sábado, 6 de julho de 2019

COMO OS SUPER-HERÓIS SUBSTITUÍRAM O CINEMA DE AÇÃO (REVISIONISMO HISTÓRICO)


Como podem perceber, de uma certa forma os filmes de super-heróis têm substituído os tradicionais filmes de ação no cinema. Por mais que ainda tenhamos fodões como John Wick, ele não representa o perfil heroico ao qual gostaria de discutir agora.

Os filmes de super-heróis se converteram em um dos gêneros mais rentáveis e populares do cinema atual. Sobretudo observado após a compra dos direitos dos heróis da Casa das Ideias, a Marvel, pela Disney produzindo intermináveis sequencias semi-conectadas sem que o público tenha necessidade de acompanhar a todas. A maioria do público casual, isto é, não leitor de quadrinhos, simplesmente curte o gênero graças as suas espetaculares cenas de ação.

O objetivo desta postagem é apresentar como os filmes de super-herói passam para o público uma espécie de revisionismo histórico, diferente do que visto na era "cinema brutucu" cujo discurso político foi um reflexo ao então contemporâneo mundo polarizado pela Guerra Fria. O mundo mudou. O medo da distopia que vivíamos na década de 1980 já não é mais o mesmo.


Anteriormente, estávamos acostumados a todo o tipo de cenas de ação nesta época no cinema de ação tradicional. Eu mesmo cresci acompanhando estes inspiradores heróis do cinema brucutu. Considerados verdadeiros referenciais de masculinidade.

Mas este tipo de entretenimento do passado tem sido condenado pela sociedade atual mais moralista por contar com protagonistas que reivindicam esta masculinidade clássica e por supostamente fazer apologia a violência (algumas vezes contra grupos minoritários?), fazendo com que não seja apto a toda família e se considere daninho e tóxico por uma parte do público mais progressivo e sensível.


É importante destacar que, quando escrevo sobre isto, me refiro a audiência estadunidense. Muitos leitores provavelmente irão fazer associação com o famoso "politicamente correto", mas este foi também importado da terra do Tio Sam como muitas outras formas de expressão política e social. 

Por outro lado, o cinema de super-heróis sempre teve uma moral mais clara, com histórias da luta do bem contra o mal, e os protagonistas são, na maioria dos casos, heróis com códigos morais incorruptíveis que continuamente se sentem culpados se são ligeiramente duros com algum criminoso. 


Sem contar também que com os seus uniformes coloridos que atraem ao público infantil e, graças ao fato de terem super-poderes, não precisando recorrer às armas de fogo, permite que o gênero seja apreciado tanto por crianças quanto por adultos, sejam de qualquer país ou de qualquer credo político. 

Os pais agora não precisam se preocupar se seus filhos estão recebendo mensagens ruins de filmes violentos porque seus personagens são quase sempre modelos de conduta perfeitos. Não sou o primeiro a dizer que os super-heróis se converteram na mitologia da sociedade moderna.


Antes ainda de que fossem populares no cinema, dentro de seu material de origem, as Hq's, funcionavam como alegorias de como se comportar e apresentavam um mundo de bons e maus onde alguns seriam modelos quase divinos e asseguravam a justiça entre os homens.


Esta similaridade com figuras mitológicas é evidente desde o primeiro super-herói, o Superman, a quem seu pai o enviara a Terra para proteger os humanos, muitas vezes de seus próprios pecados.

Superman, ainda que não nos deva nada, se sacrifica pela humanidade com inesgotável compaixão e usa suas habilidades milagrosas para nos salvar uma e outra vez.  

Ele é basicamente um Jesus Cristo hiper-musculoso. E, mais adiante, o panteão de deuses se ampliaria, referenciando personagens das mitologias de crenças politeístas, criando dentro das Hq's um tipo de pseudo-religião.


Mesmo que as histórias das Hq's sejam pura ficção, a sua mensagem ainda é real e válida. E assim podemos permitir que elas se modifiquem com a evolução social dos nossos conceitos acerca do bem e do mal, no lugar de permanecer no dogmatismo que tornou as outras mitologias obsoletas, acompanhando a secularização da sociedade que vem à passos largos.


Que os super-heróis são a mitologia moderna é algo que agora tem muito mais importância, já que unificam a visão de mundo de diferentes sociedades graças a globalização da cultura. Incluso acima das próprias religiões de cada região ou sendo um substitutivo delas em países europeus, hoje majoritariamente laicos.


A mitologia, desde seu nascimento, sempre tem servido para explicar o mundo, os eventos sobre os quais não tínhamos conhecimento e sobretudo para explicar nossa origem, de onde viemos e para onde vamos.

Todos sabemos que o cinema de super-heróis não intenta fazer um retrato do passado. A popularidade e a força de suas histórias chega ao ponto que tem o efeito da reescritura de nossa história para as futuras gerações.

Estes filmes em sua maioria não seguem à risca o seu material de origem, que certamente é muito mais complexo que a versão cinematográfica e pode ser considerado como um material de valor histórico. Assim, como um modo de tornar tal material mais compreensível para a plateia atual, é necessário valer-se de temas modernos, como o liberalismo, o protecionismo, a questão dramática dos imigrantes refugiados, etc. O que é algo realmente admirável, mas em muitos casos parece inevitável a aparição de um revisionismo da história para torná-la mais palatável e menos complexa para o público atual, o que deve também facilitar a escrita dos roteiristas.

Assim cito alguns exemplos de revisionismo histórico presentes exclusivamente em filmes de super-heróis. Portanto, não adianta o leitor usar como argumento "mas na Hq original não é assim...". Exatamente, na Hq não é assim. 


O medo da distopia oitentista desapareceu neste tipo de entretenimento. E lembrando de que os super-heróis são um produto do seu tempo, representando os anseios da sociedade da época em que foram gerados. Leve em consideração que muitos super-heróis surgiram quando o mundo vivia a Segunda Guerra Mundial.

O primeiro caso de revisionismo acontece com o primeiro filme do Capitão América. Este se situava na Segunda Guerra Mundial, a guerra favorita do cinema, principalmente pelo brutal impacto que teve no mundo Ocidental e na política das décadas posteriores.


Entregar uma visão simplificada da Segunda Guerra Mundial não é nada novo. É o que vem se passando praticamente desde que ela acabou e quase sempre isso nos dá uma visão clara de uma luta entre maus malvadíssimos contra os defensores da verdade e da justiça.

Que Adolf Hitler foi uma das piores pessoas da história da humanidade, isso ninguém tem a menor dúvida. Mas o que o líder nazista fez foi bastante similar ao que qualquer outro império que intentasse conquistar o mundo havia feito antes: Reforçar o nacionalismo para levar ao genocídio e a invasão do resto do mundo. (Isto lembra ao leitor outros nomes de figuras políticas clássicas ou mesmo contemporâneas?)

Dito que a simbologia nazista vem diretamente do império romano, mas por sua proximidade histórica e pelo efeito que tiveram na Europa, os nazistas parecem ser praticamente os únicos monstros racistas sedentos por sangue dos quais nos recordamos, e nos filmes de guerra esta descrição é muito presente. 

Estamos tão praticamente certos de que os únicos demônios em pessoas eram os nazistas e os Aliados eram os heróis santos, que só de pensar em uma visão menos simplista do conflito seria seguramente um bom motivo para as pessoas o acusarem de nazista.


A verdade é que, em qualquer guerra, ambos os lados, no caso em questão Eixo e os Aliados, cometem atrocidades. Sobre os governos dos países Aliados, é fato que os norte-americanos também tinham campos de concentração para os cidadãos japoneses, inclusive para aqueles que nasceram nos Estados Unidos, adotaram práticas eugênicas de forma cruel, aliaram-se alguns dos regimes mais cruéis da história e, anteriormente, escravizaram milhões em suas colônias africanas. A maioria dos soldados alemães não trabalhavam em campos de concentração e realmente pensavam que estavam fazendo algo bom para o seu país que estava destroçado após a Primeira Guerra Mundial, sem falar que havia um grande ressentimento para com os judeus. A cruel propaganda nazista acusava os judeus de se valerem dos bancos para se pouparem do trabalho físico e mental, entre outras coisas. A falta de informação do povo alemão sobre os horrores que aconteciam veio com o fim da imprensa livre e com a destruição dos meios de comunicação pelo mais poderoso instrumento de propaganda, o rádio. 

O império Britânico, por outro lado, não era muito diferente do nazismo. Pergunte sobre história para qualquer um irlandês, indiano, aborígene australiano ou sul-africano. Os filmes tradicionais que retratam a Segunda Guerra foram feitos do ponto de vista judeu, já que esta comunidade controla os meios dos Estados Unidos e tem muito interesse em recalcar o mal que passaram durante a guerra para assegurarem-se não somente de que não se repita outro genocídio similar e também de que o Estado de Israel não receba demasiadas críticas, porque se asseguram de que qualquer um que expressar qualquer tipo de crítica sobre a comunidade judaica ou sobre o comportamento de Israel como nação seja tachado imediatamente como um antissemita ou diretamente como um nazista.


Israel recentemente fez jogo sujo na guerra da Síria, abertamente apoiando o filiado da Al Qaeda naquela invasão insana e preferindo assim o governo jihadista sunita que persegue cristãos e shiitas mais do que Assad. Também querem dividir a Síria em três ou quatro países, junto com o seu novo aliado, a Arábia Saudita (esta também aliada aos Estados Unidos), a qual já provocou uma crise humanitária pior do que a da Síria, iniciando uma guerra no Iêmen. Poderia continuar, inclusive falando da catástrofe que ajudaram a provocar no Sudão do Sul e a recusa da criação de um estado Palestino, o que faz de Israel um país onde metade da população não tem direito a voto. 

Uma coisa também precisa ficar clara: na Palestina também há cristãos (católicos e ortodoxos), a Basílica da Natividade, inclusive, se encontra lá. Mas, por motivos unicamente ideológicos, muitos preferem enxergar TODA a população palestina como terroristas perigosos, e ignoram estas comunidades, aqui minorias que sofrem perseguição de ambos os lados do conflito no Oriente Médio. Nem todos os árabes são terroristas. E inclusive os árabes da Palestina são mais semitas do que os judeus europeus.

Algumas verdades inconvenientes. Só estou convidando/provocando o leitor a ter uma visão menos simplista deste conflito. É uma coisa ilegal e nojenta que certos seguimentos censuram da população brasileira. São os fatos lamentáveis para onde o mundo está caminhando.


Voltando aos filmes, com o Capitão América tivemos inclusive, vinda diretamente das Hq's, uma versão própria dos nazistas, a organização Hidra, que se manteve durante toda a história do universo Marvel representando o medo do fascismo que permanece nas sombras, esperando o momento idôneo para estender seus tentáculos e destruir as sociedades ocidentais no totalitarismo.

Hitler é substituído pelo Caveira Vermelha, um vilão tão desagradável em seu aspecto exterior quanto em sua ideologia política, dando-nos uma versão incluso mais exagerada e extrema do nazismo que já não está mais confinado pelos limites de uma nação.

A parte da representação dos nazistas, também é destacável a representação dos Aliados que se mostram manipulados até certo ponto, já que usam o Capitão América como uma arma propagandística, entretanto não tão controlados já que este consegue facilmente entrar em batalha. E, de praxe, os Estados Unidos são apresentados como os heróis e salvadores de uma Europa dominada pelos nazistas.

Mais uma vez entregando uma estética infantil do conflito e sendo uma reescritura de uma realidade em que o avanço tecnológico armamentístico na Segunda Guerra foi evidente não por armas laser, mas pela aviação e a bomba atômica, uma arma que destruía civis e cidades indiscriminadamente, aqui substituída por um homem forte portando um escudo muito resistente.

A verdadeira força do Capitão América, entretanto, não está em seus músculos, mas em sua retidão moral e sua capacidade estratégica. E sua liderança natural é inspiradora como uma bandeira andante que lidera seus homens representando os melhores valores do seu país. Um autêntico líder. Mas neste universo, obviamente, ao final não há nenhuma menção ao lançamento das bombas atômicas.


O restante dos filmes Marvel Disney já não se situam mais no passado, e destaca-se a existência de uma agência governamental secreta que opera internacionalmente ignorando as leis dos países onde atua e desprezando direitos humanos básicos, prendendo ou matando sempre que considerado necessário.

Muito semelhante aos segredos revelados dos detalhes acerca de vários programas que constituem o sistema de vigilância global de NSA americana. Revelações estas que obviamente tornaram seus divulgadores perseguidos pelo governo dos Estados Unidos.

O discurso destes filmes aqui torna-se muito relevante e atual, ainda mais quando nos iteramos de uma agência governamental americana que espiona todo o mundo de forma ilegal. Sabemos hoje que inclusive o Brasil é alvo de espionagem por parte de órgãos de inteligência dos Estados Unidos. Uma outra verdade inconveniente que provavelmente, caso divulgada hoje seria, ignorada por uma parcela da população, que vê os Estados Unidos como um bastião da civilização ocidental, um título que muito provavelmente irão retirar dele caso os democratas voltem ao poder. Os Estados Unidos não tem amigos, tem interesses. E isso precisa ser dito.

É preciso aqui citar um ditado estadunidense que diz muito sobre a política internacional: "Não existe nada mais democrata do que um republicano na presidência e não existe nada mais republicano do que um democrata na presidência".


Não é "antiamericanismo". Não há nada de errado em se aproximar de outros países como os americanos, da mesma forma que não há nada de errado em uma aproximação aos israelenses ou aos árabes, contando que colocando os interesses da nação em primeiro lugar, e não para afagar o ego de um seguimento social contaminado por ideologias nocivas - como qualquer outra ideologia, aliás, nenhuma presta - respeitando a nossa democracia e preservando nossa soberania e nosso patrimônio nacional. A nossa soberania deveria estar acima de qualquer bosta de ideologia política!

Pantera Negra é um outro filme que reescreveu a história ainda que de uma forma mais sutil. É um filme excelente, que transcende um simples filme de super-heróis, assim como foi Logan, o qual também considero uma obra-prima.

Além de ser um dos meus dos meus favoritos do UCM, ainda foi premiado com vários Óscares. Para mim, Pantera Negra mereceu todas as suas premiações, mas este é o meu gosto e opinião pessoal. Afirmo isto porque é um estilo de filme do qual realmente gosto. Do mesmo modo que não compreendo por que Titanic recebeu tantas premiações e por que um Óscar para Leonardo Dicaprio demorou tanto para sair. Dicaprio é um puta ator, e nós só não gostávamos dele porque odiávamos Titanic.

Em Pantera Negra somos apresentados a uma nação africana que se manteve pura e intocável pela colonização conseguindo não perder os seus recursos por culpa do conquistador branco. Não apenas conservando seus recursos naturais como também tendo um desenvolvimento científico muito superior ao restante dos países.

Supomos que tudo isto por contar com um sistema educacional muito mais eficiente do que no restante do mundo. Mas como vemos no filme, seu sistema se baseia mais em uma membro da família real ser um gênio em todos os campos, comunicações, transportes, armamentística e medicina, sendo ela, entretanto, uma adolescente.

Mais uma vez nos é apresentada uma versão simplista da história, dando a ideia de que a colonização foi algo terrível e que os problemas atuais dos países africanos são unicamente por culpa da intervenção estrangeira, ideia que exploraram durante a promoção do filme. Usar os movimentos sociais é a estratégia promocional mais efetiva na publicidade atual.

Mas não se precipitem. Em nenhum momento quis afirmar que o colonialismo foi algo bom para a África. Basicamente os europeus invadiram outros países, escravizaram seus habitantes e exploraram seus recursos naturais para benefício próprio.


Entretanto também houve um intercâmbio cultural, econômico e político que alguns países souberam aproveitar para converterem-se em economias emergentes, enquanto outros caíram em uma sucessão de ditaduras constantes quando os colonizadores se retiraram.

Há unicamente dois países africanos que nunca foram colonizados e eles são a Libéria e a Etiópia, que infelizmente não acabaram por se transformarem na fantasia utópica de Wakanda apresentada em Pantera Negra. Assim, a ideia de que um país africano poderia ser incrivelmente avançado se mantendo livre do intervencionismo europeu acaba tornando-se pouco crível.

A isso somamos que para manter-se isolada do resto do mundo, Wakanda vive um tipo de autarquia sem nenhum intercâmbio econômico com o resto do mundo. As possibilidades deste país ser tão avançado são ainda menores, já que todas as ditaduras que tenham intentado fechar suas fronteiras econômicas para não dependerem de poderes estrangeiros apenas levaram seus habitantes a pobreza . Wakanda é um país rico em um material valioso, o vibranium, mas se não há intercâmbios em recursos com outros países, isso não serve de muito.

Este tema do liberalismo X protecionismo é muito recorrente, principalmente para a sociedade norte-americana atual. Mas o empenho de dar um sentido a história de Wakanda acaba nos entregando que por trás da imagem inicial de um paraíso, há na realidade uma das piores ditaduras do mundo. Para começar, precisam manter um sistema politico da monarquia para darem a ideia de que preservaram a sua identidade tribal, permitindo que o trono seja disputado por outros líderes que podem ganhar e tomar o controle do país lutando e matando seu rei, porque a lei do mais forte é estranhamente a melhor forma de eleger um líder e assegurar de que não acabará gerando guerras civis.

É um país que não tolera nenhum tipo de divulgação de seus conhecimentos além das suas fronteiras, vivendo em uma bolha em que as comunicações com o restante do mundo são altamente controladas. Recorda algum país atual? (Coreia do Norte, talvez?)

Esse controle extremo chega a um tal ponto que eles estão dispostos a matar compatriotas em outros países por revelar segredos nacionais ou por vender algum do seu precioso vibranuim, incluso se esse alguém seja irmão do rei.

Um dos arcos argumentais mais importantes do filme é quando T'challa (o Pantera Negra) se dá conta de que seu pai e seu país não eram tão perfeitos quanto ele acreditava e finalmente abrindo as fronteiras para ajudar o resto do mundo compartilhando os seus conhecimentos e avanços.

"Em momentos de crise, o tolo constrói muros, enquanto o sábio constrói pontes", foi o ditado nigeriano proferido por T'challa ao final do longa.

Killmonger (o primo de T'Challa) era um vilão com um incrível magnetismo para com o público porque ao final de tudo, ele tentou causar um golpe de Estado, mas introduzindo a democracia e liberdade para os wakandianos.


Nos filmes dos X-men também é visto todo um revisionismo histórico. Enquanto nas Hq's os mutantes tornaram-se uma alegoria para representar a discriminação contra as minorias, concretamente representando a luta pelos direitos civis por parte da comunidade negra americana, já que estes também eram odiados e temidos, lutando contra uma parte da população branca que os consideravam violentos e perigosos.

Nos primeiros filmes dos X-men, entretanto, criou-se uma maior similaridade com a comunidade homossexual, uma alegoria também presente nas Hq's, mas aqui ganhando maior equiparação. Assim como nas Hq's, os poderes mutantes se manifestam na adolescência com o despertar sexual da puberdade. Nos filmes também temos visto uma comparação com a perseguição sofrida pelo povo judeu.

Estas alegorias não funcionam igual com a comunidade negra já que, ainda que os judeus e os homossexuais tenham sido odiados muitas vezes, normalmente não eram temidos. Certos círculos da ultra-direita temem que os judeus estejam manipulando a sociedade ocidental para promover a homossexualidade e as relações inter-raciais para acabar com a civilização ocidental. Sério, tem gente que acredita nisso, do mesmo modo que tem gente que acredita que o planeta é chatinho, tipo o mundo da Unigata.


Há quem acredite em ambas boçalidades e talvez em outras mais... (suspiro)

Em Dias de um Futuro Esquecido, vemos em princípio a perseguição contra os mutantes nos anos 70, representando também uma alegoria ao medo comunista. Ainda que na realidade, por trás do Macartismo, foram os movimentos hippies que ganharam um relevo de perseguição em tempos de Guerra do Vietnã. Aqui é o movimento mutante que passa a ser o inimigo público número 1.

A verdade é que há mutantes (vilões) que dão muito mais motivos para serem perseguidos do que essas comunidades análogas do mundo real. Assim é uma similaridade muito problemática já que pode justificar a perseguição e o controle a certos grupos. O Magneto sozinho tem poder para destruir todo o planeta Terra! E há ainda mutantes muito poderosos e instáveis que não controlam plenamente os seus poderes. A única diferença entre a escola de Xavier e um acampamento do ISIS é que sim os mutantes de Xavier tem a capacidade para destruir todo o Ocidente. Mais uma vez, pela complexidade de conflitos presente nas histórias de suas Hq's de origem não poder ser transmitida em sua totalidade às versões cinematográficas, há margem para uma interpretação problemática destes X-men.

A parte importante da escola de Xavier é que os estudantes aprendam a usar os seus poderes e se preparem para lutar junto aos mutantes adultos enquanto estão minimamente preparados. Se não fosse a presença de Magneto, um líder terrorista autoproclamado, que faz com que Xavier pareça bom, todos veríamos que nem tudo parece tão claro. Falemos de um velho que rechaça qualquer intento do governo de criar um registro para saber quem tem poderes (ok), mas que construiu uma máquina para espiar e localizar todos os mutantes do mundo.


O exemplo mais claro de revisionismo histórico acontece com Mulher Maravilha, um dos melhores filmes do DCU, que usava do feminismo para promover-se como uma produção de importância social inigualável. Em Mulher Maravilha vemos a Primeira Guerra Mundial, ainda que poderiam ter utilizado a Segunda Guerra como plano de fundo, uma vez que os alemães que aqui aparecem são uma espécie de proto-nazistas. Mas uma vez a Guerra Mundial é retratada como um conflito entre bons e maus.

O nazismo era claramente uma ideologia altamente condenável, mas na Primeira Guerra Mundial, basicamente, todos foram vítimas. Foi um conflito complexo que levou a uma grande perda de vidas nunca antes vista devido ao avanço da tecnologia militar, com jovens de diferentes bandos sendo massacrados de formas horríveis, acabando com os antigos conceitos românticos do heroísmo da guerra.

A guerra não era um ato de valentia onde os homens poderiam demonstrar o seu heroísmo. Era um cenário sujo e patético, onde os homens se afogavam em poças de gás tóxico e eram deixados presos durante dias em arrame farpado e morriam às centenas a cada centímetro a que se avançava o seu exército.

Em Mulher Maravilha, entretanto, tudo isto é insignificante, não um conflito complexo, contendo um super-vilão, Ares, o deus greco-romano da guerra, que manipulava a todos os homens para se matarem entre eles. Tudo isto faz Ares parecer um tipo de proto-Hitler e os alemães uma versão descafeinada dos nazistas.

Por um momento, temos que a intenção do filme ao final era mostrar que Ares não era o verdadeiro provocador da guerra e que na verdade haveria uma reflexão inteligente com uma mensagem mais profunda:


Mas não. Ele aparece. Aí está Ares. Com amadura digital e tudo. A existência de Ares acabou atirando por terra toda a mensagem edificante que poderíamos aprender.

Um dos maiores erros da história moderna não foi consequência de estúpidas tensões políticas que poderíamos e deveríamos ter evitado, agora é culpa de um super-vilão que nos fez matar uns aos outros, negando nossa própria responsabilidade e tornando o conflito inevitável, dando a lição de que os humanos não podem evitar a guerras nem solucioná-las porque estamos à mercê da vontade dos deuses. Isso significa que no DCU a religião verdadeira é a antiga mitologia grega?


Outro detalhe interessante dentro deste mesmo filme é a presença da doutora Veneno, vilã clássica das Hq's e uma espécie de cientista louca malvada que inventa variantes de armas e gases venenosos. É interessante compararmos esta personagem àquele que é considerado o pai da guerra química, Fritz Haber, um dos principais responsáveis pelo descobrimento e produção de numerosos gases letais e, além disso, foi quem desenvolveu a síntese do amoníaco necessária para a criação de fertilizantes que ajudaram a assentar as bases da agricultura industrial atual, permitindo alimentar um mundo cada vez mais superpopulado, o que o levou a receber um Prêmio Nobel.


Sua história é um exemplo de que ainda que uma pessoa possa ser parcialmente responsável pela morte de milhares de pessoas, também pode ajudar na sobrevivência de muitas mais, demostrando que o saber e o progresso podem ser bons ou maus dependo de como e para que os usamos e que há possibilidade de redimir nossos próprios erros usando o esforço e o saber.

Chegamos ao final. E há muitos comentários aqui expostos que podem ser descontextualizados para entendê-los como racistas, antissemitas e antifeministas, coisa que até certo ponto seria justa. Porque o texto em si retira do contexto detalhes de histórias fictícias para criar um argumento. E por quê? Porque há uma evidente manipulação dos movimentos sociais visando unicamente o lucro e não uma preocupação sincera pelos grupos sociais (Eu acredito que ignorar as diferenças é também uma forma de preconceito). Sobretudo, odeio quando se promove uma visão simplista e dualista da história, dividindo os lados entre bons e maus, esquecendo o contexto histórico e dando a ideia de que todos os indivíduos de um lado eram iguais ou invertendo os papéis de bons e maus dependendo da visão a qual esteja na moda.

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