Ball de Toriyama é uma alegoria para o que é conhecido como Budismo da Terra Pura, onde o caos do universo é justaposto contra a vida após a morte que Goku tão frequentemente entra ao morrer. 
Como nos quadrinhos de super-heróis americanos, Goku verdadeiramente nunca "morre", mas entra em um novo reino onde ele pode atingir a iluminação através de seu treinamento em artes marciais com as divindades regionais que supervisionam sua parte do cosmos. 


A cosmologia do mundo de Goku é intrigante na medida em que oferece estados alternativos de ser. Na verdade, como um análogo do Superman, Goku é capaz de experimentar sua cosmologia muito mais intimamente. O Superman de Grant Morrison se assemelha mais a Goku como caracteristicamente paternal e envolvido com o universo em um nível físico, íntimo, mas ele, como outras iterações do seu personagem, experimenta tensão com aqueles que jurou proteger.

Os saiyajins são uma raça bárbara, subjugada, e em última análise, destruída por seu cruel mestre Freeza, um senhor da guerra galáctica que escraviza exércitos mercenários para conquistar planetas e incorporá-los ao seu império. Goku, que é um representante de uma raça sanguinária dominadora aniquilada por Freeza, muito parecido com o conto do faraó que tentou eliminar a nação judaica florescente (vendo os judeus como uma ameaça ao seu império), torna-se um símbolo da revanche para os saiyajins. 
Ao matar Freeza, ele recupera a dignidade de seu povo. Superman, de quem Goku é derivado, nunca realizou feito semelhante em seu universo DC. Na fantástica animação para a TV, Liga da Justiça, o Superman emancipa um planeta do ditador-caudilho Mongul, mas este é um feito insignificante em comparação com a grandiosa Space Opera que Goku participa, na qual ele encontra seu passado e exige o julgamento sobre Freeza. 
Na esteira dos quadrinhos de super-herói, Goku preenche o vácuo que o mangá japonês tinha reservado para uma figura como o Superman.

Ubuu, reencarnação de Majin Boo, o demônio mais forte
do universo e maior inimigo de Goku, agora seu discípulo.
Enquanto a finalidade da ficção científica é buscar a ética da promoção humana, ela também contempla a insuficiência inata para atender tais qualificações. A presença de Goku em um universo cheio de seres exponencialmente maiores argumenta a prova de que um indivíduo pode estar diante de tempo, espaço, e criatura, e enfrentá-los corajosamente apesar de sua insignificância. 
Enquanto a percepção ocidental de Dragon Ball Z está principalmente associada com o absurdo e a extravagância, não é esta a verdade por trás dos encontros de Goku com seres de grande poder. Ele buscou sempre se aperfeiçoar e ainda contou com a cooperação de outros guerreiros poderosos, estes representam alguns dos valores mais identificáveis com a sociedade japonesa. Goku venceu Majin Boo, mas terminou a série ainda inferior ao seu maior inimigo. Então ele alegremente aguardou que o demônio retorna-se, reencarnando em um criança tão pura quanto a que ele foi um dia, para que pudessem continuar a sua luta.
Goku, por pura dominância, enfrenta esses desafios com a mesma alegria que tinha no início do mangá. O Japão prevê o Superman como um salvador de outro mundo conectado espiritualmente com a Terra e moralmente obrigado a levar vidas para proteger os inocentes. Como um salvador, por outro lado, Goku não alcança a imortalidade do Superman. 
Embora o Superman ainda não tenha realmente "morrido", Goku morreu várias vezes. A este respeito Superman ainda representa algo além do que é Goku. A história do Superman é um conto sobre um deus vivendo entre os mortais, enquanto a história de Goku é um conto dionísico de um homem capaz, com aspirações tremendas, um homem que tornou-se deus.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

MITOLOGIA, HISTÓRIA E O UNIVERSO DRAGON BALL

Jornada ao Oeste - "Son Goku em conflito no Paraíso"
Arte de Gongbi Lianhuanhua, por Liu Jiyou
Dragon Ball é uma história de amadurecimento e perseverança, uma verdadeira epopeia das artes marciais nos animês e mangás. E o universo presente na obra de Akira Toriyama está fortemente influenciado pelas mitologias, principalmente as chinesas, elementos da cultura pop, fatos históricos e até mesmo obras literárias.
Através do mangá, acompanhamos o crescimento do herói Son Goku, e sua evolução de um menino para um homem, visto através da visão única de Toriyama. 


Goku é originalmente um menino de rabo de macaco de origem misteriosa. Ele monta uma nuvem voadora e porta um bastão mágico, e para todos os efeitos, nos lembra o Rei Macaco Sun Wukong (seu nome chinês), o personagem homônimo de Jornada para o Oeste, o antigo conto chinês no qual a série se baseia.

Original Son Goku (Sun Wukong)
Isto em si é interessante, pois o Son Goku de Jornada ao Oeste é o representativo do espírito inquieto do homem e possui o que é conhecido como a "mente selvagem", desencadeada, sem foco, sendo constantemente distraído por novas ideias, acontecimentos e objetos, pensando apenas em suas necessidades e desejos.
Ao contrário do Rei Macaco, Goku é uma criança perfeitamente sublime, às vezes alheio ao mundo que o cerca, sem medo ou dúvida, sempre justo e compassivo. Mesmo em DBZ ele permanece perfeitamente sereno a maior parte do tempo e desta forma assume características do inquieto Rei Macaco e do Santo Louco, personagem também de Jornada ao Oeste.

O Santo Louco
O Santo Louco coloca toda a sua fé no divino, está sempre à procura de dar tudo o que têm ou até mesmo dar a vida pelos outros, independentemente de suas más ações, na crença de que suas ações estão em todos os momentos sendo guiadas por forças superiores.
Goku é sempre inocente, profundamente compassivo e na estrada eterna em busca da perfeição marcial (que em DBZ é utilizada como um substituto para a iluminação como retratada em Jornada ao Oeste). Em sua busca, no entanto, Goku aparentemente aliena-se, gastando menos tempo com sua família e comprometendo o seu relacionamento com sua esposa por constantemente colocar seu filho Gohan em perigo mortal.
Nesta história Goku é o herói hercúleo da mitologia grega ou o mártir da mitologia cristã. Podemos tentar imitá-lo, mas não podemos ser ele; ele está para nós como está para sua família, em um pedestal, sempre fora de alcance, ordenado pelos deuses, apoiado por um coro grego, e tem uma perfeição que é aparentemente inatingível.

Coro grego
O coro grego é um dispositivo teatral que tem suas origens no antigo teatro grego. Ele consiste em um grupo de pessoas, geralmente ao lado da área de atuação, que comentam as cenas e revelam informações ocultas que o público pode não estar à par.
O coro grego para DBZ tipicamente consiste de Kurilin, Yamcha, Tenshinhan e Chaos, mas é muitas vezes acompanhado por outros que, devido à sua relativa insignificância, são incapazes de participar da trama principal. 

Há vários aspectos divinos em Dragon Ball, como as similaridades entre Goku e os mestres espirituais, e ainda a forma como o bem sempre triunfa sobre o mal.
Ao contrário do que muitos possam imaginar, Dragon Ball é uma obra que possui muitíssimas particularidades, rendendo extensas análises.
Vamos a partir de agora analisar tais particularidades. A maioria delas foram pesquisadas, e há ainda algumas de minhas próprias teorias.


Original Rei Enma, juiz dos mortos
Origem no misticismo oriental

Vagamente baseado em Jornada ao Oeste, que conta a jornada de peregrinos em uma missão sagrada para encontrar os sutras budistas da Índia, Dragon Ball é repleto de referências espirituais de uma perspectiva do Leste Asiático. Sun Wukong, o Rei Macaco, é o personagem em que Goku é baseado. E a inspiração para o próprio Sun Wukong é provavelmente Hanuman, o deus indiano e guerreiro.

Rei Enma em DBZ e Estátua do Rei Enma em santuário xintoísta
Rei Enma, senhor da vida após a morte, é baseado em uma divindade japonesa e chinesa que pesa a quantidade de virtude e karma na alma de uma pessoa para determinar onde esta deve ser enviada, Céu ou Inferno, e nós encontramos o mesmo personagem em Dragon Ball.
Há uma infinidade de outros exemplos e referências às histórias as quais as crianças budistas japonesas como Akira Toriyama teriam sido ensinadas enquanto cresciam.
O Céu e a vida após a morte tem um grande papel em Dragon Ball Z. Depois de se sacrificar para salvar a vida de seu filho (e do próprio planeta) Goku é enviado para a vida após a morte, onde sua alma é julgada pelo rei Enma. O rei determina que ele é puro de coração o suficiente para subir ao Céu, mas Kami-Sama pede-lhe como um favor especial que Goku seja treinado pelo Kaioh do Norte, Senhor da Galáxia do Norte, para que ele esteja preparado para a chegada de seus novos inimigos.


Personagens originais do conto Jornada ao Oeste:
Genzo Sanzo (Bulma), Sha Wuijing (Yamcha), Sun Wukong (Goku) e Zhu Bajie (Oolong).
Peregrinação

Os guerreiros Z, com Goku em particular, viajam ao redor do mundo (e até mesmo de outros sistemas estelares) em busca das Esferas do Dragão. Eles embarcam em uma peregrinação para encontrar relíquias sagradas que contêm o poder de alterar o mundo conhecido, reverter a morte para a vida, conceder a imortalidade, fornecer incalculável fortuna, riqueza, ou cumprir quase qualquer desejo humano.
Enquanto nesta busca, eles conhecem muitas pessoas, superam inúmeras dificuldades e melhoram a si mesmos a cada passo. Mas depois de conseguir seu objetivo e invocarem o dragão, em sua maior parte eles fazem coisas desinteressantes para eles, ou preferindo ajudar as pessoas com quem desenvolveram fortes vínculos durante a sua jornada. A mensagem subjacente é que a busca não é sobre encontrar as relíquias, mas sobre encontrar seu verdadeiro eu.

O guerreiro Bora é revivido pelas Esferas do Dragão
em Dragon Ball: Mystical Adventure
Shugyo é a palavra japonesa para "treinamento", mas seu uso original refere-se a "formação espiritual", mais notavelmente por monges ou artistas marciais em um caminho de iluminação.
Em Jornada ao Oeste, Son Goku acompanha o monge Genzo Sanzo em busca pelos sutras secretos da Índia. O papel do monge é desempenhado na história original do mangá por Bulma. E justamente é um monge (Kurilin) quem acaba transformando-se no melhor amigo de Goku.
O ato de shugyo é treinar-se física e espiritualmente para superar um demônio externo ou interno. Você só terá concluído o treinamento quando você alcançar um nível alto o suficiente para fazê-lo, e muitas vezes a verdadeira batalha vem de dentro, em uma tentativa sempre constante para derrotar a si mesmo, revelando o verdadeiro eu mais profundo.



O Bem Contra o Mal

O bem e o mal desempenham um papel importante em muitos Shonen mangás de batalha, e Dragon Ball é um exemplo perfeito. Os "demônios" que os guerreiros devem enfrentar parecem surgir do nada, e a dicotomia do bem e do mal, invariavelmente, resultam com o bem como o vencedor. Talvez não a curto prazo, mas sempre a longo prazo.
Mas estes não são valores absolutos, como anteriormente personagens demoníacas podem aprender a mudarem suas noções perversas, anexos e comportamentos para se tornarem uma força do bem. Lições como certo e errado e que é mais sensato para seguir um caminho de justiça são tão claras quanto o dia.

Redenção é um princípio fundamental em Dragon Ball. Piccolo é um excelente exemplo. Ao interagir com Goku e sua família através de um período de décadas, seu coração anteriormente demoníaco torna-se suave e compassivo. A amplitude da sua compaixão se expande tanto que ele acaba salvando a terra e é perdoado por seus crimes e permitido a ascender ao Céu.



Os imortais

Imortais e da busca pela imortalidade são elementos muito presentes em Dragon Ball. A longevidade é frequentemente vista como um sinal de seres divinos na Terra.
O primeiro mestre de Goku, Muten Roshi, o mestre Kame, é considerado por alguns como um imortal já com mais de 300 anos de idade quando visto pela primeira vez. Sua força de vida nunca diminui mesmo quando ultrapassado por todos os seus alunos. Seu espírito, com suas taras pelas belas e jovens mulheres, permanece sempre potente.

Chaos é um VAMPIRO!
Por mais estranho que isso possa parecer, o Chaos sempre foi um dos meus preferidos.
O eterno "irmão" de Tenshinhan amarga o fato de não ser o personagem favorito de ninguém. Mas é claramente compreensível. Quem seria fã do coitado do Chaos? Ele é fraco, mais atrapalha do que ajuda nas lutas, e ainda por cima é muito burro (nem sabe contar sem usar as mãos).
Poucos vão concordar, mas Chaos foi o terráqueo com a morte mais digna durante a batalha pelo destino da Terra na saga dos saiyajins.
Chaos é mais um personagem com um conceito interessantíssimo, embora pouco explorado. 
Sua aparência é incomum, pele extremamente pálida, marcas no rosto e um estilo um tanto mórbido para se expressar. Dotado de poderes telecinéticos que possivelmente nasceram com ele, uma vez que nem Tenshinhan, nem seu mestre Tsuru e nem tão pouco Tao Pai Pai fazem algo parecido. Ele dificilmente poderia ser considerado um humano, embora seja classificado como um terráqueo.

Mei-Ling e Hsien-ko, irmãs Jiang-shi.
Game Darkstalkers da Capcom.
Chaos apresenta um design que lembra vagamente o design de uma personagem muito popular de uma série jogos de luta da Capcom, Hsien-ko de Darkstalkers.
Hsien-ko é classificada como uma Jiang-shi, um tipo de vampiro (ou zumbi) chinês, e Akira Toriyama baseou-se nestas criaturas folclóricas para criar Chaos.

Original Jiang-shi
Existem várias maneiras diferentes para uma pessoa tornar-se um Jiangshi. Eles são, tais como os vampiros ocidentais, mortos-vivos, e algumas pessoas também vivem podem se transformar em Jiangshi depois de serem mordidas ou atacadas por um. 
As pessoas que cometem suicídio e cujos corpos não são enterradas após a morte, ou cujos cadáveres se tornam possuídos por espíritos maliciosos podem transformar-se em Jiangshi
Sacerdotes taoístas também podem reanimar os mortos e transformá-los em Jiangshi.


Não está muito claro que Chaos possa realmente ser um Jiang-shi, mas é notável o detalhe de que ele nunca envelheceu ou sofreu quaisquer tipo de mudanças em sua aparência ao longo de TANTOS anos de sua existência. 
Ele é uma eterna criança, mesmo com os muitos anos de passagem de tempo na história de Dragon Ball. E a resposta para tudo isso talvez seja o fato de Chaos ser um vampirinho chinês.

Impressionante e adorável, não é?



Shin-jin e a Cosmologia de Dragon Ball

Segundo a "mitologia Dragon Ball", os deuses não são eternos, enquanto o bem e o mal, simples conceitos e ideias, estes sim são eternos. 
Os deuses nascem e morrem como qualquer ser mortal, embora possam viver por milhares de anos.
Como nada vivo é eterno, o bem e o mal necessitam de representantes, como Kami-Sama, representante de uma das milhares de forças do bem, e Dabura, representante supremo das forças do mal, assumindo o papel do "diabo".
O Mundo Espiritual é dirigido por uma hierarquia. Começando pelo regente sobre os mortos o Rei Emma, seguido pelos senhores Kaioh, o Grande Senhor Kaioh e finalmente os Supremos Senhores Kaioh (Kaioh-Shins). Shin-jin é o nome das raças dos Kaiohs e Kaioh-Shins.
Existe uma população de oitenta Shin-jins por geração e eles nascem como um fruto de uma Árvore Sobrenatural. Ao nascer, eles disputam títulos de Kaiohs e Dai Kaiohs. Apenas os que nascem dos frutos dourados podem se tornar Kaioh-Shins ou Dai Kaioh-Shins. Os que nascem com maldade no coração são enviados ao inferno e se tornam Makaios ou Makaio-Shins.
Os mais interessantes são os Kaioh-Shins, muito poderosos e responsáveis por proteger e dar vida aos seus respectivos quadrantes do universo, repletos de galáxias, pelos quais são responsáveis.

Universo DBZ
Na cosmologia Dragon Ball, o universo é dividido em níveis de forma similar ao modo como os nórdicos imaginavam o universo, com vários mundos paralelos ligados entre si através dos galhos da colossal árvore mística Yggdrasil.

Yggdrasil e os nove mundos.
Além disso, quando um Kaioh-Shin morre, ele pode reencarnar na forma de uma planta.
O Animismo também está muito presente nas crenças orientais. 

Kaioh-Shin do Sul e Kaioh-Shin do Oeste
Rou Kaioh-Shin é o velhinho antepassado do Kaioh-Shin do Leste. Ele é um deus "onipotente" muito sábio e totalmente pervertido. Com seus olhos divinos pode observar as ações de todas as pessoas da Terra, mas prefere usar tal dom para enxergar através das paredes e ver as garotas sexys tomando banho e trocando de roupa. Sem palavras, ele é demais. Mesmo já no fim da sua vida (restam-lhe "apenas" mais mil anos), sua testosterona não parece ter fim, e mesmo que ele seja um hermafrodita! 

Rou Kaioh Shin e sua outa metade.
Rou Kaioh-Shin, tal como o Homem Negativo da Patrulha do Destino, fundiu-se com uma mulher (tornando-se Rebis), e tornou-se uma nova entidade. O fato de ser meio-futanari deve incomodá-lo um pouco, pois já alegou que, se pudesse desfazer a eterna fusão Potara, a teria desfeito há muito tempo. Quando jovem, teve um de seus brincos de fusão foi roubado por uma bruxa horrorosa, e por isso acabou fundindo-se com ela. Mas graças a isso, Rou Kaoih Shin pode agora usar magia.

Rebis
"Rosarim Philosophorum"
Viajando agora: O elemento central presente Rosarium Philosophorum dos filósofos mediais dos século XVII, considerado uma pseudociência, é o casamento alquímico de opostos que levam à criação de uma terceira entidade (Rebis), esta seria um tipo de "ser perfeito", completo com ambos os sexos. O conceito é semelhante a procriação ou como as reações químicas criar novos compostos.
Este conceito também é explorado no mangá Fullmetal Alchemist.



O terceiro olho

Tenshinhan é um dos melhores, e na primeira geração da série, ele era facilmente apontado como o mais poderoso depois de Goku.
Sua história de redenção é uma das melhores presentes na série. De um lutador impiedoso que aleijava seus adversários após vencê-los em batalha, torna-se um verdadeiro "gigante gentil". Tenshinhan. entretanto, não poderia ser culpado pelo que era, devido a sua criação. Adotado e treinado pelo impiedoso mestre Tsuru, ferir e assassinar pessoas fora essencialmente a educação que recebera.
Antes de mais nada, Tenshinhan, apesar de sua aparência, é humano. 
Para entender o personagem, acredito ser necessário falar do estilo de Akira Toriyama para a criação de personagens.
Algo que chama a atenção em Tenshinhan é o fato dele, assim como seu amigo Chaos, ser bem diferente dos outros personagens humanos da série. Tenshinhan é um "triclope", e isso não deveria ter tanta importância para quem lê ou assiste Dragon Ball.
Akira Toriyama, como muitos outros mangakás, não esconde as influências de outros autores, e entre os seus preferidos estão o deus do mangá Osamu Tezuka e o mundialmente conhecido Walt Disney. A influência de Disney é bem evidente até mesmo em Dragon Ball, já que grande parte dos personagem da série são animais antropomórficos. Então poderíamos considerar que Tenshinhan possui três olhos simplesmente por esta ser a vontade de Toriyama.

Shiva e o terceiro olho
Na cultura popular, o terceiro olho é um símbolo da iluminação (como o deus hindu Shiva). Alguns mestres acreditavam que poderiam alcança-lo através de meditação profunda.
O terceiro olho de Tenshinhan é também uma clara referência ao personagem Sharaku, do mangá de 1974 The Tree-eyed One, criado por Osamu Tezuka. 

Sharaku
The Tree-eyed One
O personagem Sharaku é um descendente de uma raça de humanos de três olhos, e essa pode ser a origem de Tenshinhan. 
Havia um rumor de que Tenshinhan não seria um terráqueo, mas o próprio Toriyama o descreveu sempre como terráqueo genuíno. 
Podemos então considerar Tenshinhan um mutante, e mesmo que não seja tão humano quanto parece, é sem dúvidas o mais poderoso terráqueo. O terceiro olho é característica física também é a do personagem Erlang Shen de Jornada ao Oeste.

Son Goku confronta Erlang Shen
Hoje consideramos Tenshinhan como o último descendente do clã dos Três Olhos, segundo afirma o Daizenshuu, assim como Sharaku de Osamu Tezuka. Graças a sua genética incomum, Tenshinhan é capaz de feitos surpreendentes para qualquer outro ser humano. Sua constituição física é claramente superior aos dos demais terráqueos, seus três olhos praticamente lhe dão "a visão além do alcance" e ele ainda revelou ter quatro braços (!).
Tenshinhan derrotou Burter e Jeice das Forças Especiais Ginyu sem nenhuma ajuda, confrontou Imperfect Cell durante muito tempo, e foi forte o bastante para deter um golpe do Super Boo que explodiria toda a Terra!



Deus e as Esferas do Dragão

Deus é o nome do cara! Kami (a palavra japonesa para Deus ou Divino) é o título do guardião da Terra, e ele cuida do planeta e mantém o seu equilíbrio.
Muito próximo de uma analogia a figura do deus judaico-cristão, apenas observa o mundo e seus habitantes com seus olhos que a tudo veem, mas ele está sempre disposto a dar uma mão celestial quando necessário.
O seu conceito de Piccolo e Kami-Sama é de longe o mais interessante de toda a história de Dragon Ball!
Originalmente identificado como um demônio verde sanguinário e megalomaníaco com tendências a ditadura e ao controle mundial, Piccolo, também chamado Rei Piccolo, era nada menos do que a face sombria de "Deus". E o Piccolo ao qual estamos mais familiarizados é o filho e também a reencarnação do diabólico rei dos demônios. A ideia de um deus-trino foi claramente utilizada na concepção do personagem.
Ao derrotar o Piccolo Daimaoh original, Goku foi convidado a conhecer Kami-Sama no Céu. Semelhante também ao Son Goku de Jornada ao Oeste que devido aos seus grandes feitos foi convidado a mudar-se para o Céu onde receberia o status de divindade.


Na história do conto chinês, Son Goku se revolta contra o Senhor do Céu ao descobrir que apenas seria um de seus criados. O Rei Macaco causa uma grande confusão no Céu até que confronta Buddha e descobre o quão insignificante são seus poderes frente aos deuses. Mesmo voando a centenas de milhares de quilômetros percorrendo toda a Terra, Son Goku percebe que não pode escapar da palma da mão de Buddha.

Ikki de Fênix encontra Buddha na casa de Virgem.
Animê Saint Seiya.
Esta passagem é citada em Saint Seiya, quando Ikki de Fênix confronta Shaka de Virgem, e o cavaleiro de ouro compara o poder do irmão de Shun ao poder de um macaco na mão de Buddha.
No mangá original, quando Shaka confronta Ikki pela primeira vez na Ilha da Rainha da Morte, ele chega inclusive a citar o nome de Son Goku.


Por vencer o Rei Piccolo, Goku considerou-se o mais forte do mundo, mas ao confrontar Kami-Sama, descobre o quão insignificante ele poderia ser, e esta foi talvez a sua maior lição sobre humildade.
Kami-Sama criou as Esferas do Dragão e as espalhou pela Terra na esperança de que os humanos, caso as reunissem, desenvolvessem virtudes como a coragem. Infelizmente a maioria dos humanos desejavam o poder das Esferas para objetivos mesquinhos e fúteis. Mas em consideração ao mais puro dos terrestres, Goku, o único capaz de encontrar-se com ele, Kami-Sama decidiu reviver as Esferas do Dragão que foram destruídas pelo Rei Piccolo e devolve-las aos humanos. 

Nanso Satomi Hakkenden
A lenda que Akira Toriyama utilizou na concepção das Esferas do Dragão, ao contrário do que muitos possam imaginar, não é chinesa, mas japonesa.
Trata-se de Nanso Satomi Hakkenden ("Satomi e os Oito Cães"), um conto sobre uma princesa que fez sexo com um cachorro (!) e desta relação nasceram, não apenas sete, mas oito esferas, que se espalharam pelo mundo e transformaram-se em crianças. E, sim, criaram um animê baseado nesta lenda.


Dragon Ball inspirado por eventos históricos: 
O Exército Vermelho e a Red Ribbon

Exército Vermelho é um termo usado para descrever um exército que se reúne sob a bandeira vermelha, um símbolo militarista de uma força comunista.
O termo foi cunhado pela primeira vez por seu comandante Leon Trotsky para referir-se ao exército recém-criado da Rússia Soviética após a Revolução Bolchevique de 1917. O termo continuou a ser usado na Europa nas próximas décadas e tornou-se sinônimo de violência, derramamento de sangue e poder. Depois disso, o termo se espalhou pelo leste quando Mao Zedong criou seu próprio Exército Vermelho na China, que mais tarde seria conhecido como o Exército Popular de Libertação. Ambos dominaram militarmente a Ásia por várias décadas, confrontando inclusive o Japão, o local de nascimento de Dragon Ball.

Gerenal Red e Josef Stalin
Nós encontramos o Exército Vermelho em Dragon Ball na forma do exército Red Ribbon, uma paródia da ameaça militar unificada. A maioria do exército Red Ribbon e todos os seus líderes são "estrangeiros", ou seja, ocidentais. Eles representam um tipo de exército socialista ou comunista estereotipado que desejam tomar todo o mundo com seu poderio militar.
A Red Ribbon tem uma coleção de soldados de infantaria, especialistas militares, assassinos, cientistas do mal, uma divisão móvel (caminhões e tanques), uma divisão do voo (aviões, helicópteros), uma divisão marítima (submarinos, barcos), robôs assassinos, androides e agentes especiais. A sede do exército Red Ribbon é uma base enorme cercada e repleta de tecnologia avançada e armas defensivas.
Eles poderiam também ser descritos como o exército de um vilão de algum filme de James Bond. Embora mais precisamente eles são uma reminiscência do Exército Vermelho da Rússia Soviética, sobre o qual muitos dos vilões de James Bond foram baseados. E todos os soldados vestem-se como as tropas da era da Segunda Guerra Mundial.


No logotipo "RR" é abreviação de "Red Ribbon" e é geralmente visto como uma fita vermelha simétrica com letras brancas, e ele pode aparecer em um uniforme militar ou um tanque por exemplo. Mas também é visto em uma bandeira vermelha que é muito semelhante às versões stalinistas e nazistas da mesma.

General Blue e Ernst Rohm
Além disso, um de seus líderes, o General Blue, é baseado no ideal do soldado disciplinado no programa de eugenia de Hitler. 
Blue é magro e forte, com cabelos loiros e olhos azuis, e está implícito que ele é descendente de alemães, utilizando no mangá expressões da língua alemã como "Auf Wiedersehen" (Adeus).
Ele é o lutador mais forte de todos os soldados do exército Red Ribbon, empregando força super-humana e habilidades psíquicas. Curiosamente Akira Toriyama fez dele um personagem muito afeminado (com uma homossexualidade implícita). Ele ama a sua aparência, adora cheirar rosas e tem nojo de ratos, entrando em pânico quando vê algum. No entanto, ele é muito mais sério e inteligente do que a maioria dos soldados do exército Red Ribbon.
A homossexualidade do General Blue é uma referencia a sexualidade do personagem histórico no qual ele foi baseado: Ernst Rohm, um dos líderes da SA de Adolf Hitler.



A ciência de Dragon Ball

A ciência de Dragon Ball é extremamente vasta e envolvente, mas um assunto ainda intocado.
A série original foi inspirada por conceitos e paradigmas culturais escritos na China antiga, e inspirou-se também em religiões indianas e no TaoísmoMas com o início de Dragon Ball Z são rapidamente introduzidos elementos como alienígenas, outros planetas, viagens espaciais, cientistas do mal e os seres humanos artificiais, como os androides da saga Cell,
Recentemente Akira Toriyama revelou os nomes verdadeiros dos Androides 17 e 18, Lapis e Lazulli, respectivamente. Seria mais justo defini-los sob o conceito de ciborgues, uma vez que nasceram como humanos, mas tiveram seus corpos modificados pelo brilhante cientista-chefe da força Red Ribbon, doutor Maki Gero.
O elemento mais carismático destes seres humanos artificiais é o Androide 16, que Toriyama revelou, como uma das suas mais recentes adições a mitologia da série, ter sido construído a partir da aparência do filho único do doutor Gero, morto por um tiro de um soldado inimigo, evocando a Astro Boy de Osamu Tezuka. 

Doutor Umataro Tenma e Doutor Maki Gero
No clássico de Osamu Tezuka, o doutor Umataro Tenma constrói Astro Boy na esperança de substituir o seu filho morto em um acidente. E talvez essa seja a explicação para o Androide 16 ter um coração bondoso, ainda que tenha sido criado como uma máquina de matar.
A série se torna mais influenciada pela ficção científica. Existem vários livros científicos escritos sobre outras séries da cultural pop, como A Física de Star Trek, que eu muito aprecio, e A Ciência de Star Wars. Não houve nada escrito sobre a ciência de Dragon Ball? Parece que Derek Padula em seu livro The Science of Dragon Ball foi o primeiro a fazê-lo. Em vez de escrever artigos cheios de equações matemáticas pesadas ou postulados argumentativos, ele apresenta os elementos científicos, integrando modernos equivalentes tecnológicos de nosso mundo real. Estes servem como trampolins que mostram como a ciência de Dragon Ball pode ser encontrada em nosso mundo moderno, ou está a caminho de se tornar mais próxima com aquela presente no mundo deste mangá.



Como ainda veremos na próxima ocasião, sem o cinema clássico de artes marciais chinês seria impossível a produção de uma obra como Dragon Ball.


E a seguir: Superman!

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