segunda-feira, 30 de novembro de 2020

POR QUE X-MEN THE ANIMATED SERIES AINDA É A MELHOR ANIMAÇÃO FEITA PARA A FRANQUIA?

X-Men the Animated Series foi uma animação diferente de quase todas as demais de sua época, os já longínquos anos 1990. Isto ajudou a revigorar os desenhos animados das manhãs da Rede Globo e também acendeu a rivalidade entre as produções americanas e japonesas, sendo estas transmitidas especialmente através da finada Rede Manchete, onde se destacavam Os Cavaleiros do Zodíaco e inúmeros tokusatsus exibidos na época, como Cybercops.

Mas o que fez esta versão dos X-Men se destacar? 

Principalmente, os seus personagens que contavam com uma profundidade ainda notável. 

Os mutantes poderosos integrantes do elenco tinham suas próprias histórias, lutas contra o preconceito e a intolerância e até mesmo debates políticos. 

Os seus enredos eram densos e com continuidade de episódios semelhante ao estilo já consagrado pelas produções japonesas, os animês. Além disso, havia também capítulos retirados diretamente das páginas dos quadrinhos clássicos dos X-Men para o deleito dos leitores mais antigos do grupo de super-heróis.

Não era necessário ser um leitor assíduo das HQ's para ser cativado pelo seriado. O nível da narrativa era muito atraente para os fãs dos mutantes da Marvel Comics e conquistava os espectadores mais jovens.

Muitos daqueles que hoje se consideram fãs dos X-Men tiveram o seu primeiro contato com os personagens graças a esta animação. Muitos dos personagens presentes desenho foram apresentados a mim desta maneira. 

A equipe do programa lutou contra os produtores que tentavam demolir seus orçamentos, a ridícula integração de merchandising, bem como o problema de ter seus escritores na Califórnia, dubladores no Canadá e animadores na Coreia do Sul, mas a série superou todas as expectativas. 

Listados a seguir estão os principais temas explorados pela série e que tanto contribuíram para conquistar o público não casual de quadrinhos e que poderiam colaborar para a produção de obras similares. 



Um programa sobre exclusão social

Minorias e desprivilegiados sociais há muito se veem nos X-Men, e a Fox estava muito consciente disso, o que resultou na introdução de Bishop, um dos personagens convidados mais memoráveis ​​da animação. 

Curiosamente, Bishop era ainda um personagem desconhecido para os leitores brasileiros das HQ's e, por isso, a nossa dublagem cometeu o erro de traduzir o nome do personagem para "Bispo", como se este fosse uma espécie de codinome, quando na verdade era o próprio nome do personagem (Lucas Bishop).

O racismo é representado metaforicamente na animação, assim como é originalmente feito em sua versão impressa, e o seu enfrentamento é uma constante durante toda a série. 

O seriado também apresenta personagens femininas muito poderosas como Tempestade, Vampira e  Jean Grey e pode ser considerado progressivo mesmo para os nossos padrões atuais por uma série de sub-textos e teorias elaboradas por certos fãs sobre personagens como Mística e Morfo.



Política mutante

Pode parecer inteligente manter a política longe dos desenhos animados destinados para um público corrente do sábado pela manhã, mas não há como eliminar completamente a natureza política dos X-Men. 

O senador Robert Kelly, que declara suas intenções de concorrer à presidência dos EUA,  foi um dos principais antagonistas da série nos seus primeiros episódios e as suas políticas são fortemente antimutantes. 

O Professor X tem um papel de destaque ao se encontrar com políticos e até viaja a Washington, para falar em nome de mutantes de todo mundo. 

A política russa surge em um episódio onde o passado do X-Man Colossus, quando ele vivia em uma fazenda comunitária na Sibéria ao norte de URSS é explorado e também há a presença do vilão mutante Omega Red, transformado em uma arma biológica de guerra e agora determinado a derrubar o governo atual daquela nação. 

O governo canadense também é explorado em um episódio muito marcante, no qual é exposto parte do passado de Wolverine, destacando a introdução da Tropa Alfa imbuída de um caráter multicultural de personagens de um mesmo país, o Canadá, seguindo todas as tendências político-culturais da época. A presença de imigrantes de mais de uma centena de grupos linguísticos e culturas foi muito tardiamente reconhecida como determinante para a composição da identidade canadense.

X-Men também explora a política intramutante, com grupos de mutantes cuja aparência era um fator de impedimento para o convívio social, os Morlocks, nome diretamente retirado do livro A Máquina do Tempo de H. G. Wells e correspondente aos seres humanoides residentes nos subterrâneos do século VIIIXXVIII presentes na obra.

Estes mutantes se reuniam nos esgotos para viverem em conjunto, formando verdadeiros guetos marginalizados, onde se escondiam dos seres humanos por medo das reações que sua aparência poderia incitar, de maneira similar a certos guetos e bairros pobres onde, marginalizados pelos brancos da sociedade norte-americana, muitos negros carentes se reuniam para viver, nas periferias das metrópoles. Os Morlocks são também uma clara referência aos movimentos punk e a contracultura.

No final da série, aprendemos mais sobre a Lei de Contenção de Mutantes, o que nos remete aos episódios que abordam a saga Dias de um Futuro Esquecido, mostrando uma linha temporal sombria onde este lei rege uma distopia antimutante.



Representações superiores para os personagens

Vampira é um das personagens mais sedutoras de toda a série, além de ser uma das mais paqueradoras, ao lado de personagens como Gambit e Wolverine, é claro. E ela lida com o fato de que não pode tocar em ninguém, devido a sua mutação, com suas características falas de flerte como quando viu Colossus pela primeira vez. 

É uma pena que a personagem tenha mudado tanto desde, acredito, a sua representação no filme X-Men (2000). A partir de então, tornou-se natural a sua representação como uma garota triste e deprimida por sua condição, precisando isolar-se e evitar contato físico pelo seu toque quase mortal.

Essa se tornou a tendência reconhecida para a representação da personagem, meio emo, em X-Men Evolution, a qual muitos amam.

É preciso reconhecer ser muito mais crível e perfeitamente compreensível que uma garota com os hormônios à flor da pele e incapaz de se apaixonar e fazer contato físico possa mesmo se transformar em algum tipo de aberração social. Mas não seria a forma como a personagem originalmente enfrentava o seu próprio estado de "deficiência" que a tornava uma super-heroína?


Anos 1990 X Anos 2000:
Punk X Emo

Quando a personagem foi introduzida em X-Men Animated Series, nas HQ's ainda não havia sido revelado nada sobre o seu passado obscuro, isto é, antes dela se tornar a protegida de Mística. Mas, a animação retratou a sua vida anterior, explorando com mais detalhes parte daquilo que os leitores já conheciam da Vampira, uma típica garota sulista e criada na congregação batista do sul. 

O pai da moça, no desenho animado, era um típico caipira fundamentalista cristão, exibindo uma barba e uma barriga de respeito e um boné com a bandeira dos Confederados, e ele expulsa de casa após descobrir ser a sua filha um "mutante cria de Satanás".

Nos quadrinhos, talvez para se diferenciar da animação ou talvez para evitar o estereótipo ambulante descrito acima sobre caipiras do sul dos EUA, Vampira foi retratada tendo nascido em um lar amoroso e que a aceitava.

Sinceramente, gostava mais do seu passado apresentado no desenho animado, uma vez que ele aumentava ainda mais a carga dramática e os questionamentos acerca de si mesma para a heroína.

Vampira foi uma das melhores personagens de X-Men Animated Series e a inspiração e a paixão de muitos. 

Teorizo que a moça foi a inspiração para a personagem Bunnie Rabbot de Sonic SATAM.

Por quê?

Bom... Ambas têm um passado traumático.

Ambas são paqueradoras.

Ambas têm um sotaque caipira sulista suprimido na dublagem brasileira.

São chegadas em um francês.

E as duas têm notáveis a-

-atributos.


... atributos!

O astro Logan Howlett, o Wolverine, também estava em seus melhores dias. 

O passado secreto do personagem poderia muito bem continuar secreto, uma vez que em nada me agradou quando da sua revelação nas HQ's (Wolverine Origins).

A saturação atual da imagem do carcaju tem como um dos culpados, ironicamente, o maior responsável pela popularização do personagem, elevando-o ao mesmo nível de um Superman ou um Batman. 

Estou me referindo ao ator Hugh Jackman que é incontestavelmente excelente e dificílima será a sua agora necessária substituição, mas a sua atuação levou Wolverine a uma exposição excessiva e também transformou muito do seu conceito original.

Amado por poucos, odiado por muito, Ciclope tem a sua versão definitiva nesta animação da década de 1990, muito antes das HQ's o terem transformado uma espécie de terrorista estilo Magneto ou os filmes fazerem dele um líder sem muita liderança e utilidade.



Citações literárias

Embora Fera passe a maior parte da primeira temporada na prisão, ele teve na verdade sorte de estar lá, já que quase não foi incluído na animação. O personagem tornou-se uma parte da série importante a partir de sua segunda temporada. 

Vemos o grande cérebro de Hank McCoy em ação o tempo todo e nos impressionamos com suas muitas reflexões, respostas filosóficas e declarações intelectuais excessivamente prolixas. 

Os telespectadores mais jovens na época (como eu era) provavelmente ficavam confusos com esse gênio de pelo azul, como quando, no primeiro episódio da série, discute o Nome de guerra com um colega de equipe, enquanto muitos adultos riam disso. 

Fera é frequentemente visto lendo, especialmente quando na prisão e ele cita prontamente as obras de Shakespeare, Lord Tennyson e John Donne.

E McCoy não é a único a implantar referências que as crianças não vão entender. 

Morfo consegue algumas falas roubadas de Robert Frost, enquanto Wolverine cita Dirty Harry e The Shining com um efeito assustador. 

Há o grande número de termos científicos usados ​​ao longo da série, como quando a equipe aprende sobre deslocamento temporal e o Darwinismo

Ninguém pode acusar os X-Men de não serem educativos.



Escravidão, intolerância e prisão

A escravidão infesta algumas das partes mais sombrias da história humana e retratá-la, mesmo em um desenho animado de sábado de manhã, pode deixar uma boa impressão. 

No episódio "Ilha dos Escravos", vários membros dos X-Men enviados para investigar o local de férias tropical e a utopia mutante conhecida como Genosha, mas tudo sobre a ilha não passa de uma mentira. 

Os heróis logo são capturados e jogados em celas com outros mutantes, que são mantidos vivos para serem usados ​​como trabalho escravo. Cada um deles é forçado a usar uma coleira que amortece seus poderes, exceto quando estes são necessários para o trabalho manual. É brutal, mas faz sentido que se os mutantes fossem reais, eles não seriam apenas explorados, mas também escravizados.

Outras formas de fanatismo extremo são exploradas na série. 

Tempestade e outros X-Men ajudam a libertar um grupo de escravos alienígenas que são controlados por braçadeiras. 

Quando a série explora o passado de Magneto, o Holocausto é mencionado. Este anti-vilão mutante é um judeu polonês sobrevivente do campo de concentração de Auschwtiz.

Mutantes são capturados e presos (especialmente naqueles episódios que exploram o futuro), e o senador Kelly até fala sobre colocá-los em campos de internação antes de ser salvo pelos X-Men e se tornar um aliado. 

Os mutantes sempre parecem estar a um passo de serem banidos, segregados ou perderem todos os seus direitos.



O fanatismo tem rosto

Os X-Men lidam com ódio e perseguição constantemente, este é um tema explorado na maioria de seus quadrinhos, e o desenho o faz de forma excelente. 

Mutantes são odiados, caçados e atacados e seus inimigos humanos mais ativos logo recebem um nome: Os Amigos da Humanidade. 

Não é difícil ver que esse coletivo se destina a espelhar os grupos neonazistas modernos, em seu simbolismo, manifestações e mentalidade.

O melhor exemplo disso está no episódio "A Bela e a Fera", quando Fera e um colega desenvolveram um tratamento para restaurar a visão de uma jovem, mas o pai dela odeia o gênio mutante e o quer longe de sua filha. 

É uma história comovente, já que Fera está apaixonada pela jovem, que mais tarde é sequestrada pelo supracitado grupo de ódio. É também aquele episódio em que as crianças aprendem a palavra "intolerante" e recebem um exemplo claro do que é a intolerância. 


Uma das cenas mais fortes da animação:
Graydon Creed enlouquece após a revelação do rosto do seu
pai biológico, o mutante Dentes de Sabre, diante de toda a
plateia de seus seguidores fanatizados.

O episódio termina com a revelação de que o líder dos Amigos da Humanidade, Graydon Creed, odeia mutantes porque seu pai e sua mãe são notórias figuras mutantes, Dentes de Sabre e Mística. Assim, Creed leva seu ódio a um nível totalmente novo quando tenta erradicar toda a sua família mutante em um episódio posterior.



A AIDS e o vírus Legado

A epidemia do vírus da imunodeficiência humana foi uma parte importante dos anos 1980 e 1990, o que levou à estigmatização dos homossexuais. Como os X-Men costumam ser vistos como um reflexo da totalidade dos grupos marginalizados, não é surpresa que um arco sobre um vírus que se destaca em matar mutantes tenha feito algumas comparações com a AIDS. 

Concedido, o enredo do Vírus Legado é um pouco complicado, com viagens no tempo e toda a trama do vilão Apocalipse, mas ainda existem alguns momentos pungentes e a comparação se mantém.

Esse vírus fabricado é usado para falsamente enquadrar mutantes e gerar mais ódio contra eles. 

Antimutantes fanáticos afirmam que os mutantes infectam humanos com a doença. 

Graydon Creed acidentalmente se infecta e culpa Bishop, que estava tentando impedi-lo de injetar o vírus em outra pessoa. 

No futuro que Bishop está tentando impedir, muitos mutantes são mostrados sendo trancados em quarentena por medo da sociedade e muitos também morrem com o vírus Legado. 

É tudo parte do esquema maligno de Apocalipse, planejado em um futuro distante. 

Embora os X-Men eventualmente salvem o dia, a imagem de mutantes estigmatizados e sofrendo perdura.



Perda e morte

Ser um membro dos X-Men não é fácil. Os espectadores são expostos a isso logo no início do primeiro arco da história, quando se acredita que Morfo foi morto e mais tarde, o enredo de "Fênix Negra" desfere um golpe devastador nos X-Men com a morte (temporária) de Jean Grey. 

Há também o final da série, no qual a equipe lida com a perda de Charles Xavier, que por pouco evita a morte, mas se perde de sua família mutante, talvez para sempre.

A série também explora vários mundos alternativos, que forçam os espectadores a enfrentar a morte de personagens queridos. 

Os episódios "Dias de um Futuro Esquecido" mostram Wolverine no futuro, condenado a passar pelos túmulos de todos os seus amigos mortos. 

Outro mundo apresenta Wolverine e Tempestade casados e sendo recrutados para ajudar a consertar o tempo novamente. Tragicamente, fazer isso significa que suas vidas e seu amor serão apagados. As lágrimas que derramam quando percebem que tiveram sucesso são profundamente tristes, embora possamos ver pela interação dos dois na linha do tempo correta, que algo ainda pode acontecer. 

O exemplo mais singular de perda no desenho ocorre quando a mansão X é destruída. 

Wolverine relembra em voz alta como aquela foi uma das poucas casas que ele conheceu e ver alguém tão estoico lamentando por um prédio é um momento emocionante.



As relações dos personagens

Os X-Men têm muita história. 

O drama do relacionamento é constante: triângulos amorosos clássicos proliferam, mais proeminentemente entre Ciclope, Jean Grey e Wolverine, assim como o amor não correspondido e até divórcio. 

Vários mutantes são rejeitados por seus próprios pais. 

Os episódios de "Proteus" revelam que um dos mutantes mais poderosos do mundo quer apenas a aceitação de seu pai. 

O ciúme é um sentimento muito presente, como quando Ciclope protege Cristal, enfurecendo Jean, então possuída pela Fênix. Acrescente a isto vários casamentos interrompidos, anúncios surpresas de paternidade, bem como alguns metamorfos, e as coisas ficam realmente loucas como quando Morfo fingindo ser o sacerdote de Scott e Jean para garantir a ilegitimidade de seu casamento, este é talvez o auge do drama.

Esses momentos ultra-emocionais são também por fazerem os personagens se sentirem muito humanos. Os escritores da série queriam mostrar o seu elenco lutando contra seus próprios demônios internos, bem como seus inimigos físicos, o que acabou contribuindo para uma boa e profunda narrativa. 

Como não há muita mídia para crianças que discuta coisas como morte, divórcio e como lidar com emoções fortes, o X-Men foi totalmente útil para os pequenos em busca de orientação. 

O programa sabe que crianças não são estúpidas, mesmo que não entendam todos os detalhes como seus pais. A incorporação de tantos elementos dramáticos torna o programa muito importante.



Os Mutantes e a fé

A religião faz parte dos X-Men. 

Existem religiões fictícias, como aqueles que adoram Garokk nas Terras Selvagens, além disso, a própria Tempestade por vezes é chamada de deusa. 

O cristianismo também está presente no programa, explorado em episódios que discutem a evolução dos mutantes e em episódios abordando o personagem Noturno, cujo catolicismo é grande parte de seu personagem.

Noturno tem uma aparência demoníaca e perturbadora, com pele azul, olhos amarelos, presas, extremidades de formato estranho, orelhas pontudas e uma cauda. Ele até cheira a enxofre ao usar seus poderes de teletransporte. 

Não é nenhuma surpresa, então, que uma turba de fanáticos religiosos venha destruir Noturno, insistindo que Deus está com eles em sua missão. Tal cena, quase retirada integralmente da primeira da hq que marcou a primeira aparição de Noturno nas histórias dos X-Men, também referencia o nazismo e o medo do diferente, uma vez que a nação natal do personagem é a própria Alemanha.

O episódio de estreia do personagem explora os temas ter fé, perdê-la e renovar o relacionamento com o divino, além de levantar a questão de por que Deus criou mutantes em primeiro lugar. 

Em um momento inesperado no final, Noturno dá a Wolverine uma Bíblia, com várias passagens marcadas. O episódio termina com uma cena do mutante canadense lendo passagens em voz alta em uma igreja. 

Isso é particularmente impressionante, dado o cinismo de Wolverine, mas a bondade de Noturno o alcançou. O sósia do demônio fala frequentemente sobre perdão e compaixão, mesmo por aqueles em sua família que fizeram coisas horríveis com ele. Ele sempre tenta viver pela mensagem em que acredita e X-Men está interessado em explorar o que isso significa, com uma profundidade que apenas adultos realmente entendem.

Nada contra o estilo X-Men Evolution, que também é muito bom e marcante, mas Vampira e Noturno estavam muito melhor representados e condizentes com suas versões originais das HQ's em X-Men Animated Series, com Noturno protagonizando dois dos seus melhores episódios. 

Nas HQ's da equipe mutante, a "culpa católica" de Kurt Wagner gerava alguns das histórias mais profundas e filosóficas para o mutante dividido entre a igreja, o mundo dos espetáculos circenses e carreira de super-herói.

A religião era aparentemente melhor vista dentro do mundo do entretenimento na época em que esta animação foi produzida e, embora não diminua a qualidade deste excelente episódio, à atual plateia que venha a assisti-lo sob sua própria ótica pode parecer meio forçada a "conversão relâmpago" do "ateu" Wolverine, aparecendo este inclusive no final do mesmo episódio rezando de joelhos dentro de uma igreja. 

Logan é agora considerado oficialmente um personagem católico (não muito "ortodoxo", verdade) convertido pelo próprio Noturno. 

"Estão vendo só crianças? O Wolverine é durão, mas, dentro de um igreja, mesmo os joelhos dele se dobram." Não seriam estas as prováveis palavras de uma mãe, tia ou avô religiosa aos pequenos que atualmente assistissem o episódio?

Já imaginaram como seria o momento da confissão dos pecados de Wolverine ao quase padre Noturno?


"Quer confessar os seus pecados, mein freund?"

"Padre, confesso que pequei. Matei 67 ninjas e desmembrei outros 26. Além disso, desejo sexualmente a esposa morta-viva de Scott Summers e dormi com a Miss Marvel mais de uma vez... Ah. Matar um exército Skrull conta como pecado, se eles são alienígenas?" 

Mais ou menos assim.

Contudo, um ótimo capítulo a explorar temas tão pouco mencionados neste meio ao retratar as pessoas que usam a religião para o bem (Noturno e os demais monges do convento) em confronto com aquelas que a usam para o mal (o Irmão Reinhart e os moradores da aldeia). 



A violência é onipresente

X-Men está cheio de violência, embora como é o caso de muitos desenhos animados americanos do seu tempo, poucos chutes e socos podem realmente acertar para que as coisas não sangrem. 

A inclusão dos Sentinelas e outros robôs como antagonistas primários ajudou tremendamente com esse dilema, uma dádiva para a violência simulada. 

Rasgar partes cibernéticas de um humano, como aconteceu com Donald Pierce durante a luta com o Clube do Inferno, também é permitido. 

Essas soluções alternativas permitiam que os fãs vessem Wolverine e os outros decapitarem, desmembrarem e eviscerarem seus inimigos, usando seus poderes ao máximo.

A violência também está presente na quantidade de brigas que os X-Men travam entre si. 

Pode ser um pouco estranho ver esses supostos companheiros de equipe constantemente lutando uns contra os outros, usando seus poderes, mas é o X-Men. 

Muitos personagens também se esforçam para ferir inocentes ou são obcecados por serem cruéis, como Dentes de Sabre. 

Magneto jura vingança contra a humanidade, Cable passa sua vida tentando destruir uma pessoa e Arcanjo dedica sua riqueza para rastrear e destruir Apocalipse em um episódio. 

A violência está enraizada na vida desses personagens e na própria animação.



Dia de Formatura:
O episódio mais emocionante da série!

Como pode ser facilmente perceptível à primeira vista, a série animada pode parecer um pouco desatualizada, uma vez que o seu estilo de animação ficou um pouco ultrapassado, mas as histórias valem todo o investimento, superando muitas animações atuais que buscam transmitir mensagens similares. 

X-Men Animated Series nunca parece um anúncio de serviço público embrulhado em um desenho animado e, na verdade, lida perfeitamente bem com questões moralmente ambíguas através das lentes de personagens que nem sempre concordam.

Podem haver momentos em que as coisas ficam mais lentas e uma queda considerável da qualidade nas últimas temporadas, mas na maior parte, esta série não tem medo de entrar em territórios até então desconhecidos ou mesmo proibidos para uma animação projetada para ocupar a grade horário do sábado pela manhã e, certamente, foi inspiradora para diversas outras produções que surgiriam posteriormente.

sábado, 31 de outubro de 2020

10 CONCEITOS MAIS ASSUSTADORES PARA VILÕES DOS TOKUSATUSUS

É o Dia das Bruxas e o dia do Saci também para nós brasileiros, instituído pela lei federal 2762 de 2003, com o objetivo de resgatar o folclore nacional em contraposição ou Halloween de tradição celta. Isso significa monstros, monstros e mais monstros! E não há mais monstros do que os programas japoneses de Tokusatsus. 

Caramba, a maioria deles vem com um novo a cada episódio!

Muitos destes "toku-monsters" podem ser suficientemente assustadores para a data do Halloween. 

O blog já conta com uma postagem acerca dos monstros mais perturbadores criados para a franquia Ultraman, mas esta postagem apresenta as criaturas do terror Tokusatsu assustadoras não somente em aparência, se não também no seu conceito. 

Sendo assim, alguns monstros da franquia Ultraman que não aparecem na outra postagem, podem encontrar um espaço especial nesta.

Embora muitos destes sejam galhofeiros ou mesmo bobos, há na mesma medida, para cada mutante de batom ou dinossauro de látex, figuras que carregam um fator legítimo de terror. 

A ordem dos elementos da lista pode parecer incongruente para alguns, mas foi proposital para o debate. Muitas vezes, um personagem precisa de muito mais do que um rosto asqueroso e um corpo melequento para causar terror, muitos personagens assim acabam flertando com o "terrir". 

Mesmo que alguns não tenham uma aparência com potencial marcante para o horror que proporcione ao espectador a necessidade de um terapia, deve ser levado em consideração o conceito por trás da criação destas criaturas, o ano em que surgiram, as faixas etárias dos públicos para os quais foram destinadas e as tendências.

Personagens assustadores e eventos bizarros e subliminares podem ser muito mais impactantes em simples séries televisivas do que em Tokusatsus adultos como Garo, os quais assistimos já esperando ver cenas de terror.

Aqui estão apenas alguns monstros dos Tokusatus mais arrepiantes para o Halloween.



10º Lugar

Pain - Changeman

Monstro espacial surgido no episódio 28 de Changeman, com o célebre título A Maldição Sangrenta. Encontrar um nome desses, acompanhado de uma ilustração com o rosto da dita criatura na capa de um velho VHS de uma extinta vídeolocadora faria qualquer um fã louco por terror trash a levar para casa sem pensar duas vezes.

"É um trashão de primeira!", diria nosso amigo Edson do Terror.

Como grande parte, ou talvez todos os personagens que exercem o papel de vilões da série, Pain teve seu planeta arrasado pelo senhor Bazoo e foi enviado a Terra pelo mesmo com a missão de conquistá-la em troca da restauração do seu mundo.

Pain pode não ter o visual mais assustador que você verá em um tokusatsu, mas merece um posto nesta lista por sua habilidade assombrosa e por ser muito mais do que aparenta.

Quando o conhecemos, sentimos pena dele, como acontece com vários dos outros vilões do elenco. Pain nos é apresentado como um ser frágil, vulnerável e destruído psicologicamente, implorando misericórdia ao senhor Bazoo por todo o terror e torturas pelos quais estava sendo submetido.

Aceitando a missão imposta pelo vilão cósmico, Pain chega a Terra e muda completamente de personalidade, tornando-se um sádico, ele realmente parecia gostar muito da dor que causava nas pessoas, crianças. 

Se Pain estivesse necessitando de "passadores de pano" para seus atos indefensáveis, hoje poderia sugerir que tentasse uma carreira política no Brasil.

A técnica de Pain consistia em derramar o seu sangue sobre um inocente giz de cera de uma criança que tinha por hábito desenhar os seus amigos. Uma vez invocada a sua maldição de sangue, Pain poderia modificar os desenhos da criança, acrescentando fogo ou lâminas dolorosamente inseridas ao peito daqueles desenhados pelo giz amaldiçoado. A tática também seria usada para tentar matar Hayate, o Change Griffon.

Os afetados pelos desenhos sentiriam dores equivalentes aos efeitos representados nas imagens, daí a escolha do nome do monstro da semana, acredito, o que já é uma ideia assustadora e cruel o suficiente para merecer um lugar na lista.



9º Lugar

A Múmia - Ultraman

Quem achou uma boa ideia trazer uma múmia de uma escavação para casa? Especialmente quando a múmia tem uma cara de macaco horrível como esta. 

Os restos da uma criatura de natureza símia de 7.000 a 10.000 anos foram descobertos nas colinas de Okutama, desenterrados na década de 1960, ganham vida e atacam os funcionários de um centro de pesquisa no Japão. 

Sua cabeça é desproporcionalmente grande e desdentada e a parte inferior do seu corpo e dos seus braços estão ainda envoltas em bandagens. Esta besta com olhos de laser, após ser escavada pela Patrulha Científica, partiu imediatamente para uma matança.

Quando finalmente confrontado e destruído pelos membros da mesma patrulha, infelizmente antes que pudesse confrontar o herói da série Ultraman, sua morte de alguma forma convoca o gigante kaiju Dodongo, o seu "monstro cavalo" de sua tumba nas profundezas das colinas de Okutama. 

Apesar das lutas galhofeiras que mais lembravam um rodeio (ou rituais de magia negra), este episódio é mais lembrado pelos assassinatos super-assustadores do Homem Múmia.



8º Lugar

Giluke - Changeman

Shohei Yamamoto (1938-2019) foi o meu ator favorito do seriado Changeman, e o seu personagem, Giluke, o segundo melhor vilão, ficando atrás apenas de Ahames, que era uma perfeita mistura de personalidade, poder e beleza.

Giluke foi o comandante da nave Gozma e era originário da estrela Giraz, tendo inclusive conspirado junto com Ahames para destruir o senhor Bazoo, infelizmente fracassando e sendo obrigado a trabalhar para o vilão em troca da reconstrução de seu mundo. 

Teorizo que Giluke e Ahames possam ter sido mais do que companheiros de batalha. Os dois podem ter sido amantes, visto a maneira como o comandante de Gozma suspirava ao lembrar dela enquanto esperava por seu retorno. Ahames fazia tudo por poder, isto é, poder para reconstruir a sua estrela Amazo da qual era rainha. Seduzir Giluke seria fichinha perto das barbaridades que a moça causou.

Depois de usar Giluke como bem entendeu, Ahames não pensou duas vezes em dar um pé na bunda e roubar a aura energética da menina Nana da estrela Tequinolíquel, poder tão desejado por Giluke.

Por falhar em sua missão de eliminar os Changeman, Bazoo castigou Giluke o enviando ao cemitério espacial, local para onde todos os monstros espaciais vão antes de morrerem, sendo assim dado como morto. 
Isso era o que todos pensavam.
Ninguém esperava que o agora ex-comandante de Gozma se fundiria ao corpo de um monstro espacial moribundo antes de ambos morrerem. 
Assim, Giluke retornou ao mundo dos vivos, como uma alma penada para assombrar aos Changeman e à Ahames, que, como uma "ex" a dar o golpe, tomou tudo dele, a sua nave, os seus companheiros, o seu cargo, o seu poder...

Não subestime o fantasma Giluke por parecer um Teletube deformado. 
Ele era assustador. 
Destaco a cena em que quase assassina Hayate (O Changeman que todos os vilões querem matar) por estrangulamento.
Mais difícil de morrer do que o Freeza, o ex-comandante de Gozma teve a oportunidade de ressuscitar banhando-se na segunda aura energética emitida por Nana (que era bem mais poderosa que a primeira), através do ritual da missa negra da estrela Giraz.

Curiosidade: Surgidas desde o século III, realizadas por grupos que atacavam a Igreja com versões distorcidas das missas cristãs, as missas negras são cerimônias do Satanismo que fazem uma inversão da missa Tridentina para simbolizar a morte de Cristo sem sua ressurreição. Anton LaVey (1930-1997) fundou a primeira igreja de Satã nos EUA, a primeira organização abertamente satânica da história.

Então há a versão da missa negra alienígena do planeta do Giluke, que mais parecia uma reunião da Ku Kux Klan, em uma das sequências mais deliciosamente trash do seriado.
Giluke ressuscita com uma nova aparência, um "novo e criativo" nome e um bordão marcante, muito mais poderoso do que Ahames e com uma gargalhada de gelar a espinha do espectador, destacada pela voz de Marcos Lander (Orgulho de dublador capixaba).
O vilão volta para vingar-se dos Changeman e da mulher que partiu o seu coração.


Giluke é um homem de muitas faces: o comandante, o fantasma, o "Drácula espacial" e o monstro final da série. Pode não ser visualmente tão assustador quanto os demais da lista, mas o seu conceito, envolvendo satanismo e body horror (transformando seus ex-aliados e a si mesmo em monstros com seu novo arsenal de poderes), é simplesmente assombroso.




7º Lugar

Gaohm - Juukou B-Fighter

Lutando em uma guerra interdimensional contra um bando de jovens com armaduras de insetos? 

Se você não está vestido assim, não está fazendo certo!

Gaohm, líder do Jamahl e nêmesis de Juukou B-Fighter, é assustador de uma forma que não consigo definir. 

Há algo na sua cara que dá arrepios.

Claro, há também a maneira como sua mão em garra gigante sai das nuvens de tempestade para agarrá-lo e puxá-lo para a Zona de Gaohm, sua própria dimensão do caos pessoal. 
Sem mencionar que mais tarde ele tem uma aparição flutuando no espaço como uma espécie de leviatã Lovecraftiano. 

Cara, esse monstro era bem menos assustador em Beetleborgs.
O que estou dizendo? 
Beetleborgs já é bem mais assustador, só que no sentido negativo.




6º Lugar

Grande Líder do Shocker - Kamen Rider

Às vezes, basta um momento sólido para fazer uma declaração de horror. 

Caso em questão, o Grande Líder do Shocker de Kamen Rider de 1971. 

O Grande Líder passou 97 episódios como uma voz sem rosto saindo de um interfone, mas quando os Riders finalmente o conheceram pessoalmente no episódio 98, aqueles três minutos de tempo na tela foram absolutamente arrepiantes.

Não há luta final culminante, nem vitória heroica. 

Não há nem música, apenas risadas satânicas profundas enquanto o Grande Líder é desmascarado. 

Só conseguimos ver sua verdadeira face por alguns segundos antes que ele autodestrua sua própria base e, mesmo assim, nunca descobrimos o que ele era. 

Um alienígena? 

Um demônio? 

Um experimento científico que deu errado? 

Quem sabe. 


O Grande Líder retornaria em várias formas diferentes, mas nenhuma seria tão horrível quanto a primeira.




5º Lugar

Haru - Garo

Todos os monstros do tokusatsu adulto Garo de 2005 são bastante assustadores. 

Eles são literalmente chamados de Horrors, afinal. 
Mas nenhum tem um fator de fluência tão grande quanto Haru. 

Ela (?) é bem assustadora para um monstro peixe-sereia, porém o seu maior terror está em sua maneira de caçar as suas presas, isto é o que de fato a torna realmente assustadora. 

Já que é tipo um peixe, não pode abandonar o seu aquário e sair para comer humanos, em vez disso, seduz um cara solitário para caçar para ela, atraindo pessoas que se converterão em alimento para Haru, no melhor estilo A Pequena Loja dos Horrores.

Claro, não é tão dinâmico como alguns horror films, mas ter um cara normal encurralando você em um quarto escuro com um estilete, enquanto essa coisa nojenta assiste avidamente de um grande tanque escuro? 

Isto é o verdadeiro horror!




4º Lugar

Dada - Ultraman


Eu sei o que está pensando.

Parece só um maluco vestindo uma malha com estampa de zebra.  

Mas aparência não é tudo! 

Dada veio de uma dimensão paralela na busca por seis cobaias humanas. 
E se essa coisa estiver perseguindo você, é melhor fazer suas preces, preparar seu testamento, ou sei lá, porque provavelmente ele vai pegar você. 
Dada pode atravessar paredes, se teletransportar e mudar de tamanho à vontade.

Mas a habilidade mais assustadora de Dada é a constante transformação do seu rosto. 
Inicialmente, isso foi feito para enganar as suas presas, fazendo-as pensar que havia três seres diferentes as perseguindo. 


Assim que é ferido pelo Ultraman, porém, ele começa a mudar de rosto a cada poucos segundos. 
Há algo desorientador e perturbador em ser perseguido por algo assim. 

Seu rugido gutural terrível também não ajuda.





3º Lugar

Jisatsunoid - Jiban

Honestamente, todos os monstros do seriado Jiban são assustadores.

Kazenoid, outrora um simples boneco pertencente a uma doce garotinha, transformado pela organização criminosa Bioron em um monstro horripilante que espalha uma doença pelo ar de efeito devastador.
Chuushanoid, um monstro dotado de agulhas acopladas ao seu corpo ou guardadas em seus bolsos (?) que injeta venenos de todos os tipos de animais peçonhentos nas pessoas, um pesadelo ainda maior para quem tem medo de injeção.
Spiderblock, um criatura tão feia que nem posso descrever e que aparece no filme  Kidou Keiji Jiban: Great Explosion at the Monster Factory of Fear.
E a própria (?) Madogarbo que assassina o herói de forma brutal na metade da série (Ok, spoiler: ele ressuscita no episódio seguinte. Mas pense como foi ver aquela cena quando criança na época e não saber se teríamos o nosso Jiban de volta).

Mas nenhuma destas criaturas é um pesadelo tão horripilante quanto Jisatsunoid.

Surgindo no episódio 24, chamado Bem-vindos Ao Mundo Espiritual, Jisatsunoid é um ser perturbador em todos os sentidos. Sua aparência horrenda, como a de um cadáver em estado de decomposição, sua voz e sua personalidade.

Jisatsunoid é apaixonado de um modo quase sexual pela MORTE.

Ele se envenena aos poucos para apressar a sua morte.
Com seus poderes, pode enxergar o Mundo dos mortos, o que o faz sentir ainda mais vontade de morrer e se deliciar com os horrores e torturas as quais o aguardam naquele lugar.





Sua missão, para variar, era matar Jiban, mas Jisatsunoid desejava tornar a experiência mais divertida, morrendo junto com o herói.

O seu bordão: "Queeero morrer, queeeeero morreeeeeer".

Um demônio suicida, a criatividade do Japão não tem limites.





2º Lugar

A Mulher Aranha - Kamen Rider ZO

A Mulher Aranha foi uma das servas do Neo Organism do Kamen Rider ZO de 1993. 

Aparecendo como uma pequena aranha, ela enlaçava suas vítimas, transportando-as para um mundo alternativo cheio de teias e colunas gregas. 
Lá, ela poderia assumir sua verdadeira forma: uma aranha humanoide esquelética cheia de dentes afiados.

Projetada pelo mesmo artista dos Horrors de Gao, a Mulher Aranha é facilmente o mais assustador dos monstros do Neo Organism. E estamos falando sobre um filme com um monstro morcego que faz o truque do Homem Pálido com os olhos nas mãos em O Labirinto do Fauno. 


Ela foi renderizada por animatrônicos e stop-motion, tornando-a um dos monstros mais desumanos e assustadores de todos os tokusatsu.






Estas técnicas clássicas, já em desuso, podem produzir resultados muitos mais conviventes e arrepiantes do que as já saturadas técnicas de computação gráfica as quais já estamos acostumados a conferir no cinema moderno.




1º Lugar

Satasata - Shaider

Eu amo episódios de tokusatsu de Natal, mas, porra, este aqui é "perfeito"!

No episódio 29 da série do policial espacial Shaider, o monstro da semana criado pelos Fuuma é Satasata, criado para usar a alegre temporada de férias para deformar e corromper crianças japonesas.

Mas claro que Satasata não pode sair por aí parecendo um monstro com presas, então ele precisa assumir uma "forma mais normal" para se tornar o Papai Noel de Satanás!


O herói Shaider é convidado a ajudar a entregar presentes para um par de crianças, mas ele tem que fazê-lo da maneira apropriada e, aparentemente, o Papai Noel japonês não usa a chaminé e apenas entra por qualquer janela disponível.

Bem, poderia ser pior e pode apostar que fica.
"Satan Claus" faz o seu movimento e traz ao heróis o seu verdadeiro presente... uma péssima viagem de LSD!

Sua intenção é transformar todas as crianças no Japão e voltá-las contra o verdadeiro Papai Noel, dando-lhes presentes horríveis e assustadores. 

Parece bobo? Como você é ingênuo se assim pensar!
As cenas que se seguem são incrivelmente assustadoras e dificilmente poderiam ser transmitidas nos dias de hoje em respeito às sensibilidades de alguns espectadores.

Os produtores de tokusatusu por vezes gostam de traumatizar crianças.
Mas os produtores de Shaider devem odiar as crianças!

As crianças, que agora não estão tão empolgadas com o Papai Noel, ouvem uma música estranha, enquanto veem figuras encapuzadas em preto dançando.
Encantadas com a música, entram em fila e logo são conduzidas a um estranho altar na floresta onde Satan Claus está realizando algum tipo de serviço religioso.

O que vem então?


Um Papai Noel... crucificado... de cabeça para baixo?!
Uau, pensei que o Papai Noel deveria ser São Nicolau, não São Pedro. 

Japoneses, traumatizando a juventude desde pelo menos 1971!

A cerimônia continua com as crianças se juntando a um coro estranho e assustador e sendo transformadas em figuras vestidas de preto, mascaradas e sem rosto. 
Felizmente, Shaider chega para acabar com a festa e resgatar as crianças! 
Na manhã seguinte, ele até as devolve às suas famílias.


Porém, tudo é parte da trama de Satan Claus.
As crianças, sem nenhuma memória de seus pais, se transformam em cultistas vestidos de preto mais uma vez e se reúnem para causar confusão e destruir coisas!

Isso, é claro, leva à batalha final entre Shaider e Satasata, que tira seu disfarce de Satan Claus para utilizar seus poderes monstruosos e completos para enfrentar o homem da lei.

O resultado é bastante inevitável e o maligno Papai Noel impostor é destruído!

O Natal está salvo e enviaremos aos produtores do seu programa as contas de terapia para nossos filhos!





Hour Concour

O Deus Enguia - Patrine

As pessoas acham graça quando eu falo, mas é a verdade.

Não existe nada mais assustador do que PATRINE.

Não acredita?
A lista está de fato incongruente?
Então tente provar o contrário!

Situando o leitor, os vilões do seriado da Estrela Fascinante, a super-heroína criada por Shotaro Ishinomori (SIM, o criador dos Kamen Riders!), em grande parte, são inspirados em lendas japonesas, e este é também o caso deste apavorante personagem.

O Deus Enguia surge no episódio 17 do seriado, no qual Patrine se envolve em um estranhíssimo evento envolvendo uma família de carpas capazes de adquirir forma humana, constituída por um pai, uma mãe e o filho do casal, um garoto que não deve ter mais do que 10 anos de idade.

À princípio, Patrine precisou enfrentar a estranha família para salvar Kenji, um dos moleques integrantes do seu "fã clube", que fora por eles sequestrado e vestido como uma noiva japonesa (?).

Incapazes de fazer frente ao poder da heroína, os sequestradores decidem contar a sua triste história e pedir a ajuda.
Durante aquela época do ano, as carpas constantemente visitavam a terra para colocarem em prática as suas tradições de fazer piqueniques e apreciar a queda das pétalas das flores das cerejeiras.
É então que o Deus Enguia entra na história, outro peixe que pode assumir a aparência de um homem. Era ele que, com o seu poder de causar terremotos, proporcionava o belo espetáculo da natureza tão admirado pela família de carpas.
Tão fascinados eram com tal poder que prestavam honras e adorações ao dito Deus Enguia.

Por que o Deus Enguia é tão assustador?

Primeiro faça um paralelo de sua história com uma das lendas folclóricas brasileiras.

Sabem a lenda do Boto? O cetáceo amazônico safadinho que se transforma em um macho alfa, jovem e elegante em noites de Lua cheia, seduzindo as moças solteiras mais bonitas, engravidando-as e depois as abandonando?

O caso do Deus Enguia é parecido. 
Mas aqui é um peixe que se transforma em um cara elegante, embora velho, feio e com uma perversão que em nada deve ao nosso precioso tesouro da fauna brasileira.

O Deus Enguia exigiu da família carpas um tributo.
O seu tributo? 
Ele queria um noiva.
E quem seria a sua noiva?

O FILHO do casal carpa deverá se tornar a ESPOSA do Deus Enguia!!!

O Deus Enguia anuncia o seu desejo de desposar um garotinho com um sorriso cheio de dentes e uma expressão de causar asco em qualquer espectador.
E ele ameça a família. Caso não lhe entreguem a criança, causará um terremoto de grau 8 de magnitude capaz de destruir completamente o corpo de um homem, reduzindo-o a pele e ossos!

Daí o motivo para o sequestro do Kenji. 
A família carpa pretendia enganar o tarado entregando outra criança no lugar do seu filho.

O personagem e todo o seu encontro e luta contra Patrine são bem perturbadores.
Mas o episódio traz uma mensagem oculta interessante.

O filho carpa, obviamente, não queria se casar com aquele velho pedófilo.
O pai carpa ficou sem saber o que dizer, afinal era a sua tradição honrar as cerejeiras e ao Deus Enguia. "Existem coisas neste mundo que são inexplicáveis", ele declara e também pensa nas consequências de não cederem aos desejos do seu benfeitor.
Mas o pai carpa chega a uma conclusão: mais importante do que obedecer a tradição é proteger o seu filho. O dever dos pais acima de qualquer coisa é cuidar da integridade dos seus filhos ante qualquer situação, mesmo que isso signifique quebrar regras estritas.

E qual o tipo de pai que não zela por seu filho acima de tudo?

Após Patrine punir o Deus Enguia por, segundo ela, mesmo na sua idade não sentir vergonha de ter o desejo tão doentio como o de casar com uma criança, deixa também uma mensagem complementar.

Ao mesmo tempo que passa uma reafirmação ao conservadorismo japonês, parte da cultura deste povo, ataca o conservadorismo reacionário que tanto fere a juventude em nome de regras cruéis.

Quando uma cultura restringe as liberdades, esta tradição pode assumir um caráter maléfico.
Patrine declara que respeitar as tradições é importante, mas não mais do que garantir a proteção das crianças e dos jovens.
Precisou aparecer um homem enguia pedófilo a instrumentalizar da tradição de uma família em nome de si próprio para a mensagem ser entregue. 

Patrine é um cult no Japão e um motivo de piada por estas bandas.

Mas eu digo, nunca subestimem uma obra assinada por Shotaro Ishinomori!

Sério mesmo que encontrei um sub-texto em Patrine?


Bons pesadelos!

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

BRUCE LEE INSPIROU A FICÇÃO E A VIDA REAL


Artista marcial. Filósofo. Cineasta. Mestre.
Bruce Lee foi um dos maiores artistas que o mundo já conheceu. 
Treinado nas artes marciais pelo igualmente legendário Ip Man, é considerado por outros grandes nomes como o melhor lutador de todos os tempos. Ele foi um dos responsáveis por apresentar o kung fu ao mundo e mudou completamente a forma como os asiáticos eram representados nos filmes norte-americanos.
A grandiosidade do nome Bruce Lee é indiscutível pelos maiores experts do mundo da luta. Assim, considero mais interessante para o leitor, abrir a postagem com algumas das opiniões selecionadas de alguns dos maiores mestres e artistas que tiveram a oportunidade de vê-lo em ação. 


Todos depoimentos dos referidos artistas marciais seguir foram diretamente extraídos do livro Bruce Lee & the Dawn of Martial Arts in America, ainda indisponível na versão em português do Brasil.



Ed Parker 
(1931-1990)
Titulação: Mestre décimo Dan (fundador do kempo karatê norte-americano)

"A primeira impressão que tive de Bruce Lee foi a de que era um fanfarrão. Mas logo descobri que havia me equivocado. Fiquei impressionado por seu talento. Ele era um entre 2000 milhões. Ensinava-lhe um golpe e uma nova técnica e, no dia seguinte, já o executava melhor. Se Deus pudesse dar um nome a todos os talentos naturais para as artes marciais, esse seria 'Bruce Lee'. Um indivíduo sem o seu talento natural poderia passar a vida inteira treinando e não encontrar jamais o que ele tinha"



Dan Inosanto
Titulação: Mestre em Pencak Silat Esgrima e Jeet Kune Do

"Eu, que lutei contra Bruce Lee muitas vezes, posso assegurar que ele era ainda melhor do que em seus filmes. Ele era realmente rápido e seus golpes eram muito explosivos. Sua velocidade, reflexos e resistência eram superiores. Já o vi enfrentar oponentes do judô, do kung fu, etc, e nunca jamais o vi perder. Comparando-lhe com Chuck Norris, por exemplo, um dos maiores competidores daquelas épocas, posso dizer que, na realidade, Bruce Lee brincava com ele, como um adulto brinca com uma criança. Digo isto sem reservas de nenhum tipo. Não é por desacreditar de Norris, que também é grande, mas esta é a verdade"



Joe Lewis
(1944-2012)
Titulação: Campeão dos pesos pesados de Full Contact e Kick Boxing

"Bruce Lee foi o homem mais rápido que já confrontei. Tinha ombros grossos, mãos rápidas e pernas magras e fortes e um bom torso que é a chave da explosividade em qualquer atleta. Tinha uma inteligência abstrata, soberba. Era muito bom conceitualizando. Podia traduzir imediatamente uma ideia em um conceito verbal e uma ação física. Apenas alguns poucos mestres são capazes disto. Por isso, a mim, me impressionou tanto"



Ernest H. Lieb
(1940-2006)
Titulação: Mestre Décimo Dan American Karate System

"Conheço em pessoa o senhor Lee. Tive o privilégio de trabalhar com ele diversas vezes. Ele superava em velocidade a maioria dos faixa-pretas que conheço. Ainda que eu tenha ganhado 42 torneios de karatê, não me considero a sua altura"



Ken Knudson
(1944-2006)
Titulação: Faixa Preta em Goju Shorei, Campeão de Karatê

"O poder dos socos e chutes de Bruce Lee são explosivos e perturbadores. Uma vez, ele me fez uma demonstração de seu chute lateral que me moveu tão rápido que me deixou com a sensação de que meus olhos tinham saído do lugar com o impacto. Aplica em todas as suas técnicas a lógica e me refiro a uma muito boa lógica em todas as suas técnicas"



Wally Jay
(1917-2011)
Titulação: Faixa Vermelha Décimo Dan Small Circle Jujitsu, Faixa Vermelha e Branca Sexto Dan em Judô

"Bruce é fascinante e incomparável. Não deixo de me impressionar com a sua capacidade, sua velocidade de relâmpago, sem detrimento da força tremenda de seus golpes"



John Rhee
(1932-2018)
Titulação: Mestre Décimo Dan Taekwondo

"Não conheci ninguém mais dedicado às artes marciais do que Bruce Lee. Há aqueles que o acusam de ser um lutador apenas nos filmes e não na realidade. Mas eu, que treinei com ele inumeráveis vezes, posso assegurar que na realidade Bruce Lee era um combatente muito bom e com um grande instinto. Nunca me atreveria a lutar contra ele por tão bom e efetivo que era. Nunca conheci ninguém, em proporção ao seu peso, tão forte quanto ele"



Bob Wall
Titulação: Faixa Preta Karatê Shorin Ryu, Nono Dan em Tang Soo Do

"Bruce Lee rechaçava a competição tradicional pela injustiça e a parcialidade dos árbitros em particular. Se tivesse existido o Full Contact, estou certo de que haveria combate de maneira profissional. Em minha opinião, teria sido campeão do mundo em sua categoria. Devemos entendê-lo bem com relação a isto. Ele era realista. Era muito rápido e não havia nada que poderia fazer frente a um peso pesado. Tampouco era um 'Superman'. Mas em sua categoria, ou incluso em algo superior, não haveria encontrado rival. Tinha a velocidade, a pegada, a técnica e, sobretudo, uma vontade sagrada de vencer. Uma mente prodigiosa, estava muitos anos adiantado e trabalhava mais que ninguém. Não poderia mais que admirá-lo, ainda que, ao mesmo tempo, me incomodava um pouco que ele não fazia mais do que pensar nas artes marciais"



Mike Stone
Titulação: Décimo Dan de Karatê Shorin Ryu, Campeão de Karatê

"Bruce Lee era um dos artistas marciais com mais conhecimento que conheci. Estava avançado para o seu tempo. Havia muitas coisas que eu queria aprender dele, como por exemplo, melhorar a minha atitude fazendo sparring ou sua simplicidade na defesa pessoal. Bruce era uma das pessoas mais fortes, quilo por quilo, que conheci. Poderia ter vencido muitos oponentes muito mais pesados do que ele. Creio que haveria sido extremamente bem na competição se acaso houvesse sido demasiado rápido para a maioria dos juízes, tal era o seu nível"



Louis Delgado
Titulação: Campeão de Karatê

"Nunca vi nada igual a Bruce Lee. Já me encontrei com vários lutadores de karatê, mas Bruce foi o único capaz de me desconcertar completamente. Estou completamente assombrado quando luto contra ele. Nunca vi ninguém como ele. Também fiquei muito intrigado e assombrado com a biblioteca de livros de Bushido que Bruce Lee tem. Realmente, não creio que haja ninguém mais dedicado às artes marciais orientais que ele"


Mas como a estrela do filme, Bruce Lee, se tornou um ícone tão universalmente reconhecido, apesar de completar apenas quatro filmes e morrer aos 32 anos?


1. Bruce Lee foi o primeiro herói de ação do cinema


Antes de Lee, o combate na tela era duro e pouco convincente.
O treinamento de Lee em várias artes marciais e formação em dança inspirou uma abordagem mais fluida e realista para o cinema.
Ele queria que as lutas na tela parecessem brutais e elegantes, um tema que alimenta filmes de ação desde então como O Tigre e o Dragão e Matrix.
Os cineastas americanos também adotaram o conceito de uma figura solitária que, a princípio, parece um cara comum, mas, quando pressionada, se transforma em um exército de um homem só.
Sem Bruce Lee não existiria Bruce Willis.

2. Bruce Lee tornou as artes marciais abertas a todos


Bruce Lee, Angela Mao, Bob Wall e Chuck Norris.

Os colegas e tutores de Lee em sua terra natal, a China, desaprovavam as técnicas de artes marciais ensinadas à pessoas de fora. Mas quando viveu em Seattle nos anos 60, Lee abriu uma escola de kung fu e ensinou abertamente o seu próprio sistema, o Jeet Kune Do ("O Caminho do Punho Interceptador"). Dentre os seus melhores alunos estavam incluídos Steve McQueen e James Coburn.
Lee rejeitou os rígidos estilos clássicos das artes marciais individuais e concebeu o Jeet Kune Do como um sistema que funcionaria em uma luta real, uma mistura dos melhores aspectos de boxe, esgrima, judô e kung fu.
Antes de Lee, essas técnicas eram misteriosas e esotéricas. Hoje, você pode estar matriculado em uma aula minutos depois de terminar de ler esta postagem.

3. Bruce Lee foi o primeiro guru de auto-ajuda

          

Lee era mais do que apenas um lutador. Ele era um pensador que incentivava os alunos a adotar disciplina mental e excelência física.
Grande parte de sua filosofia está relacionada à simplicidade do Jeet Kune Do ("Seja como a água"), mas muito de seu pensamento pode ser aplicado de maneira mais geral e foi adotado (e distorcido) pela indústria da auto-ajuda.

"Simplifique. Afaste o que não é essencial. Gaste muito tempo pensando em algo e você nunca conseguirá fazê-lo."
"Para o inferno com as circunstâncias. Crie oportunidades."
"Não procure uma personalidade de sucesso e tente duplicá-la. Tenha fé em si mesmo."

4. Bruce Lee derrubou barreiras raciais (literalmente)


Bob Wall, Bruce Lee e Chuck Norris.

Há um momento fantástico no filme de 1972 de Lee, A Fúria do Dragão, onde o astro foi impedido de entrar em um parque público japonês por um guarda que aponta para uma placa acima do portão:

"Não são permitidos cães e chineses"

Lee simplesmente responde quebrando a cara dos homens que zombaram dele, antes de saltar e quebrar a placa do portão com um poderoso chute voador.


A história deste longa envolve um jovem estudante de artes marciais e o misterioso assassinato de seu mestre. Em busca da verdade e da vingança, ele descobre uma grande operação de tráfico de drogas, uma escola de lutadores rivais e a tensão entre chineses e japoneses como os responsáveis pela morte de seu mestre.

Em combates brutais, valendo-se unicamente da força de seus punhos, Lee enfrenta os assassinos de seu mestre e as forças imperialistas japonesas que querem dominar o seu povo.

Em um outro momento particular destacável, Lee entra em um dojo japonês rival e devolve-lhes um "presente" provocativo, um placa cujo letreiro diz "Doentes da Ásia" (um insulto persistente da Segunda Guerra Mundial). 


Lee também esmaga a placa com a inscrição racista, arrancando o seu papel e força alguns dos alunos do dojo japonês a comê-lo, após serem completamente derrotados pelo seu kung fu.

Vivendo um homem atormentando e impossibilidade de fugir do destino, Lee representa metaforicamente um dívida de sangue pelas dificuldades enfrentadas pelos cidadãos chineses desde o  momento histórico no qual os japoneses começaram a ter mais influência em Xangai e todo o sentimento de revanche do povo chinês pelas feridas deixadas pós-Segunda Guerra Mundial. (Assistam ao animê Joker Game, ele retrata brevemente o cenário de uma Xangai de joelhos ao imperialismo e dominada pela violência e pela corrupção de todos os lados)

O personagem de Lee é aqui um herói trágico com o fardo de sujar as mãos e macular os postulados pacíficos de seu respeitado mestre, paradoxalmente, em função da perpetuação da doutrina na qual foi educado. Lee é impressionante em sua atuação, não encontrando sequer um adversário à sua altura. Esta sua performance serve figurativamente a imagem mística de um dragão chinês indestrutível, símbolo de idealismo e resiliência, onde o sacrifício de alguns vale se proporcionar a felicidade de todos os demais.


"Hoje vocês comem papel. Na próxima, comerão vidro"

Nos anos 60/70, quando as atitudes transculturais não estavam ainda tão esclarecidas, o estrelato de Lee carregava um amplo poder por trás de uma mensagem intransigente: considerar uma raça como "inferior" a outra é estúpido.

5. Bruce Lee é o avô da corrida livre


Bruce Lee e seu mestre Ip Man

A filosofia Jeet Kune Do de Lee, expressão fluida combinada com eficiência de movimento, é praticamente o principal guia por trás da corrida livre/Parkour.
Muito da filosofia de Lee foi inspirada nas idéias zen-budistas em torno da transcendência do pensamento consciente ("O eu é o maior obstáculo à execução de toda ação física").
Os praticantes de corrida livre/parkour pretendem viajar de um ponto a outro da maneira mais suave e eficiente possível para obter um tipo de fluxo físico.
Visite qualquer academia/escola do Parkour e você com toda certeza verá um pôster de Lee, que certamente teria aplaudido a graça e o dinamismo do estilo.

6. Bruce Lee inventou o malhar


Antes de Lee, as academias de ginástica eram sobre fisiculturistas do tipo Arnie, uma obsessão competitiva, do tipo fetichista.
Com foco típico na praticidade, Lee percebeu que o corpo masculino ideal seria forte e musculoso, mas também elegante e aerodinâmico, construído para poder e velocidade. A ideia agora universal de ir à academia, parecer e se sentir bem e, talvez, criar um pouco de tônus ​​muscular é puro Bruce Lee.
O fato é que ele também bebeu bife liquidificado para aumentar seus níveis de proteína.

7. Bruce Lee é o pai espiritual do hip-hop


Bruce Lee e a atriz de Hong Kong 
Diana Chang Chun-wen em Chinatown 
de São Francisco.

Todos os elementos básicos do hip-hop têm raízes na filosofia fluida e livre de Lee (rap freestyle, scratching) e na fisicalidade de agitar as pernas (breakdancing).
Mas ele também foi uma grande inspiração como ícone étnico, um "outsider" cuja presença e potência ofereciam uma imagem surpreendente de empoderamento não-branco (RZA de Wu Tang Clan: "Eu acredito que Bruce Lee era um profeta menor").
Lee foi referenciado, analisado e amostrado em inúmeras faixas inspiradas em hip-hop. A sua imagem do filme Jogo da Morte de macacão amarelo (também referenciada por Tarantino para Kill Bill) foi referenciada diretamente para o clipe de Game of Death de Gorillaz.

8. Bruce Lee moldou a cultura dos super-heróis

Para Stan Lee, fundador da Marvel Comics, "Bruce Lee era um super-herói sem fantasia. Ele foi o primeiro a conscientizar os ocidentais desse tipo de luta e modo de vida".
A Marvel produziu muitas séries de quadrinhos inspiradas em Bruce Lee, como Mestre do Kung Fu (Shang-Chi muito em breve terá seu próprio filme a integrar o MCU) e Punho de Ferro, e as qualidades instantaneamente reconhecíveis e sobre-humanas de Lee penetraram em muitas outras áreas da cultura pop (Tente encontrar um videogame de luta sem um Bruce Lee como personagem).

8.1. Personagens da DC e Marvel Comics

Richard Dragon

É menos uma referência a um personagem em particular e mais a alguns como um todo. Por causa da mania de kung fu dos anos 70 impulsionada por Bruce Lee, personagens como Punho de Ferro (Marvel), Shang-Chi (Marvel), Richard Dragon (DC) e Tigre de Bronze (DC) surgiram. 
As referências mais notáveis ​​que eu já vi com alguns dos personagens estão na arte em que estão representados. Às vezes, temos Shang-Chi vestindo um traje semelhante ao de Lee ou até desenhado para parecer mais semelhante a ele. Se tiver a oportunidade de ter em suas mãos algum exemplar dos quadrinhos clássicos, você observará que quanto mais antiga sua edição, mais Shang-Chi se assemelha a Lee. O Mestre do Kung Fu era um autêntico retrato de Bruce Lee.


Kill Bill Volume 1: A atriz Uma Thurman veste 
uma roupa realmente semelhante ao macacão 
amarelo de Bruce Lee de Jogo da Morte.
Sim, até Bob Esponja também referencia o 
mesmo filme envolvendo Bruce Lee. No
episódio "Ilha Karatê", Sandy Bochechas
veste o mesmo macacão amarelo e enfrenta 
uma série de oponentes em cada andar de 
um edifício semelhante às lutas finais 
de Jogo da Morte.


8.2. Vídeo Games

Maxi e Li Long (Soul Calibur)


Aqui estão dois personagens da série Soul Calibur que foram influenciados por Lee. Sim, o visual não existe, mas um acessório de Lee está presente: o nunchuckus. Ele os usou na maioria de seus filmes como Jogo da Morte e Operação Dragão. Além disso, alguns dos movimentos do astros estão presentes.


Fei Long (Street Fighter) 


Fei Long surgiu em Super Street Fighter II. Um dos maiores tributos a Bruce Lee dentro dos vídeo games. O passado de Fei Long nunca foi muito explorado dentro do modo história do jogo, mas tal qual Bruce Lee, Fei Long é um habilidoso lutador e um grande ator do cinema oriental. 


O encerramento do personagem (imagem acima) é um dos melhores de todo o Super Street Fighter II e é como o final da história do próprio Bruce Lee. Mesmo após a sua morte, seu legado se mantêm vivo com centenas de milhares de estudantes de artes marciais por todo o mundo, os quais receberam seus ensinamentos e os transmitirão para as próximas gerações e para todo o sempre.

Jacky (Virtua Fighter)
 

Jack Bryant é menos uma referência à sua aparência e mais ao estilo de luta de Bruce Lee.
Com relação a sua aparência, podemos ver claramente que o personagem é inspirado no músico britânico Billy Idol.  
Você pode olhar para Jacky e dizer com certeza que ele não se parece nem um pouco com Bruce Lee, mas o seu estilo de luta é exatamente o Jeet Kune Do, o estilo de luta que Lee inventou. 
Só não me pergunte se ele está usando certo, porque eu não sei.  

Lei Marshall Law e Lei Forrest Kaw (Tekken)


Marshall Law era o sósia de Bruce Lee na série Tekken
Em Tekken 3, ele foi substituído por seu filho, chamado Forrest Law e que também era praticamente Bruce Lee 2.0. 
Eles tinham tudo, desde a aparência até alguns dos maneirismos, os gritos e também usavam os famosos macacões amarelos. Eu me pergunto: O que aconteceu com Forrest depois de Tekken 3? 
Ele voltou no Tekken Tag Tournament 2, mas isso é tudo. Oh, bem, ele era apenas um clone de seu pai.

 Liu Kang (Mortal Kombat)


A maioria dos lutadores de Mortal Kombat foi baseada em algum dos grandes nomes da cultura pop. Johnny Cage era praticamente um pastiche de Jean-Claude Van Damme, enquanto Liu Kang, era Bruce Lee. A aparência e os seus maneirismos estavam presentes no primeiro jogo. 

É como se alguém literalmente pegasse o personagem de Lee de Operação Dragão e o jogasse no game. Em Mortal Kombat original, Liu Kang era praticamente o próprio Bruce Lee. Nos próximos jogos, ainda adicionaram ao personagem os mesmos gritos de Lee, mas ele foi ganhando mais personalidade própria, com um design que incorporou cabelos compridos e uma faixa vermelha estilo Ryu (ou Rambo). Em Mortal Kombat X ele tem o o seu melhor design, na minha opinião, incorporando longos cabelos grisalhos indicando a passagem do tempo na história da franquia. Já em Mortal Kombat 11, Liu Kang ficou com o desenho do seu rosto muito mais semelhante às feições de Bruce Lee e ainda ganhou nunchakus como mais uma referência ao ator e artista marcial chinês.


Evolução do design de Liu Kang.

E por falar em personalidade, Liu Kang é muito mais do que um Bruce Lee de cabelo comprido, chegando inclusive a agir como um anti-vilão por um tempo, mudando drasticamente o tom da sua história. Felizmente, ele retornou ao seu papel original como o eterno original protetor do Plano Terreno.

Os fãs mais antigos e esclarecidos dos videogames sabem que certamente Liu Kang teria sido o primeiro Bruce Lee dos games de luta, sendo seguido logo depois por Fei Long. 
Aqueles menos esclarecidos ainda se perguntam: Quem teria sido o primeiro? Liu Kang ou Fei Long?
A resposta certa é: Nenhum dos dois, uma vez que o primeiro Bruce Lee foi na verdade o personagem Kim Dragon do pouco conhecido jogo da Alpha Denshi (a antes conhecida ADK)/SNK World Heroes.

8.3. Animês


Sendo a cultura japonesa fortemente influenciada pelas artes marciais e pelos ideais benéficos do esforço e aprimoramento constante para superar os desafios e as adversidades, não é de surpreender ver estas particularidades culturais refletidas em sua indústria de histórias em quadrinhos e produção de desenhos animados. Vou citar apenas as referências mais óbvias, pois existem milhares de outras.

Kenshiro (Hokuto no Ken)


Começamos por uma das referências mais óbvias: Kenshiro, o herói/protagonista do animê/mangá Hokuto no Ken.
A história, uma das mais fantásticas e populares da história dos mangás que envolvem artes marciais, conta com muitos elementos do cinema de ação ocidental e oriental. O herói Kenshiro é muito semelhante fisicamente ao ator Sylvester Stallone e apresenta todos os trejeitos e maneirismos de Bruce Lee, incluindo os seus brados de batalha, e mesmo nunchakus foram por ele utilizados em algumas lutas.

Might Gai e Rocky Lee (Naruto)


Rocky Lee é uma das referências mais óbvias da história dos animês ao mestre Bruce Lee, inclusive em seu próprio nome. Além de fisicamente lembrar uma caricatura de Bruce, o personagem luta de forma maliciosamente idêntica. Embora Naruto seja uma história sobre ninjas, Rocky Lee luta livremente como um praticamente de kung fu na maioria das vezes.
Seu mestre Might Gai, o personagem mais legal e forte de Naruto na minha opinião (e também na opinião de Uchiha Madara), ainda que fisicamente lembre mais outro ator e também artista marcial chinês, no seu caso Jackie Chan, referencia muito mais a Bruce Lee do que seu discípulo em alguns detalhes da sua filosofia, maneirismos e estilo de luta. Posteriormente, Gai-sensei ainda acrescenta nunchakus aos seus acessórios de combate. 

Dragon Ball


Dragon Ball, provavelmente o animê/mangá mais conhecido do mundo não seria possível sem a existência de Bruce Lee. O mangaká Akira Toriyama, sendo um grande fã de filmes e fortemente influenciado por eles, para compor a sua obra, inspirou-se principalmente em Operação Dragão
O Tenkaichi Budoukai pega emprestada a ideia do filme que introduziu ao ocidente um torneio de luta com combates reais. 
A Torre dos Músculos, uma das mais famosas edificações da Saga Red Ribbon, com diferentes inimigos a cada andar com um estilo de luta diferente foi também inspirado em O Jogo da Morte.
O estilo de luta predominante de Dragon Ball é o kung fu, no entanto, com o decorrer da série, os personagens parecem assumir um estilo de luta próprio, o que pode ter sido influenciado pelo Jeet Kune Do e a filosofia de Lee (“Estilo do sem estilo”, "Seja água").
O próprio treinamento ministrado pelo Mestre Kame visava a preparação do corpo e da mente. Goku foi treinado para se adaptar e analisar o melhor jeito para vencer as lutas.


Já em Dragon Ball Z, vemos Vegeta treinando numa gravidade de 300G (imagem acima), na qual realizava apoios com dois dedos que muitos diriam serem impossíveis de serem executados por qualquer ser humano, mesmo se em nossa conhecida gravidade. Esse famoso apoio com dois dedos é o mesmo demonstrado por Bruce Lee durante uma apresentação de karatê.

Bruce Lee exite no universo das histórias de Dragon Ball?


ShenLong no Densetsu, o primeiro filme de
Dragon Ball: na cena vemos um misterioso
motorista mascarado idêntico ao personagem
Kato, interpretado por Bruce Lee na série de TV
O Besouro Verde.

É incrível, mas a resposta para a pergunta é SIM!
Além das várias referências na arte de Toriyama, o nome Bruce Lee foi mencionado por alguns personagens no começo da saga do Torneio de Artes Marciais. 
Quando Kuririn surge na história exigindo ser aceito como um discípulo de Mutenroshi, o Mestre Kame, o monge careca chega a mencionar ter treinado um tempo no templo de Bruce Lee.
O Mestre Kame fica feliz com isso e menciona que o ator e artista marcial é seu amigo.
"O Bruce é meu amigo", disse o velho mestre naquela ocasião.
Mestre Kame e Bruce Lee com certeza aprenderam muito um com o outro.


A lista de séries animadas, quadrinhos e filmes japoneses é imensa, portanto cito apenas mais algumas menções especiais:

Inosanto Dan (Tenjho Tenge): Inosanto Dan de Tenjho Tenge é uma cópia incrivelmente flagrante de Bruce Lee. Ele se parece, grita e se veste como ele. Usa nunchaku, é o presidente do "Jun Fan Kung Fu Club ", e assim por diante. 
E seu nome ainda é uma referência a um dos melhores alunos de Bruce Lee (presente na parte de depoimentos desta postagem).
Spike Spiegel (Cowboy Beebop): O caçador de recompensas protagonista da série, Spike Spiegel, ensina ao personagem Rocco um princípio de Jeet Kune Do. Quando você assiste Cowboy Bepop, descobre que Spiegel não só pratica as artes marciais Jeet Kune Do de Bruce Lee, mas também segue suas filosofias. 
Hitmonlee (Pokémon): A poderosa dupla de Pokémons lutadores, Hitmonchan e Hitmonlee, é baseada em duas grandes celebridades das artes marciais, Jackie Chan e Bruce Lee. 


Pao-lin Huang (Tiger & Bunny): Ágil e jovem lutadora de kung-fu Pao-lin Huang, também conhecida como Dragon Kid, do anime Tiger & Bunny, é uma homenagem direta a Bruce Lee. Adornada com um agasalho de treino amarelo e com um "Dragão" como apelido, uma homenagem ao clássico Operação Dragão (Enter the Dragon).
Shiryu (Saint Seiya),
Seijuro Shin (Eyeshield 21),
Wonrei (Gash Bell),
etc.

9. Abbas Alizadeh, o Bruce Lee afegão


Antes de falarmos sobre este incrível personagem real, o qual se popularizou na Internet desde 2014, é necessário um pequeno resumo de uma história esclarecedora para a atual situação do Afeganistão.

Se você conhece à fundo a realidade da referida nação do Oriente Médio e tivesse que escolher onde morar entre a Arábia Saudita, a Coreia do Norte e o Afeganistão, certamente escolheria ou a Arábia Saudita ou a Coreia do Norte. 

O Afeganistão é um país que há mais de 40 anos não vê a paz!

Tudo começou com o apoio militar da antiga União Soviética (URSS) ao governo legítimo socialista do Afeganistão no momento que este país se defendia principalmente dos insurgentes Muyahidines, grupo de guerrilheiros afegãos islâmicos liderados por ninguém menos que Osama Bin Laden e apoiados por armas e muitos dólares vindos diretamente do "país das maravilhas". 

Isso mesmo, os Estados Unidos por meio da CIA financiaram a Osama Bin Laden em sua luta contra os soviéticos no Afeganistão em uma operação que fez parte da Guerra Fria e contribuiria para o seu embate definitivo.

O Afeganistão é um lugar muito perigoso para se viver, mas nosso personagem, Abbas Alizadeh, não teme a morte e espera viver até os 50 ou 70 anos. Ele começou a treinar desde os 14 anos, imitava os movimentos de Bruce Lee e aprendeu a usar os nunchakus vendo os seus filmes. Bruce era seu herói de infância e sonhava em ser como ele.

Após conquistar a sua independência do Reino Unido em 1919, o Afeganistão, sob o governo do rei Amamnullah Khan, experimentou grandes progressos, especialmente em questão de Direitos Humanos.
Porém, tudo isso mudou após um golpe de Estado arquitetado pelo Reino Unido e com a queda com rei Amamnullah em 1929.
 
Nós latino-americanos estamos muito habituados com situações assim em nosso continente. Quando um país que outrora enfrentava grandes instabilidades começa a caminhar com suas próprias pernas, contrariando interesses transnacionais, tem sua caminhada interrompida por golpes financiados pelas grandes nações imperialistas (leia-se Estados Unidos). Perdemos o sentido de comunidade, de povo, agora fomos reduzidos apenas um amontoado de pessoas sobre uma terra arrasada. 
 
Em 1978, os socialistas chegaram ao poder no Afeganistão. Algumas de suas reformas foram boas e outras péssimas. Eles revolucionaram a escolarização, isso foi ótimo, porém cometeram equívocos com a reforma agrária e o seu erro mais grotesco foi impor uma ideologia ateia sem levar em conta o espírito religioso daquele povo. 
Facções rebeldes e religiosas extremistas desataram uma escalada de violência no Afeganistão. 
As duas maiores potências do momento, Estados Unidos e URSS entram então no jogo.
Aqui cabe uma distinção básica entre invasão e intervenção. 
A URSS não invadiu o Afeganistão. As duas nações estavam alinhadas politica e ideologicamente na época. O próprio governo afegão solicitou aquela intervenção por parte do governo soviético devido ao caos que reinava em seu país.
O mesmo não pode ser dito sobre a ação americana na Síria. O caso Síria foi uma invasão norte-americana, porém o caso Colômbia foi um simples uma intervenção. 
Estados Unidos e Colômbia estão alinhados politicamente há muitos anos e o governo colombiano solicitou a intervenção norte-americana. 
Pedidos de colaboração entre nações politicamente alinhadas fazem parte da geopolítica estável, a isso chamamos de intervenção. 
A ação norte-americana em solo afegão, conhecida como Operação Ciclone, teve Osama Bin Laden como um grande aliado para impedir o avanço do comunismo. Ele foi chamado pelo jornais norte-americanos da época de um guerreiro anti-soviético que lidera um exército no caminho da paz. Quem diria? 


Jornal norte-americano The Independent:
"Guerreiro anti-soviético põe seu exército na estrada para a paz"
Era assim que os Estados Unidos viam Osama Bin Laden quando
os inimigos dele eram os soviéticos.

O norte-americanos colocaram uma marionete sua no poder do Afeganistão em 1996 e os talibãs transformaram o país em um reino de terror. O resto da história todos conhecemos: Após o atentado terrorista ao World Trade Center em Nova Iorque (2001), cujo mentor teria sido Osama Bin Laden, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão com uma intenção aparente de caçada ao terrorismo.
O Afeganistão é apenas um dos muitos exemplos de países onde a invasão dos Estados Unidos, em nome de seus interesses políticos e econômicos, substituiu um governo levando aquela nação a cair nas mãos de grupos religiosos extremistas anti-democráticos.
A hipócrita política norte-americana professa ser intolerante aos países que dialogam com ditaduras, mas os Estados Unidos por muitos anos dialogam e tem como aliados poderosas e sanguinárias ditaduras, como a Arábia Saudita, além de terem colaborado na criação de outras.

Em meio a todo este caos nasce um nova estrela, Abbas Alizadeh, um jovem que com a ajuda do esporte tenta inspirar os demais, grandes ou pequenos, a se tornarem fortes ante as adversidades. Entretanto, surgem religiosos radicais  que não apenas o criticam, mas também o ameaçam de morte. 
Se há 100 anos as mulheres do Afeganistão poderiam andar nas ruas sem medo, agora sabemos como devem andar vestidas. 
Se há 100 anos havia mais liberdade de pensamento, agora sabemos o que pensam aqueles que criticam o Bruce Lee afegão.
Se há 100 anos havia mais liberdade religiosa, os líderes daquela nação pautam toda a sua lei exclusivamente sob seu livro sagrado.

É revoltante pensar no grande perigo de vida que este jovem corre em pleno século XXI apenas por querer viver a sua liberdade e o mais importante sem fazer mal a ninguém.
Abbas Alizadeh é exemplo de persistência e perseverança. Em nome da liberdade, sua mensagem toca diretamente todos aqueles que ainda defendem a democracia. Frente um estado anti-democrático, desobedecer sempre, reverenciar jamais.

"Quero encontrar o meu lugar no mundo. Quero ser Abbas. Não quero ser Bruce Lee. Como já disse, nunca haverá ninguém igual a Bruce Lee. como tão pouco haverá outro como Abbas".

Abbas Alizadeh

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