domingo, 15 de fevereiro de 2015

O MODERNO ANTICATOLICISMO: REALIDADE X FICÇÃO


Crucificação dos 26 mártires em Nagazaki,
5 de Fevereiro de 1597.

Esta é uma postagem para uma causa e para uma denúncia, um assunto delicado, mas que deve ser falado. Antes de me acusarem, digo que não sou religioso, então (se você é anticatólico) não venha dizer que estou fazendo uma postagem tendenciosa.
Que desabafo! Prometo que tentarei deixar a postagem mais divertida...
Com relação as mídias pode-se dizer que em muitas delas há o preconceito anticatólico. Mas eu ainda vejo isso em vários lugares como uma paranoia. Por vezes na ficção aparecem sacerdotes como vilões poderosos e muito bons de briga mais como uma ironia. Muitos destes personagens são até bem divertidos. Falar da Igreja Católica fascina muita gente, principalmente aqueles que pouco dela conhecem.    
            
Meme de Enrico Pucci, do mangá Jojo's Bizarre Adventure.

De acordo com o escritor Philip Jenkis, o Anticatolicismo é o último preconceito aceitável, e não há como contestar este juízo. A retórica anticatólica nunca foi reconhecida como sendo um problema social. Na mídia, o catolicismo é tema para sátiras, e programas de TV atacam opiniões, doutrina e líderes católicos. Tudo isto é apoiado na já manjada desculpa da liberdade de expressão. Mas a tal chamada tolerância para com a liberdade de crença não se aplica quando figuras católicas estão envolvidas. Um exemplo disso é o grande paraíso da liberdade de expressão chamado internet. Em sites, blogs, etc. é possível ver cada insulto, visão preconceituosa e opiniões ofensivas que as pessoas jamais sonhariam em falar de qualquer um outro grupo religioso, mas da Igreja Católica parece que se pode falar o que bem entender.
Atualmente isto é cada vez mais comum. Os ataques e ofensas que católicos do mundo inteiro sofrem, caso fossem dirigidos a outros seguidores de diferentes crenças, dariam o que falar durante anos e até poderiam destruir a vida da pessoa que os proferiu. Mas quando o alvo são os católicos, continua tudo numa boa. E ai de todos os católicos se algum criminoso declarar-se católico.
O anticatolicismo é bem definido como o "antissemitismo dos liberais" e é até visto como uma virtude, sendo amplamente tolerado e incentivado. Em alguns países, historicamente, padres e bispos ocuparam um lugar de destaque na ordem política e social, o que fez com que fossem os primeiros alvos do descontentamento popular. No imaginário anticlerical, o clero é frívolo, hipócrita, formado por pedófilos e déspotas megalomaníacos.

Enrico Maxwell, do animê Hellsing (Um déspota megalomaníaco).
Na América Latina o anticatolicismo cresceu assustadoramente nos últimos anos e vemos semanalmente igrejas sendo profanadas, destruídas e incendiadas.
E, obviamente, um católico pode ser anticatólico. Um exemplo mais atual seria o famoso ex-frei Leonardo Boff.
Já que falei de Hellsing, gostaria de comentar sobre a visão que este animê/mangá passa sobre os católicos. A organização Iscariotes (Seção XIII do Vaticano) é a rival da Hellsing (Ordem dos Cavaleiros Protestantes da Inglaterra) no combate aos Vampiros e outras forças das trevas. A Iscaritotes é formada por um bando de fanáticos psicóticos como o tão temido Paladino Alexander Anderson.

Nosferatu Alucard e Paladino Alexander Anderson, rivais no animâ Hellsing.
Hellsing é um tipo de obra que flerta com o anticatolicismo, mas ainda não acredito que o seu autor Kouta Hirano tenha tido a intensão de ser ofensivo, embora ele tenha baseado a sua história em todas aquelas lendas negras criadas em torno do catolicismo, que dominam as salas de aulas do Ensino Médio, perpetuadas pela propaganda anticatólica desde os tempos da Reforma e com os Iluministas. Assistam ao documentário da BBC "O Mito da Inquisição" e entenderão.

O próprio vampiro Alucard, que trabalha para a Hellsing, joga estas lendas na cara de Enrico Maxwell, chefe dos Iscariotes, como se fossem a mais pura verdade, e ninguém o retruca. É hilário para os historiadores sérios escutarem um vampiro que defende a Igreja Anglicana acusar com um "matando todos aqueles que não concordam com vocês", sendo que o rei Henrique VIII, que fundou a instituição religiosa que Alucard defende, fazia exatamente isso com todos os católicos que se recusavam a aceitar o seu Ato de Supremacia que o tornava chefe da Igreja na Inglaterra. Milhares de católicos, leigos e sacerdotes, foram mortos, conventos e igrejas destruídas e seus bens confiscados pela Coroa. Muitos mártires surgiram naquele tempo, como São Thomas More e São João Fisher, fatos estes totalmente ignorados, para variar. E esta é uma das maiores das injustiças históricas: Não importa a quantidade de crimes que cometam contra a Igreja Católica, ela sempre deve ser pintada como vilã.

Alexander Anderson, mangá Hellsing.
Eu gosto muito do padre Alexander Anderson e também do Alucard. Eles são bem parecidos na forma como fazem "justiça", sem falar que Anderson é tão assustador quanto engraçado, e para mim, ele a alma de Hellsing, poderoso e cheio de masculinidade, sem falar que possui uma nobreza e humanidade (ainda que distorcida) que não é encontrada em nenhum outro personagem deste animê/mangá. Enquanto Alucard é um vampiro arrombado (com o perdão aos fãs, mas os moços do Team Four Stars já fizeram piadas suficientes com o Anderson). Aliás, Alucard faz muito bem o típico papel de acusador desinformado/mal intencionado e hipócrita, tão comum nos dias de hoje.
Brincadeiras a parte, Anderson e Alucard nos ensinaram que a maldade pode vir da bondade, mas a bondade também pode vir da maldade. Hellsing não é bem um animê/mangá sério, considero-o um Shonen atípico, com muitas características de Seinen, como a violência e a temática polêmica.

Amakusa Shiro Tokisada (ao fundo), chefão do primeiro game
Samurai Shodown da SNK e presença garantida nos demais
jogos da série. Inspirado em personagem real de mesmo nome,
líder da rebelião dos Cristãos japoneses em Shimabara.
Vendo estes retratos do fanatismo, embora não com a intensão de ofender, mas sim de divertir, fico pensando: Há muitos personagens, particularmente na cultura nerd, que mostram um retrato positivo de católicos?
Definitivamente. Alguns são apenas personagens secundários, enquanto outros têm papéis importantes em suas respectivas narrativas, mas todas retratam católicos que realmente vivem a sua fé de maneiras louváveis para católicos e não-católicos.

O bondoso e tolerante Arcediacono em O Corcunda de Notre-Dame da Disney.
O Arcediacono em O Corcunda de Notre-Dame da Disney desempenha um pequeno papel como um bom católico real, em oposição ao juiz Frollo, um mau. Aqui mais um exemplo de que este tipo de vilão pode ser bem legal. Frollo rouba a cena de todo o filme, representando a hipocrisia do pensamento religioso, e como bem definiu o Nostalgia Critic: "O lado negro da cruz".
Mas claro que o juiz Frollo, perto de um Enrico Maxwell, fica parecendo uma boa pessoa.

HQ de O Demolidor, Marvel Comics.
Apesar do filme do Demolidor ser uma porcaria, há momentos interessantes (na verdade os únicos), proporcionados pelo Padre Everett, que é confidente e confessor do "homem sem medo". A interpretação de Everett é um dos melhores retratos cinematográficos de católicos que eu já vi.
Ele entende o que o Demolidor está fazendo e se compadece dele, mas como é acima de tudo um pacifista, desaprova as ações do super-herói e tenta ajudá-lo a encontrar um pouco de paz que não envolva o combate ao crime e à violência.

Batman Animated Series
"It's never too late" é um episódio de Batman Animated Series, uma das mais revolucionárias e influentes animações de todos os tempos, a qual nós, que tivemos o privilégio de viver os anos 90, curtíamos como o desenho mais legal da DC Comics.
O papel do Batman neste episódio é simplesmente ser parte de algumas sequências de ação e apenas mover a trama quando ela precisa ser movida. Bruce Wayne é um dos espectadores para o drama criminoso que acontece. "It's never too late" funciona muito bem sem muito do impacto do cruzado de capa.
Batman pede ajuda ao padre Michael Stromwell para salvar uma "alma perdida". O padre expõe todas falhas do seu irmão Arnold, um amargurado e decadente chefe do crime. Este é muito arrogante e tem firmes convicções, mas parece desesperado por correção, devido ao caminho errado que tomou e pelo o que o submundo das drogas e do crime fez a ele e a sua família.
Muito da visão positiva dos católicos está presente neste episódio. O arrependimento pelo peso do pecado, o perdão, a misericórdia infinita. O padre é uma figura muito simpática e forte, suas palavras são cheias de compreensão e ele nunca força ninguém a mudança, porque como dizem: "conversão é um processo lento". Arnold tem a chance de fazer a coisa certa e salvar a si mesmo, ainda que possa parecer tarde. Sua falta de aparecimento no resto da série (com exceção de uma breve recapitulação) indica que ele aderiu a sua "aposentadoria". Nunca é tarde demais.

A freira heroína Rosette Christopher, animê Chrono Crusade.
De volta aos animês e mangás, eu curto muito os personagens católicos que aparecem. Os japoneses são um dos povos que mais tem fascinação pelo tema. Um detalhe interessante: para o povo japonês, padres e freiras correspondem aos seus ninjas e samurais.

Animê Ghost Hunt
Apesar de eu curtir muito mais os personagens que sabem dar porrada, é bacana quando aparece algum sacerdote que segue mais o padrão. No animê/mangá Ghost Hunt temos o padre John Brown, um sacerdote australiano que as vezes usa trajes clérigos e pode ser visto lendo a Bíblia e recitando a oração do Pai Nosso. Apesar de ser bem jovem, é um dos exorcistas do grupo de caçadores de fantasmas da série, e o mais legal é que ele tem muitos amigos, inclusive um monge Budista e uma sacerdotisa Xintoísta.

Mangá nacional do Chico Bento Moço - Pessoas do interior são sempre retratadas como muito religiosas.
Curioso que a maioria dos personagens que aparecem nas mídias são sacerdotes e freiras. Poucas são as vezes em que na ficção tentam passar um retrato positivo dos católicos através dos leigos, mas eles também existem.

Kurt Wagner, X-Men Noturno
Em X-Men da Marvel Comics, Noturno é um mutante com o dom da teletransportação e com uma aparência demoníaca, e é realmente um católico devoto que se torna um monge, mas abandona o hábito para seguir a sua carreira de super-herói. Os monges de sua ordem também são pessoas que aceitam Noturno, apesar de sua aparência e habilidades mutantes. Noturno prega o amor e a compreensão, mesmo para aqueles que querem machucá-lo, e tenta não recorrer à violência, a menos que ele deva.

Valjean e Fantine, filme Os Miseráveis.
Quem viu o filme Os Miseráveis tem alguns outros bons exemplares da presença dos leigos.
Os Miseráveis pode ser considerada uma história positiva para católicos. O mais fodão de todos é logicamente o herói da história, Jean Valjean, um homem comum que se esforça tão valentemente para viver a mensagem que acredita. Penso eu, é muito profundo.

Voltando agora ao que foi dito no começo da postagem... Como eu já disse, não sou religioso. Tenho um pensamento pessimista ou talvez apenas realista (mas eu não me orgulho nem um pouco disto). Apesar disso, um dos meu melhores amigos (confesso também não ter muitos) é um padre, ele não é muito mais velho do que eu, e é uma das pessoas mais inteligentes que conheci, tendo várias graduações. Já trabalhamos juntos várias vezes na rede pública de saúde, já que ele sempre está lá para ouvir confissões ou fazer orações. Muitas vezes foi alvo de agressões verbais ou físicas por andar na rua de batina (ele precisa ser identificado como um padre para fazer o seu trabalho). Nossos conhecidos já perguntaram se não gostaria de ter voltado atrás na escolha da sua profissão, para evitar esse tipo de coisa, mas ele sempre responde de forma serena, com aqueles sermões sobre missão, cruz, salvar as almas, mesmo as daqueles que o odeiam. Ele gosta muito do que faz e é muito feliz com seu trabalho.
Eu não sou historiador, meu negócio é saúde, entretanto de uma coisa eu tenho certeza: na História não existem verdades, no plural, mas somente uma, a qual foi baseada em fontes históricas, em especialistas, não no professor de ensino médio aposentado que foi pago para fazer um livro. Qual é sua visão sobre a Igreja e a Idade Média? A maioria vai dizer: Idade das Trevas, tortura, atraso da ciência, falta de estudos.
Um professor de História que conheci quando fiz um cursinho para me preparar para os concursos públicos, anos atrás, revelou as verdades histórias, revoltando muitos dos meus colegas de classe que esperavam mais uma oportunidade para atirar pedras contra a Igreja, a qual este professor (sendo infelizmente um em um milhão) atribuiu a criação do Método Científico, as origens do Direito Internacional, a construção de hospitais e universidades, dentre muitas outras realizações que contribuíram para a construção da nossa Civilização Ocidental. 
As universidades, que foram uma das invenções da Igreja, ironicamente hoje são usadas como uma das formas para destruir a cultura católica. O clero preservou a cultura clássica e lançou importantes estudos para várias vertentes da Ciência e da Filosofia. A sugestão que dou para quem quer conhecer mais deste tema é a leitura de autores como Thomas E. Woods Jr. Vai ajudar muito a fazê-lo perder um pouco do seu preconceito, isto é, se quiser perde-lo.
Só mais uma dica: Seth Macfarlane, Leonardo Boff, Jean Wyllis, Luciana Genro, Opera Mundi, Yuri Grecco e Pirulla, Carta Capital, Gregorio Duvivier, Fabio Porchat e (claro!) Rede Record de Televisão não são fontes históricas!

Padre Sentaro Kawabuchi, animê Sakamichi no apollon.
Voltaremos a falar sobre o tema!
Até a próxima!

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