domingo, 7 de setembro de 2014

ANO DE ELEIÇÕES: POLÍTICOS, VILÕES TAMBÉM NA FICÇÃO


Como estamos em ano de eleições, não poderia deixar de fazer uma postagem inteiramente dedicada ao tema. Aqui vamos demonstrar como os nossos eleitos já foram capazes de exercer um perfeito papel como vilões em diversas histórias ficcionais. Mas antes de prosseguirmos com a matéria, é importante deixar claro que tudo o que escrevi apenas faz parte da minha opinião, sou apartidário, mas não devo esconder que tenho as minhas próprias convicções políticas, e acredito que todos os meus leitores devem ter as suas próprias também.
Estamos em um período de reflexão, um momento em que devemos estar ainda mais conscientes dos nossos deveres como cidadãos e, no momento em que realizarmos o exercício cívico do voto, possamos escolher os melhores candidatos que ocuparão os cargos políticos mais importantes do nosso país. E saber selecionar o candidato certo é de importância vital para a nação.
Achei que seria interessante debater um pouco sobre o tema utilizando um pouco das histórias ficcionais (quadrinhos, mangás, etc.) em que a política é um tema bem abordado e nas quais muitas vezes os políticos são retratados como grandes vilões das histórias, dando muita dor de cabeça para os nossos heróis.
Para começar podemos citar um caso bem interessante que aconteceu nos quadrinhos, com Wally West, o super herói Flash, lá pelo fim dos anos de 1990, em uma história de Mark Waid e Paul Ryan.
Nesta ocasião, a prefeitura de Keystone City chegou a conclusão de que o herói velocista era culpado por nove entre dez males que assolavam a cidade. Mas tudo isso foi só porque o prefeito estava à procura de um bode expiatório para se reeleger, e ele chegou até mesmo a exigir um afastamento do Flash e até enviou um técnico em contabilidade para calcular os danos causados em cada atividade do herói.


Assim restou a West  continuar morando em Keystone City e também atuando como Flash por um tempo na cidade litorânea de Santa Marta, até que o Major Desastre apareceu e inundou todo o lugar.

Outro super que também tem seus problemas com os engravatados é o Superman. O maior de todos os heróis da DC Comics, desde que começou a atuar no ramo, sempre foi visto com desconfiança pela alta cúpula, especialmente pelo exército, que temia uma possível rebelião do Kryptoniano.
Por exemplo no arco Nova Krypton, vemos um plano maquiavélico do sogro do herói, o General Sam Lane, para eliminar de uma vez por todas a “ameaça alienígena”, fazendo de tudo um pouco, desde libertar Apocalypse e utilizá-lo para atacar o presidente e até incriminar o Superman como terrorista ao lado de seus conterrâneos.
E não podemos deixar de mencionar o maior inimigo do Homem de Aço que conseguiu até mesmo ocupar o cargo mais importante do país. Sim, Lex Luthor já foi eleito presidente dos Estados Unidos e, o mais incrível, jogando limpo, sem trapaças. Claro que ele fez muitas coisas por baixo dos panos, como formar aliança com sujeitos como o General Zod e Darkseid. Inclusive Luthor planejou o assassinato da namorada de Bruce Wayne, Vesper Fairchild, e ainda o incriminou por ter tirado os contratos militares das empresas Wayne com o exército.


E por falar em Batman, o Cavaleiro das Trevas também teve alguns problemas com os chamados chefes de estado. Além de confrontá-los na minissérie "Batman: Conspiração", ainda teve de ver a sua cidade devastada por um terremoto e separada do resto do país como uma terra sem lei na saga "Terra de Ninguém". 


Esta saga é uma sequência direta da saga "Terremoto" e é ainda mais tensa, onde vemos Gothan que fora derrubada pelo terremoto e as ruas separadas pelos escombros, favorecendo a divisão da cidade pelos grandes do submundo em territórios. E em meio à falta de água e comida qualquer coisa vale como moeda de troca por proteção, e os crimes acontecem de forma absurda.

Mas não dá para falar de DC Comics sem falar também de como as questões políticas também são profundamente abordadas nas histórias do grupo de super heróis Watchmen. Maravilhosa foi a saga de Allan Moore, na qual o que percebemos é que a todo momento o governo procura tomar as rédeas da situação. 
Basta lembrar por exemplo do surgimento do Dr. Manhattan, que, logo após fazer a sua primeira aparição, o governo dos Estados Unidos deu um jeito de transformar a figura do herói na imagem do poderio americano e, mais tarde, é o mesmo governo que vai tentar reprimir as atividades dos vigilantes.


Criados por Alan Moore e Dave Gibbons, esses heróis tiveram que lidar com toda forma de política. Primeiro o Ato Keene, votado pelo Congresso Nacional, que baniu todos os vigilantes mascarados, destituindo os heróis da condição de defensores da sociedade. Os defensores do Ato Keene eram normalmente cidadãos comuns, a mídia liberal e até mesmo alguns poucos heróis e vilões. Essa lei foi uma das primeiras vezes nos quadrinhos em que o governo interferiu na vida dos heróis. Fato parecido também nas histórias da Sociedade da Justiça e também em uma das mais conhecidas mega sagas da Marvel Comics, como veremos mais adiante. O segundo maior obstáculo para os justiceiros viria a ser a Guerra Fria, com o presidente Nixon e a União Soviética à beira de um Apocalipse nuclear.

No século 20, as histórias em quadrinhos procuraram mostrar bem mais este caráter de controle sobre os super vigilantes. Isto é provado em várias séries publicadas no selo Marvel Max, Poder Supremo e Esquadrão Supremo, de J. Michael Straczinsky.

Hyperion
Muito interessante é o personagem Hyperion, membro do Esquadrão Supremo. Ele tem uma origem que emula a do Superman, mas é um personagem mais sombrio e tenebroso. Tal como o Homem de Aço, ele também veio do espaço e também é encontrado por um casal de fazendeiros, mas os dois acabam sendo assassinados  por oficias do governo, que adotam o pequeno alienígena e o levam para ser treinado e doutrinado para ser obediente as leis do país, ao lado de outros meta humanos, que são até mesmo enviados ao Iraque a fim de derrubar regimes totalitários. Mas claro que com o tempo as coisas mudam.


Resumindo, o Esquadrão Supremo seria como a Liga da Justiça da DC Comics, mas aqui o grupo é totalmente controlado pelo governo do país. 

Os maiores clássicos sobre questões de interferência política realmente ocorreram na editora da Marvel Comics. Se pegarmos por exemplo as histórias dos X-Men, vemos como o governo lidou desde o começo com a questão mutante, confiando ao cientista Bolívar Trask a missão de criar aberrações como os Sentinelas, para caçar uma parcela da população que nasceu diferente. Se você não leu, talvez tenha visto o último filme do grupo, "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido", que nos apresenta muito bem como tudo isso aconteceu. E foi esse mesmo governo que quase aprovou a terrível Lei de Registro Mutante, e também podemos falar sobre eventos pós-Dia M, quando boa parte da população mutante perdeu os poderes e foi segregada em campos de confinamento.
Nos últimos anos os quadrinhos tiveram muitas histórias que eram claras críticas em relação a postura política diante da comunidade heroica.


Foi a mega saga Guerra Civil, escrita por Mark Millar, que realmente estremeceu as bases não apenas para os heróis, mas entre eles.
Bem, a esta altura do campeonato, dificilmente deve haver alguém que não saiba do que se trata este evento, mas vale uma rápida explicação: Os Novos Guerreiros causaram um acidente que levou cerca de 600 pessoas a morte, incluindo muitas crianças, em uma explosão numa cidade no interior dos Estados Unidos e por isso o governo aprovou a Lei de Registro Super Humano, que obriga cada super humano ou vigilante do país a registrar sua verdadeira identidade junto ao governo, sendo que a recusa poderia até mesmo levar a prisão.
A lei dividiu os heróis entre os defensores da lei como manutenção de suas atividades e os que a viam com maus olhos, como um tipo de repreensão ditatorial. O Capitão América surpreende a todos os leitores ao ficar pela primeira vez na história contra o seu próprio governo e assim vira um justiceiro clandestino e é obrigado a enfrentar o maior defensor da nova lei, o Homem de Ferro.


A cena acima (o soco do Homem de Ferro no rosto do Capitão América, que fica todo desfigurado) resume muito bem o que foi esta saga, que trouxe consequências até os dias de hoje ao universo da Marvel Comics, mas as opiniões dos leitores atualmente se divergem. Muitos acham a fase fantástica, mas por outro lado existem aqueles que não conseguem se conformar com alguns acontecimentos e muitos até hoje não conseguem perdoar Tony Stark pelo o que ele fizera. Sem falar que esta fase foi responsável pelo pacto do Homem Aranha com o Mephisto (!), mas este assunto pode ficar para alguma postagem futura.   


O confronto entre os heróis é apenas um dos grandes problemas. Além da opinião pública ter reagido de forma muito negativa, o governo ainda transformou super vilões em um grupo de mercenários ao seu serviço, chamado Thunderbolts, e os colocou para caçar os heróis que não aceitaram o registro. É o que parece, os Thunderbolts são realmente uma cópia do Esquadrão Suicida da DC Comics, embora possuam alma própria. 
Sem falar que o governo chegou ao cúmulo de tornar Norman Osborn, ninguém menos do que o maior inimigo do Homem Aranha, o Duende Verde, Secretário da Segurança Nacional, logo após a saga da Invasão Secreta.

Em muitos mangás, famosos ou não, o tema da política foi utilizado. E na grande maioria das vezes, refletia a época e a situação política e econômica na qual na qual o Japão se encontrava. 
"Akira", de Katsuhiro Otomo, foi um mangá lançado em meio à crise ocasionada pela bolha imobiliária no Japão, que durou de 1986 a 1991.
Mesmo que o mangá tenha sido iniciado antes desse período, é possível perceber alguma influência da situação política no filme animado lançado na época. Enquanto o mangá é mais espiritual, o animê pega um rumo mais político e filosófico.


O ano é 1988 e estourou a Terceira Guerra Mundial. O Japão foi bombardeado mais uma vez e o efeito é devastador. Passados 31 anos desse episódio, o mundo está sendo reerguido. A sociedade se torna cada vez mais complexa, onde todos querem ter algum poder sobre os outros: gangues, grupos revolucionários, órgãos governamentais, seitas religiosas, dentre outros. Em meio à decadência, o clima de incertezas, o caos, um Estado policiado, disputas entre gangues, a luta por liderança e poder se torna comum e o povo é ainda deixado totalmente de lado por um governo extremamente capitalista. O mundo não é mais o mesmo.


Sendo um momento de grande desenvolvimento para o Japão, na época em que a história foi escrita, e anterior à grande crise econômica que atingiu o arquipélago a partir da década de 1990, a enorme evolução tecnológica e econômica era o que indicavam até mesmo as mais simples análises da situação do país. Otomo, entretanto, buscou mostrar o lado sombrio de todo esse desenvolvimento, não só pelo caráter social apresentado durante o filme, mas pelo exemplo dado em relação ao próprio personagem Tetsuo, o poderosíssimo telepata que outrora fora um jovem fraco que não sabia bem se defender, e perde o controle de si mesmo ao receber poder demais, o que acaba sendo a razão de sua própria destruição, em uma suave metáfora.

Falando agora de uma obra mais conhecida na atualidade, gostaria de citar o espetacular animê/mangá "Hunter X Hunter", da autoria de Yoshihiro Togashi, e falar em especial sobre o arco das Chimera Ants, que é um espetáculo à parte. Cheio de cenas épicas, muita tensão, batalhas estratégicas, cabeças rolando e momentos de pura filosofia e reflexão, enfim temos de tudo nesse arco.


Há uma passagem no referido arco em que nossos heróis Gon e Killua chegam a República de East Gorteau, país que fora invadido pelas Chimeras Ants e completamente dominado por estas perigosas criaturas. Aquele é um lugar que Killua já conhecia graças ao fato de seu avô ter feito um trabalho por lá décadas antes. E aqui Togashi não perde a oportunidade de satirizar ferozmente a Coréia do Norte, um dos mais vergonhosos regimes ditatoriais da atualidade.
Em muito East Gorteau se parece com o país que nós melhor conhecemos. Sendo uma das nações da União Mitene, é governada pelo líder supremo Ming Jol-ik (he, he), uma nação isolacionista, com grande parte do povo vivendo marginalizada. Meruem, o rei das Chimeras Ants, inclusive ficou muito furioso com a pouca inteligência e a inabilidade daquele ditador.
O líder Ming Jol-ik criou um sistema de informantes, recompensado por espionar e punir traidores, e até famílias são divididas e utilizadas como reféns para garantir o bom comportamento dos outros. 
Eu acredito que Togashi configurou as Chimeras Ants como seres tão terríveis e odiosos quanto possível, só para esculpir lentamente as distinções morais entre eles e a maior parte da raça humana enquanto este arco progredia. E ele fez um ótimo serviço denunciando os males do totalitarismo, coragem que poucos tem nos dias de hoje.

Mas falando em Yoshihiro Togashi, não devemos deixar de mencionar o arco que sucedeu ao "Chimera Ants" em "Hunter X Hunter". Com a morte de Netero, presidente da organização dos Hunters apresentada no mangá, era necessário escolher alguém capacitado para liderar o grupo, e aqui o autor faz uma sutil crítica ao sistema eleitoral ao colocar na história o nosso querido aspirante a doutor, Leorio Paradinight, que tornou-se o centro das atenções por causa de um motivo sensacionalista e, quando ele menos esperava, já estava concorrendo ao cargo de presidente e quase vencendo a eleição. Suas motivações eram puras e sinceras, mas ele não era capacitado para o cargo.
Togashi sabe fazer crítica social de forma bem divertida e interessante, sendo que, nesta fase do mangá de "Hunter X Hunter", foi até didático ao apresentar o funcionamento do sistema de votos e o jogo de interesses entre candidatos e seus apoiadores, personificados na disputa entre Leorio e o "vilão" Pariston Hill, vice-presidente da associação e retratado como um patriota de Extrema Esquerda e com a inteligência de um Lex Luthor.

Até mesmo um mangá mais "inocente" como "Kinnikuman" retratou os políticos de tal regime descrito anteriormente como uma pedra no sapato dos heróis. 
"Kinnikuman", o animê/mangá, acontecia na década de 1980, ou seja, o mundo encontrava-se em meio a Guerra Fria. E eram emocionantes os valores de amizade e companheirismo transmitidos pelos campeões da luta-livre mesmo pertencentes a nações tão distintas e antagônicas diante da possível guerra que poderia devastar todo o planeta.
O lutador russo Warsman passou pelo problema mais comum que todos nós enfrentamos com os políticos: promessas não cumpridas.


Sendo ele um Robot Choujin (um super lutador meio-homem meio-máquina), tornou-se membro da federação de luta-livre da União Soviética a pedido de agentes do governo que lhe garantiram que finalmente sairia da miséria e se consagraria um campeão como fora seu pai Mikailman, além é claro de aumentar o prestigio da sua nação. 
Warsman tinha um grande desejo de trazer justiça social para o seu povo e concordou com a proposta, mas tamanha foi a sua decepção quando, após intensos treinamentos e experimentos pelos quais passara, descobriu que se tornara mera propriedade da SKGB.
Todos os Choujins soviéticos deveriam fazer parte de um registro e tornaram-se máquinas que lutariam pela soberania do império soviético. Sua liberdade fora literalmente confiscada pelo governo. Mas é claro que Warsman não deixaria isso por menos.

Agora citando um dos animês/mangás mais queridos e populares atualidade, vamos falar de "One Piece", do mangaká Eichiro Oda. Uma obra que surpreende qualquer um. Para quem pensa que a saga de Monkey D. Luffy e o seu bando de piratas, é mais um daqueles animês/mangás tipo pancadaria total e totalmente inocente, que temos aos montes nos dias de hoje, se surpreende ainda mais com os valores e as críticas sociais que a obra transmite.
Aqui vou fazer um destaque completo ao vilão da saga atual na qual o mangá se encontra, o pirata Donquixote Doflamingo. Esse vilão ainda não teve suas ações e seu passado totalmente esclarecidos, mas ele já é para mim o maior de todos os inimigos que Luffy já enfrentou. Ele é um grande mentiroso, mau caráter e injusto, sem falar que é poderoso pacas, tendo comido o fruto Ito Ito, que lhe deu o poder de produzir teias com os seus dedos, que o permitem ligar-se as nuvens, gerando uma habilidade de voo, além de também lhe darem a capacidade de aprisionar, cortar e, o mais terrível, manipular os seus inimigos como se fossem marionetes. Sem falar que o apelão ainda possui aquele poder do Haki do Conquistador.


Doflamingo é um vilão espetacular, possui uma grandiosa reputação como pirata roubando o dinheiro dos Nobres Mundiais, os Tenryuubitos, e ainda chantageando o Governo Mundial para conquistar o cargo de Shichibukai. E ele também é dono de um país inteiro, Dressrosa, que ele dominou após usurpar o trono do seu verdadeiro governante o rei Riku Dold III.
Donquixote Doflamingo é um subversivo. Ele conseguiu enganar a todos de Dressrosa, o rei e o povo. Fez com que Riku fosse acusado de roubar todas as posses já escassas das pessoas de Dressrosa e ainda de organizar um extermínio generalizado com a ajuda dos seus soldados reais. Quando a verdade era que Doflamingo simplesmente controlou a todos eles usando os seus poderes para força-los a cometerem tamanho crime. E tudo isso para depois surgir, acompanhado por sua tripulação pirata, como um herói e ser aclamado por todo o povo como o salvador que acabou com a tirania do antigo rei.
Esta história é muito parecida com o que já vimos em certas pequenas ditaduras da história contemporânea. Dressrosa era um reino pobre, havia desigualdade social, e Doflamingo, usando da mentira e da subversão, acabou chegando ao poder. Ok, ele era realmente descendente dos Tenryuubitos e pertencente à casta real com o direito legítimo de governar, mas vejam só os métodos por ele utilizados. 
E ele não trouxe igualdade social, apenas mais injustiças, pão e circo para o povo e prisões e execuções para todos os supostos "inimigos do povo", que na verdade seriam aquelas pessoas que não concordavam com a sua permanência na poder. Tais métodos são como os vistos em regimes totalitários e até em outros governos mais moderados, mas que bem sabemos que apoiam os primeiros. E esta realidade é ignorada por certos defensores "intelectuais" que não podem sequer suportar a presença de pessoas com ideias divergentes das suas.

Bem, o assunto agora é um tanto mais pesado. E vai ficar ainda mais depois.
Poucos devem conhecer o mangá que podemos afirmar sem dúvidas que se trata da obra mais chocante e sombria de Osamu Tezuka. Sim, ele mesmo! O mangá "MW" é uma das maiores críticas sociais já vistas em um quadrinho. E o principal motivo da sua existência foi um momento extremamente tenso na história do Japão, onde o povo japonês encontrava-se muito decepcionado e insatisfeito com o seu próprio governo, devido a revelação de uma cooperação secreta entre o governo do Japão e o governo dos Estados Unidos, no pós-Segunda Guerra Mundial.
No mangá, Garai (um dos protagonistas) menciona certo incidente de envenenamento que ocorrera perto de Okinawa, que logo acrescenta um subtexto para a história. Okinawa é uma coleção de ilhas outrora independentes. Durante a batalha de Okinawa na Segunda Guerra Mundial, não só muitos de seus civis eram  mortos por soldados americanos, mas o exército japonês, no comando do governo, forçava civis a cometer suicídio em massa. Okinawa permaneceu sob o controle dos EUA e, em 1960, o Japão e os EUA entraram no Tratado de Cooperação e Segurança Mútua. Fora autorizada a estação de tropas americanas em solo japonês. Ainda sob a jurisdição dos EUA, Okinawa foi então usada pelo seu exército como uma de suas bases estratégicas durante a Guerra do Vietnã.
Okinawa foi devolvida para o Japão em 1972, mas os EUA mantém uma presença militar concentrada lá até hoje. 


Originalmente publicado na revista Comic Big entre 10 de Setembro de 1976 e 25 de janeiro de 1978, "MW" é um thriller assombroso, que revela um inquietante lado obscuro de Osamu Tezuka (autor de maravilhas como "Astro Boy", "Budha" e "Adolf ") e dá um novo exemplo de seu ecletismo e versatilidade. "MW" concentra-se em retratar o mais desagradável da condição humana em suas mais variadas expressões. Sadismo, a corrupção política, a hipocrisia, os ataques terroristas e o servilismo do Japão para com os Estados Unidos estão entre as questões abordadas nesta pouco conhecida obra do Deus do mangá, como uma crítica ácida e documentada da sociedade japonesa da época, abalada por escândalos reais.
Foi uma obra que quando conheci não me agradara, considerando-a apelativa e ofensiva. Mas analisando melhor a mensagem crítica que Tezuka queria passar, acabei compreendendo o porquê de tudo o que estava ali. Como sempre, vale bastante entender o contexto histórico no qual a obra fora produzida. Afinal "um texto fora de um contexto é um pretexto". E a utilização de um tema religioso foi muito interessante, com o atormentado Garai no fim sendo entregue ao martírio pelo bem de toda a humanidade.

E já que acabei falando sobre o tema religioso abordado em "MW", vou falar agora sobre o delicado assunto que é a mistura explosiva entre política e religião.
Voltando aos quadrinhos ocidentais, é impossível não falar em como este tema foi explorado de forma fantástica durante a maneiríssima fase de "Os Novos Titãs" da DC Comics com a dupla George Pérez e Marv Wolfman.
O Irmão Sangue é para mim o maior vilão enfrentado pelo grupo de super heróis adolescentes da DC. Sim, porque considero o Exterminador mais como antagonista do que como vilão.
Líder supremo da Igreja do Sangue, o Irmão Sangue nasceu em Zândia, um pequeno país que pode ser considerado a "lixeira" do mundo, já que é habitado principalmente por criminosos, terroristas, assassinos, ex-ditadores, enfim, todos aqueles que são procurados pela polícia de alguma parte do mundo. E eles ajudam a encher os cofres da Igreja do Irmão Sangue em troca de proteção.


Existem várias filiais das igrejas do Sangue pelo mundo e muitos de seus fiéis ocupam cargos elevados em governos nacionais proeminentes, o que tornou a seita muito mais difundida.
Como já devem imaginar, o objetivo desta seita é dominar o mundo. A Igreja do Irmão Sangue faz uma verdadeira e literal lavagem cerebral, sobretudo nos mais jovens, muitos deles outrora rebeldes ou entregues às drogas, tornando-os fanáticos. No congresso norte americano há muitos seguidores da seita que defendem o trabalho da igreja por transformarem jovens delinquentes em jovens "exemplares", mas a verdade é outra.
Jovens, cuidado com as seitas! Batalhem por suas mentes!
Tal é a proximidade do Irmão Sangue com o governo dos EUA que houve até uma negociação aberta sobre o possível envio de armas militares para Zândia para supostamente serem usadas na batalha contra o tirano governante daquela nação, que aliás também é controlado pelo líder espiritual.


E esta igreja ainda tem o apoio de uma grande emissora de TV na figura da jornalista Bethany Snow, também membro da seita e responsável por uma feroz companha contra os Titãs!
É, esse Irmão Sangue parece MUITO com um certo "profeta" brasileiro que nós bem conhecemos. E pode também ser facilmente confundido com outros tantos.
Como Wally West (na época ainda um Titã) bem disse: "O pior de tudo é que uma igreja podre como esta pode manchar a imagem de qualquer crença religiosa".

Vocês tem algum problema com nossas animações nacionais? Eu particularmente curto a maior parte delas. 
"Brichos" é uma série infanto-juvenil bacaninha e feita do jeito que eu gosto, estrelada por adoráveis furries animaizinhos da nossa fauna brasileira. É um desenho divertido e também crítico, tendo como objetivo despertar a consciência cidadã das crianças e ainda estimular conversas e reflexões em casa e na escola, entre pais e filhos, tios, amigos, alunos e professores.
O assunto sobre política e religião é discutido com bastante ousadia e irreverência em um episódio em particular da série.

                           

É no episódio 7 da 1ª temporada do desenho, intitulado de "O profeta", que surge um sujeito estranho e bem esteriotipado, fazendo discursos em praça pública sobre o fim dos tempos. Trata-se de um leão, chamado Léo do Céu, e ele vai agregando vários adeptos, tornando-os fanatizados. À medida que o seu poder aumenta, ele se candidata a prefeito e promete acabar com a democracia, pois ela é coisa "do Demo".
Politicamente incorreto na medida certa! Do jeitinho que eu gosto!

Saindo agora da ficção e para encerrar, vou dar minha opinião. Mas por favor, é apenas a MINHA opinião. Não tenho a intensão de forçar ninguém a mudar a forma de pensar. 
Neste ano aconteceu um tipo de "marcha da família" que não passa de uma caricatura do que vem a ser a defesa legítima de instituições como a família e a religião na vida da sociedade civil. Em outras palavras, um simulacro da mentalidade conservadora que demonstra a grande confusão que há entre “Intervenção Constitucional” e “Golpe de Estado”.
O conservadorismo não deveria pretender congelar o passado. O conservador considera sim, ao voltar-se para a sua consciência, a ordem das coisas permanentes e, por isso, rejeita o modo de viver de homens ocos e infantilizados.

Apesar do que muitos podem pensar, a exceção do Cristianismo, mistura entre religião e estado sempre esteve presente na história da humanidade. E eu acho errado tanto aqueles que deturpam o sentido de Estado Laico, quanto aqueles que consideram o Estado Laico apenas quando lhes convém. No caso da Cristandade, há uma Igreja que é independente dos Estados sem competir com ele e sem ser um estado ela mesma.

O cardeal Wolsey e Sir Thomas More
A disputa entre Henrique VIII e Sir/São Thomas More é um fato fundamental para a compreensão da noção moderna de Estado Laico. Divisão cuja longa história remonta à Revolução Papal do século XI iniciada pela reforma de Gregório VII.
Thomas More foi um humanista, um homem das leis, um dos maiores intelectuais da Idade Média, aliando muito bem a sua fé às novidades trazidas pelo Renascimento, um homem que foi admirado até pelos detratores da sua fé. Ele foi o primeiro leigo a tornar-se chanceler do reino da Inglaterra, mas abandonou o seu cargo por não concordar com os rumos que o governo estaria impondo a Igreja em seu país, nunca trairia a sua consciência e os seus ideais.
Assisti novamente ao filme clássico dos anos 60, "O homem que não vendeu a sua alma", um dos maiores de toda a história do cinema, onde ele é representado pelo grande e saudoso ator Paul Scofield. E aqui gostaria de deixar um dos momentos favoritos da história:

 

Muito foda!

Curiosamente, ele fora declarado pela Igreja patrono dos políticos. O que é uma grande ironia, afinal fora traído pelos próprios políticos e entregue ao martírio. 

Encerramos aqui esta massante postagem e, por mais que possa parecer repetitivo, não custa nada lembrar para votar com consciência.

Créditos pelas informações sobre quadrinhos ao 100grana.

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