sábado, 6 de outubro de 2018

FUNNY VALENTINE, O PRESIDENTE E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


Não posso negar, mesmo hoje, apesar de todas as mudanças que aconteceram na vida do Capitão América, que este personagem ainda é uma caricatura de um verdadeiro herói americano: corajoso, heroico e com fortes moralidades.

Há tempos, entretanto, vi um vídeo feito por professor de filosofia (que também era meio nerd) sobre o fenômeno cultural dos super-heróis, onde ele diz acreditar que "o Capitão América é o quem os Estados Unidos querem ser, enquanto o Homem de Ferro é quem os Estados Unidos realmente são".


É verdade. O Capitão América não é uma representação precisa dos Estados Unidos, mas é a representação dos ideais aos quais este aspira a ser.
O mesmo acontece com personagens como Guile da conhecidíssima série de games de luta Street Fighter da Capcom, o famoso soldado/lutador "vá para casa ser um homem de família".


A maioria de nós gostamos de pensar que estes personagens de alguma forma se somam aos Estados Unidos, o que simplesmente não é verdade, considerando o estado daquele país já há tantas décadas.
Há, entretanto, um personagem que sinto melhor representar muitos dos ideais dos Estados Unidos: Funny Valentine, o celebrado principal antagonista de Steel Ball Run, a sétima parte do mangá Jojo's Bizarre Adventure.



Jojo tem uma história de grandes vilões. Personagens como Dio Brando e Yoshikage Kira, ambos são fantásticos vilões, com Yoshikage Kira sendo o melhor. Mas, em termos de ideais e objetivos, nada pode coincidir com o nível de grandeza que é Funny Valentine, o Presidente dos Estados Unidos da América.
Para descrever Valentine em uma frase: "Ele é um presidente americano que usa o poder do cadáver de Jesus para redirecionar qualquer infortúnio que caia sobre o seu país para os outros países do planeta". Parece soar idiota quando coloco dessa forma? Será que Hirohiko Araki leu sobre sobre seitas ou assistiu South Park?

Pessoalmente eu acredito que há muito mais em Valentine em termos de personalidade. O cara ama tanto o seu país que, embora tenha alguns momentos egoístas, seu principal objetivo é tornar a América um lugar onde não há infelicidade usando o poder do "Love Train" para direcionar toda a tragédia para longe da América.


Devido a ter sido criado em uma família muito patriótica e ter um pai que morreu por seu país, isso criou um personagem que pode parecer um verdadeiro vilão à princípio, e ele também não tem qualidades redentoras, mas depois de entender suas razões e objetivos, você começa a perceber que talvez, apenas talvez, Funny Valentine fosse o verdadeiro herói do Steel Ball Run, enquanto Johnny Joestar seria o principal vilão.
Funny Valentine não queria criar uma América que fosse apenas forte, mas que fosse também livre de desgraças, um país que ele poderia dominar e se transformar em uma das maiores potências do mundo, enquanto Johnny só queria o cadáver sagrado para poder andar novamente. Eu posso amar Johnny como um personagem, mas não posso negar que é uma razão egoísta para querer as partes do cadáver, enquanto Funny Valentine queria transformar a América em um grande país.


Se por um lado Funny Valentine é extremamente patriota e trabalhador para com o seu objetivo de transformar a América em um grande país, sinto que ele é também uma fantástica crítica a Sociedade Norte-Americana.
O presidente Valentine quer melhorar a América... hmmmm, melhorar a América às custas de pessoas que ele nem conhece do outro lado do mundo que ele ignora e não se preocupa...

Soa um pouco familiar.

Sobre as semelhanças entre os ideais de Valentine e o espírito da sociedade norte-americana, o site estadunidense Screwattack, escreveu:

"Comprar sapatos como os da Nike e de outras lojas? Você não é muito diferente de Valentine. Você tem bons sapatos por um bom preço à custa de um casal de chineses ou crianças do Vietnã que você nunca vai encontrar em sua vida e nem se preocupa. Comprar água da Nestlé? Comprar essa água fará uma aldeia indígena/africana que você nunca soube que existiu sofrer por causa da falta de água. De certo modo, seus ideais são muito parecidos com nossos ideais. De certo modo, somos todos Valentine. Vivemos com luxo e saúde relativamente boas porque pessoas que não conhecemos sofrem, e ficamos ricos com guerras em lugares que a maioria de nós não consegue nem encontrar em um mapa. Uma das principais razões pelas quais as pessoas simpatizam com Valentine é porque elas são Valentine em um sentido".


O personagem de Funny Valentine é uma crítica muito eficaz sobre a sociedade norte-americana por esse motivo.

Mas seria o presidente dos Estados Unidos do universo de Jojo's Bizarre Adventure um personagem que encarna a pura vilania ou seria ele um homem muito poderoso dotado de um conceito distorcido de justiça?

"Os Fins Justificam os Meios" - Nicolau Maquiavel (1469-1527)


Valentine segue à risca a filosofia maquiavélica descrita no clássico O Príncipe.
A ideia de "os fins justificam os meios" é na maioria das vezes associada ao incorreto e malvado, mas na verdade a sua veracidade não é tão unilateral. O caso é que sim, algumas vezes os fins podem justificar os meios. Porém, na grande maioria das vezes os fins não justificam os meios.

Aqueles que argumentam contra esta frase, afirmam que na maioria das vezes, os meios trouxeram muito mais danos do que bens a sociedade do que se esperava ao final.
Mas quando sabemos que é 100% provável que um sacrifício trará algo bom ou ao menos não trará algo pior, então podemos considerar a frase "os fins justificam os meios" como algo correto.
Se a pessoa que está usando os ditos meios não está perfeitamente segura dos benefícios que eles trarão, então a frase "os fins justificam os meios" se torna algo imoral. Se esta pessoa não tem 100% de certeza dos resultados positivos e ainda assim está disposta a sacrificar vidas humanas, isso reflete certa inconsciência, insensibilidade ou simplesmente incompetência de sua parte.


Grandes figuras políticas da atualidade como Donald Trump e Vladimir Putin são exemplos de líderes que seguem a filosofia de justificar os meios pelos fins (Uso apenas como exemplo, embora eu não tenha simpatia por nenhum dos dois). Estes políticos podem ser agora criticados, mas talvez no futuro seus críticos possam admitir que eles estiveram certos em determinados pontos se seus programas de governo realmente contribuírem para o bem-estar da população como um todo.

Muitos criticam e muitos apoiam Donald Trump por sua postura com relação a certos temas delicados, e se no futuro, em retrospectiva, as suas políticas se revelarem ineficazes, ele certamente será lembrado como um vilão até mesmo por seus hoje apoiadores.
O caso de Putin é ainda mais extremo. Se por um lado negar que muçulmanos racionais entrem na Rússia para fugirem da violência de seus países pode parecer algo terrível, por outro lado as leis anti-imigração podem proteger um país de um ataque terrorista similar ao que aconteceu na França.


Porfírio Díaz

Na história, um exemplo de político latino-americano que aderiu a filosofia de Maquiavel foi o presidente mexicano Porfírio Díaz (1830-1915), uma de minhas figuras históricas favoritas. Muitos historiadores atualmente se questionam se ele foi um herói ou um tirano.
Quando foi presidente de 1884 a 1911, Díaz precisou ignorar certos setores da sociedade e tomar medidas impopulares, o que o fez ganhar antipatia de parte da população. Mas foi durante o seu governo que o México experimentou um grande crescimento econômico e desenvolvimento das artes e da cultura nunca antes vistos.

Agora, para compreendermos melhor Funny Valentine e o porquê de sua vilania, é necessário viajar na história da própria fundação dos Estados Unidos como nação, por mais espinhoso que possa ser este assunto para alguns.


No Brasil da atualidade, as pessoas se importam com monumentos e museus apenas quando estes estão em outros países ou quando estes estão em chamas. E a idolatria cega aos Estados Unidos por alguns dos nossos setores políticos, leva muitos brasileiros a ignorar completamente a nossa própria história. Eles sonham com um Brasil que não é o Brasil.

Carregando ódio por si próprios, graças a uma poderosa propaganda, muitos brasileiros desconhecem a sua real história. É preciso conhecer a verdadeira história documentada e não se conformar com o modo como ela nos foi transmitida. Isto é essencial para entender porque as coisas são como são e para evitar que erros do passado possam vir a se repetir no futuro.

Uma particular história sobre a colonização dos Estados Unidos, os herdeiros da mentalidade inglesa... (Não se preocupem. No final da postagem deixarei algumas sugestões de bibliografia para quem quiser conferir).

Como os colonizadores do território que hoje é os Estados Unidos a princípio não encontraram riquezas, a solução foi roubar as riquezas encontradas pelos espanhóis.
A nação mais rica do mundo no século XVII era a Espanha, e os ingleses se especializaram em atacar e saquear os galeões espanhóis. Os Corsários, sobre os quais já escrevi em postagem passada, eram piratas contratados pela coroa inglesa para estes trabalhos de pilhagem de navios.
Piratas assassinos sanguinários  como Francis Drake (1540-1569) e Henry Morgan (1635-1688) são considerados heróis nacionais até hoje na Inglaterra!


Corsário Henry Morgan

Lorde Cochrane (1775-1860), homenageado e sepultado na Abadia de Westmister na Inglaterra, era um criminoso pilhador que assaltou São Luís no Maranhão várias vezes.
A colonização do território estadunidense foi à princípio uma empreitada com um objetivo meramente comercial. A história que nos foi passada no Ensino Fundamental de Colonias de Exploração e Colonias de Povoamento é puro delírio.

As colonias da América do Norte não incentivaram o livre mercado, mas a criação de monopólios que visavam apenas ao lucro para a coroa inglesa corrupta.
Além do interesse meramente comercial, na Inglaterra havia muitas seitas religiosas, como os Puritanos que eram mais radicais e também comunistas (Já ouviram a história bizarra de canibalismo na Nova Inglaterra? Certamente uma nota no livro negro do comunismo).
Havia ainda os Hebreus, que desejavam substituir o idioma inglês falado na Inglaterra pelo hebraico.
E também havia os Quakers, uma mistura de comunismo com milenarismo, que se tornaram conhecidos como os fundadores do feminismo. Usavam roupas inteiramente iguais porque eram contra qualquer tipo de hierarquia. Para eles era proibido chamar um homem de "mister", e acreditavam que a terra conquistada na América do Norte era deles prometida por Deus, e os selvagens (leia-se: índios) deveriam ser eliminados.


Personagens muito legais de Steel Ball Run:
Sandman: homem indígena norte-americano.
Pocoloco: homem negro livre.

A visão romantizada dos índios, que anteriormente eram retratados apenas por atos bárbaros de sacrifícios, veio no pós-Segunda Guerra Mundial, quando o índio passou a ser retratado como inteiramente puro e o homem branco como inteiramente mau.

Um dos maiores ícones da Revolução Americana, Benjamin Franklin (1706-1790), alegava ser da providência divina extirpar os índios para abrir espaço para o homem branco. (Curiosidade: Você sabia que Benjamin Franklin levou seu filho para se "abençoado" pelo filosofo iluminista francês Voltaire?). Para George Whashington (1732-1799), os índios eram como loucos e como tais mereciam o mesmo tratamento.

A escravidão nos Estados Unidos era racial, diferente da escravidão que ocorria no Brasil, por mais estranho e contraditório que isto possa parecer. Tanto era que no Brasil um ex-escravo poderia ter os seus próprios escravos (Havia um tipo de acensão social, o que não significa que não há racismo. Negar que há racismo, é negar a realidade).
Nos Estados Unidos era proibido o casamento inter-racial, e há vários casos documentados de negros livres que foram reescravizados... No Brasil, nunca foi "pecado" a mistura de raças.


André Rebouças

Caro leitor, caso ainda não conheça, você precisa conhecer mais a história do Brasil e os nossos icônicos personagens pouco recordados.
Você já ouviu falar de André Rebouças (1838-1898)? Mesmo que você nunca tenha lido sobre ele, tenho certeza de que ao menos já ouviu este nome.
André Rebouças foi um grande engenheiro, inventor, abolicionista e monarquista brasileiro. Um dos maiores brasileiros de todos os tempos na minha opinião.
Ele era um grande amigo do nosso imperador Dom Pedro II (1825-1891). Além de ser um engenheiro brilhante, ele entrou para a marinha e o imperador ofereceu apoio financeiro para que ele viajasse pelo mundo para se aperfeiçoar. Tão bem sucedido que era, André Rebouças chegou a patrocinar financeiramente o compositor Carlos Gomes (1836-1896).
Há uma história constrangedora, entretanto, sobre uma viagem que André Rebouças fez aos Estados Unidos na época... Quando ele chegou a Nova Iorque, não pode se hospedar em nenhum hotel, pelo simples fato de ser negro! Naquela época, era proibido que negros se hospedassem em hotéis de Nova Iorque. E foi preciso um diplomata brasileiro entrar em ação, e explicar aos americanos que André Rebouças era um amigo muito próximo do imperador do Brasil para que ele pudesse encontrar um lugar para ficar. Para vocês terem uma noção do racismo daquele tempo. Um absurdo que causou um problema diplomático.


A independência dos Estados Unidos foi o resultado de uma série de fatores e conveniências como a Guerra dos Sete Anos e o aumento dos impostos sobre as Treze Colônias.
O movimento Iluminista ganhava força, trazendo uma visão utópica de construir uma sociedade perfeita compatível com um tipo de visão messiânica. Até mesmo o presidente Ronald Reagan (1911-2004) citava a "cidade acima da colina" em seus discursos.
As lojas maçônicas também ganharam muita força e espalharam este pensamento, com a elaboração da Constituição durante a guerra de independência, pregando uma separação definitiva entre Igreja e Estado, ao contrário do que neoconservadores brasileiros gostam de alardear (Veja Founding Fathers na imagem acima).

A famosa Festa do Chá, descrita comumente como uma grande revolta contra a opressão inglesa, foi basicamente um protesto organizado por contrabandistas!
A Companhia das Índias Orientais da Inglaterra detinha o monopólio do comércio do chá naquela época, mas nos Estados Unidos havia muitos contrabandistas que também comercializavam o chá. A revolta começou quando a Inglaterra abaixou o preço do chá, e assim os compradores preferiram comprar dos comerciantes originais a comprar com os contrabandistas.
A Festa do Chá teve início com John Hancock (1737-1793), que muitos historiadores apontam como um líder do contrabando. Foi Hancock quem contratou baderneiros para atirarem as sacas de chá dos barcos.

Outro grande mito sobre a história norte-americana é aquele que diz que as Treze Colônias pegaram em armas, enfrentaram e derrotaram um exército muito superior por sua independência.
Sem a intervenção de outras nações interessadas na independência dos Estados Unidos, a Revolução seria impossível. A intervenção da Espanha e da França (em desforra pelas guerras contra a Inglaterra) foi de uma importância fundamental. A Holanda também atuou financiando vários contrabandistas que tinham interesse nessa independência dos Estados Unidos. Sem e intervenção destas nações não haveria independência das Treze Colônias.
A Inglaterra não prolongou a guerra porque as Treze Colônias não eram tão ricas. O Caribe dava mais dinheiro, e já havia muitas promessas comerciais na China e na Índia.
Desde a sua independência, nunca faltou quem bancasse os Estados Unidos. As Treze Colônias não eram ricas, tanto que precisaram usar moeda do México até 1860.


Lincoln, Roosevel, Kennedy e Valentine:
os mais populares presidentes da história.

Mesmo que as Treze Colônias não fossem tão ricas, nunca faltou quem investisse nelas, mesmo com interesses escusos. O segredo do desenvolvimento dos Estados Unidos está nos grandes fluxos de imigração. Os americanos de descendência alemã representam o maior grupo étnico do país (Em grandes áreas do norte dos Estados Unidos, os americanos de descendência alemã superam qualquer outro grupo étnico).
Da Irlanda partiram muitos fluxos migratórios pra os Estados Unidos, principalmente de migrantes que fugiam da Fome da Batata no seu país. Em seu próprio país, os irlandeses eram mantidos em um regime de semi-escravidão pela Inglaterra, e aqueles que se negavam eram enviados para Barbados (Nossos livros didáticos não gostam de tocar em histórias assim, provavelmente porque não gostam de falar mal dos ingleses). E os irlandeses sofreram muita perseguição mesmo nos Estados Unidos.
Com relação ao México, há uma guerra contra este país que os Estados Unidos certamente não gostam de comentar (Um tanto traumática). Mas ironicamente o México perdeu parte dos seus territórios por ter sido enfraquecido durante seu processo de independência.

Certo... Já desconstruímos os mitos da história norte-americana, expomos as deficiências da colonização inglesa e chegamos ao ponto principal da postagem. Agora vou lançar alguns questionamentos... A quem interessa essa campanha de difamação ao povo e a cultura hispânica? Sabemos que a história é escrita pelos vencedores. E quem foram os vencedores? Quem foram aqueles que mais lucraram com a independência das repúblicas latino-americanas? Pense nisso.


"Might is Right" é um termo inglês muito comum em histórias ficcionais. Basicamente pode ser entendido como a "força traz o direito", isto é, o mais forte está em seu pleno direito de ser o vencedor. Mas, mesmo que seja fato que a "história é escrita pelos vencedores", esta forma de pensar é uma falácia.
Alguém ser o mais forte ou o vencedor não faz com que automaticamente ele tenha razão.
"Might is Right" é muito frequentemente utilizado na ficção para caracterizar um super-vilão unidimensional que deseja dominar o mundo. Em quadrinhos é utilizado frequentemente em histórias de super-heróis, e em animê é muito comum aparecer no gênero político ou mesmo no gênero psicológico.


"Might is Right"
Então um quarto do exército particular de Athena a trocou
por um esquizofrênico bipolar doidão porque força é justiça.

Estabelecer que alguém está correto porque este tem poder é uma falácia monumental, e este tema pode ser muito mais complexo.

Nas guerras armadas, quem você crê que deveria ganhar? A sociedade barbárica que atacou com lanças e pedras ou a civilização que se esforçou o suficiente para ser avançada, que trabalhou para construir armas mais poderosas e estratégias mais sofisticadas? O vencedor poderia seguir uma ideologia que não é incorreta de um ponto de vista frio. A verdadeira justiça seria que a vitória e o reconhecimento sejam dadas ao personagem que se esforçou mais em obtê-los.

Desta perspectiva, é injusto que o vilão que se esforçou durante anos, sendo paciente, inteligente, calculador e dedicado, seja derrotado pelo protagonista de pouco cérebro que usou apenas de força bruta e power-ups convenientes para ganhar a luta:


Com estes arquétipos, é comum que muitos fãs do gênero Shonen de luta, quando alcançam a maturidade, inevitavelmente acabam apoiando muito mais o vilão do que o herói. E as coisas ficam ainda mais complicadas quando voltamos novamente a frase de Maquiavel: "Os fins justificam os meios".

Funny Valentine também representa o melhor e o pior que os políticos têm para oferecer.
Ele é excelente quando precisa escapar das situações e manipular as pessoas, e até se convenceu legitimamente de que está fazendo tudo com desejos desinteressados ​​e que no fim está certo.

Dio Brando sabia o quanto ele era malvado por desejar roubar a fortuna dos Joestar e o como foi terrível matando seu pai e seu irmão de criação.
Kars tinha plena consciência de que era um ser perverso.
Yoshikage Kira era perturbado mentalmente, mas era inteligente e frio. Ele sabia que era um ser muito cruel, mas decidiu continuar a viver sua vida "normal" de assassinatos. São as escolhas que fazem um homem ser um homem.
Diavolo tinha consciência de que não havia uma crueldade maior para um pai do que desejar a morte da sua própria filha.
Funny Valentine e Enrico Pucci são vilões complemente diferentes destes primeiros. Por mais que eles cometessem atos bárbaros, imorais e altamente condenáveis, dentro do ponto de vista deles, os dois eram os heróis das suas próprias histórias. E de fato muitos simpatizam mais com o presidente e o padre negro do que com os heróis porque eles de algum modo provaram os seus pontos de vista.
A ciência lida com evidências e a religião com a fé. Valentine é um homem que tem fé, fé em seus próprios ideais. E esta sim é a verdadeira religião dos Estados Unidos: o patriotismo e o nacionalismo.

Valentine consegue se enganar ao pensar que suas ações estão corretas, pensando que é o herói em sua própria história, constantemente justificando para si mesmo cada coisa horrível que faz.
Honestamente, você já conheceu alguém que justifica suas ações dizendo que é a coisa certa a fazer. Até mesmo políticos como George Bush fizeram isso, acreditando que invadir o Iraque depois da terrível tragédia de 11 de Setembro era a coisa certa a se fazer, embora, graças à retrospectiva, sabemos que esse não foi o caso. Não queremos romantizar a ditadura sanguinária de Saddam Hussein, mas este trazia uma estabilidade àquela região que hoje não vemos mais, com grupos minoritários sendo massacrados por grupos terroristas que dominaram e desestabilizaram o Iraque.


O que faz de Valentine um grande vilão é que ele é humano - e é isso o que mostra com suas interações com Johnny e Lucy. Ele não é um vilão genérico e não é cruelmente cruel como Dio Brando. Ele certamente é uma pessoa completamente má e não há como negar, embora você poderia argumentar que suas ações eram justificadas.

Apesar de todas as suas terríveis ações, há momentos em que parece que você não apenas pode simpatizar com ele, mas também confiar nele. Ele sabe como se tornar humano para seu público. Um dos melhores exemplos disso é quando ele conta a Johnny sobre suas tentativas de procurar por seu pai em outras dimensões (graças ao poder do seu Stand "D4C").
Ele sabe como manipular e controlar as pessoas através de suas fraquezas e desejos egoístas. É quando ele "mostra" sua justiça e honra, entregando a um ferido Johnny o "Cream Starter" (o Stand independente de Hot Pants) para curar todos os ferimentos resultados da luta entre os dois.
Johnny realmente quer acreditar nele, porque no fundo acredita ser uma pessoa muito fraca e má. Ele consegue mesmo prometer a Johnny exatamente o que este quer. Isso é mostrado com sua tentativa de convencer Johnny de que poderia substituir seu valioso amigo morto Gyro por outro Gyro de alguma outra dimensão. Ele é um político incrivelmente habilidoso.


Em geral, ele é um grande personagem, um verdadeiro americano como realmente se preocupa com seu país e quer vê-lo prosperar. Ele pode ter cometido algumas ações terríveis no passado, mas realmente acredita que tudo isso foi feito para tornar a América um grande país.
Ele quer que a América esteja no seu melhor - ele não quer que ela fique para trás. Eu também sinto que ele é uma crítica muito eficaz a sociedade norte-americana na medida em que o "Love Train" é uma grande representação das pessoas que não se importam que outras pessoas tenham sofrido muito para tornar suas vidas melhores. Ele representa as boas e más opiniões e ideais da América. Ele é tão bom, na verdade, que até convenceu alguns leitores do mangá.


Sério, se você já viu blogs e comentários sobre Steel Ball Run, existem algumas pessoas que dizem que o verdadeiro vilão de Steel Ball Run foi Johnny Joestar e que as ações de Funny Valentine estavam certas. Muitas pessoas estavam convencidas de que ele estava certo, mas depois descobrimos a arma nas costas dele, consolidando suas intenções e destino. E ironicamente ele poderia matar Johnny, mas por um segundo hesitou, e isso selou seu destino.

Você sabe que vilões são bons quando eles são capazes até mesmo de convencer o público de que eles estão certos, e Funny Valentine é um desses vilões. Eu recomendo que você leia Steel Ball Run e experimente a grandeza de Funny Valentine. É altamente recomendado.

Bibliografia Recomendada:

1. ATALLI, Jacques. Os Judeus o Dinheiro e o Mundo. São Paulo: Futura, 2002.
2. BILLIGTON, James. Fire in the Minds of Men. New York, Routledge, 2017.
3. BROWN, Stephen R. Merchant Kings. New York: Thomas Dune Books, 2009.
4. COOPER, John. Woodrom Wilson. New York: First Vintage Books Edition, 2011.
5. DILLORENZO, Thomas. The Real Lincoln. New York: The Rivers Press, 2003.
6. FERGUSON, Niall. Colosso. São Paulo: Planeta, 2011.
7. FERGUSON, Niall. Império. São Paulo: Planeta, 2003.
8. FOLSOM, Burton. New Deal or Raw Deal? New York: Threshold Editions, 2008.
9. GRRENBERG, Amy. A Wicked War. New York: First Vintage Books Edition, 2012.
10. GOODWIN, Doris K. Tempos Estranhos. New Fronteira, 2001.
11. JAMES, Lawrence. The Rice and Fall of the British Empire. New York: St Martin's Griffin, 1994.
12. JUDT, Tony. Postwar: A History of Europe since 1945. New York: Penguim Books, 2005.
13. LANDES, David. The Wealth and Poverty of Nations. New York: Norton, 1998.
14. LUCKAS, John. Uma Nova República - História dos Estados Unidos no século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
15. McPHERSON, James. Battle Cry Freedom. Oxford University Press, 1988.
16. MORGAN, Edmund. The Challenge of the American Revolution, New York: Norton, 1978.
17. PAINE, Thomas. Common Sense.
18. REYNOLDS, David, One World Divisible. New York: Norton, 2001.
19. SUTTON, Antony. Wall Street and the Bolshevik Revolution. Clairview Books, 2011.
20. TAYLOR, Alan. American Colonies. New York: Penguin Books, 2001.
21. TZOULIADS, Tim. The Forsaken, Penguim Books, 2008.
22. WEEKS, Albert. Russia's Live-Saver. Plymouth: Lexington Books, 2010.

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