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sexta-feira, 3 de julho de 2015

ESTUPRO: O ETERNO TABU DAS OBRAS DE FICÇÃO


Demorei muito para escrever algo sobre o assunto. Foi quando lembrei da grande polêmica que foi causada pela publicação da capa da revista Batgirl na arte do brasileiro Rafael Albuquerque. A capa em questão foi cancelada e houve muitos protestos e acusações de que a DC Comics estaria glorificando a violência sexual contra a mulher.
Analisando a ilustração (que você pode ver no início desta postagem), podemos facilmente perceber que ela faz uma referência direta ao clássico A Piada Mortal, de Alan Moore.
Em A Piada Mortal, vemos o vilão Coringa invadir a casa da família Gordon, atirar em Barbara/Batgirl (condenando-a a uma cadeira de rodas), para então despi-la e tirar fotografias, e em seguida, utilizando de uma cruel tortura psicológica (que  incluiu o uso destas fotografias) tenta conduzir o Comissário Gordon, o pai da garota, à loucura dentro de um circo de aberrações.
Dependendo de como você escolhe interpretar a história e as fotografias, você poderia argumentar que Barbara também fora agredida sexualmente. Você pode acreditar quando Alan Moore afirmou que ele não estava tentando sugerir uma agressão sexual, mas a forma visual daquela violência abre espaço para muitas interpretações obscuras. Aquele ato poderia ser qualificado como abuso sexual.

"A Piada Mortal", de Alan Moore
Com isso em mente, a ilustração da capa da revista da Batgirl pode facilmente assumir um subtexto sexual indesejado. O Coringa está segurando Barbara contra sua vontade. Ele está acariciando seus lábios. Ela não pode lutar ou resistir. Ela está apenas presa, indefesa, e tão aterrorizada que pode apenas chorar. A posição da pistola do Coringa entre os seios da moça pode até mesmo ser interpretada como uma imagem fálica. Eu não vou nem dizer se eu concordo plenamente com esta leitura da capa porque isso não é importante. O ponto é que esses elementos estão lá e muitos leitores interpretaram a capa como sexual. A capa gera esse subtexto sexual de uma forma que provavelmente não se caracterizaria para quaisquer outros dois personagens do Universo DC.

"After Rafael Albuquerque"
Caso em questão, esta imagem acima feita por um fã, como forma de protesto contra a ilustração de Rafael Albuquerque, e esteve disponível na rede pouco tempo depois.
Foi concebida como uma forma de mostrar um herói masculino na mesma posição de impotência de Batgirl na polêmica capa. Mas eu acho que isso prova que a história entre a Batgirl e o Coringa é o que faz o desenho de Albuquerque inquietante. Não há nada de sexual sobre o relacionamento de Superman e Apocalipse. Os dois têm uma história de se espancarem até a morte, e é só isso. Assim, o efeito de ver o Apocalipse passar um batom na boca de um choroso Superman é mais bizarro ou cômico do que qualquer outra coisa. Pois é, o autor do desenho de protesto quis chocar para nos conscientizar sobre a "cultura do estupro", mas o máximo que conseguiu foi nos fazer dar umas boas gargalhadas.

A Piada Mortal é influente e também veio para redefinir a história da Batgirl. Trata-se de uma tragédia persistente a qual ela não consegue escapar, mesmo depois de sua recuperação e retorno ao dever. Nos anos seguintes, investiu-se pesadamente com Barbara e, acima de tudo, a revista tem sido uma metáfora sobre superação do trauma, e houve um esforço claro e concentrado para finalmente mover a Batgirl para longe da sombra de A Piada Mortal. Esta representação da heroína foi muito positiva e motivacional, e estimulou muitas jovens, que infelizmente passaram pelo mesmo drama, a se superarem. A nova identidade de Barbara Gordon, Oráculo, era uma verdadeira metáfora sobre superação, e infelizmente não a vemos mais em os Novos 52 e nesta "Era do mimimi".

Lembro que o crime do estupro era algo muito comum nos filmes dos anos de 1980. Se você é fã de Charles Bronson, pode muito bem saber do que estou falando. Claro que o estupro também poderia aparecer em alguns filmes como um recurso apelativo e estúpido, apenas servindo para mover a trama, dando uma motivação para o herói caçar alucinadamente o vilão.
Há muitos casos que ocorreram também nos quadrinhos. Alguns destes são tão subjetivos que muitos dos leitores podem jurar que não aconteceram.


Miss Marvel

O maior/pior caso de estupro foi sem dúvidas o da Miss Marvel.
Na minha opinião, uma verdadeira atrocidade. Uma das piores coisas já feitas pela Marvel Comics.
No fim dos anos de 1970, Carol Danvers, a Miss Marvel, tornara-se uma das principais personagens femininas da sua editora. E a dita história foi o que arruinou tudo isto.

Miss Marvel fica misteriosamente grávida e dá a luz a um bebê chamado Marcus que cresce instantaneamente. Depois é revelado que ele controlou a mente, "seduziu" a sua própria mãe, e a engravidou.
Basicamente Marcus era um viajante do tempo e voltou ao passado para engravidar a própria mãe. E após tudo isso eles foram ao espaço.
Para finalizar, quando Carol partiu com Marcus, os Vingadores mandaram lembranças e desejos de boa sorte ao novo casal. E Marcus até mesmo revela ao Homem de Ferro e ao Gavião Arqueiro que teve "ajuda" de um aparelho que controlava mentes para conseguir "uma mulher daquelas", e no fim todos riem e nenhum dos Vingadores acha a situação estranha! Como é possível que uma história tão obscura, com um roteiro desses, tenha sido aprovada e publicada?

Chris Claremont salvou Os Vingadores.

A história toda foi "concertada" quando Chris Claremont ajeitou a trama em Fabulosos X-Men, com direito a um belíssimo discurso de Carol para os Vingadores, confrontando-os por terem falhado com ela, e esperando que este erro ajudasse outras pessoas.
Eventualmente a Marvel, na tentativa de esconder isso, criou o ataque da Vampira a Miss Marvel para deixa-la em coma e longe da ira das feministas.
Imagino que estes dados podem ser um tanto chocantes para aqueles que foram conhecer a personagem Vampira por causa daquele desenho animado dos X-Men da década de 1990. E pensar que todo aquele lance da personagem ganhar os poderes da Miss Marvel (vôo, super-força, sentidos Kree) surgiu como um recurso para tirar Carol Danvers de cena.

Vampira, Fabulosos X-Men #236.
E isto nos leva agora a falar de um outro polêmico caso que foi o estupro da Vampira em Genosha.
Vampira, uma personagem cujos poderes a proíbem de tocar as pessoas, inesperadamente perde esses poderes e subitamente é estuprada na prisão. E mesmo que a Marvel sempre fale de forma subjetiva e alguns leitores contestem, no texto de Chris Claremont há claras evidências de que a tragédia tenha acontecido.

Estupro não é um assunto fácil. É algo que pode destruir a vida de uma pessoa, acontece muitas vezes na realidade, e assim não é surpreendente que apareça também na ficção.
Fushigi Yuugi, de Yuu Watase, foi um shojo mangá popular dos anos de 1990 e ele retratava várias tentativas de estupro a uma taxa de proporções infames.
A heroína desta história é Miaka, uma colegial de 15 anos, que é sugada para dentro de um mundo mágico contido dentro de um antigo livro chinês. E ela começa a viver a lenda escrita naquela história, transformando-se em "Susaku No Miko", a sacerdotisa do deus Suzaku, e encarregando-se de reunir os sete guerreiros celestiais, cujos destinos são proteger e ajudar a sacerdotisa de seu país. Com os guerreiros reunidos, ela pode invocar, através de uma cerimônia, o seu deus que poderá realizar os seus mais grandiosos desejos.

Miaka "Susaku No Miko" e Yui "Seiryu No Miko",
mangá Fushigi Yuugi.
As coisas ficam complicadas quando Yui, uma amiga de infância de Miaka, também é sugada pelo livro mágico e converte-se na sacerdotisa de Seiryu, o deus de um país vizinho inimigo. Este país é extremamente imperialista e, com seus próprios guerreiros celestiais, tem planos para impedir Miaka e seus companheiros.
Aqui é onde nós alcançamos o ponto problemático. Há uma série de maneiras de sabotar as tentativas do outro lado invocar seu deus e realizar os seus desejos. Uma destas maneiras seria livrar-se da sacerdotisa. Isso poderia significar apenas matá-la, e a série certamente emprega isto de várias formas, mas os vilões do mangá podem utilizar uma outra tática mais obscura. A sacerdotisa deve ser pura, ou seja, virgem, para realizar a cerimônia que convoca o seu respectivo deus. Portanto, muitos dos inimigos de Miaka vão tentar estuprá-la.

Muitos podem argumentar que em tempos de guerra o estupro é tristemente comum e se você adicionar o fator de que o estupro pode ser usado para impedir o seu inimigo de alcançar seus objetivos, faz sentido que ele seja utilizado em Fushigi Yuugi. Mas isso acaba sendo incrivelmente apelativo durante a série. E em quase todas essas tentativas, Miaka é a vítima. É tão ruim que um fã de Fushigi Yuugi pode tranquilamente questionar: "Quem nunca tentou estuprar Miaka?"
Na minha opinião, o número de tentativas de estupro na série sugere um problema. Começa a parecer ridículo, e como resultado qualquer discussão séria sobre agressão sexual dentro da história torna-se quase impossível. A forma como o enredo é trabalhado, a exploração real do problema da violência sexual e seus efeitos são nulas e o estupro funciona mais para criar um drama barato, assim como os filmes de terror que recorrem frequentemente a tragédia do assassinato em um enigmático banho de sangue.

Mas há momentos em que a série tenta tocar nesses efeitos. Quando Yui e Miaka acreditam ter sido estupradas, ambas parecem desenvolver transtorno de estresse pós-traumático, uma experiência que às vezes também afeta seu relacionamento com os outros. Mas as personagens parecem estar chateadas com isso apenas no momento, e logo se recuperam do trauma como se nada tivesse acontecido, isto é, até a próxima tentativa de estupro. Na verdade, os únicos momentos em que elas parecem sofrer um efeito é quando acreditam que o estupro tenha sido concluído. Caso contrário, a tentativa de estupro é posta de lado, desde que a relação sexual não tenha sido concluída.
Embora Fushigi Yuugi seja uma leitura leve, se as heroínas não são agredidas sexualmente, eu acredito que os escritores deveriam comprometer-se em aprofundar os efeitos do estupro através de um personagem que tenha sido vítima em vez de recuar no último momento. O grande problema com este enredo é que mais de uma vez parece ser sugerido que, enquanto a pessoa não tenha realmente sofrido a agressão, está tudo bem.
Ainda que tenha sido pouco explorado neste mangá, somos apresentados ao caso de Nakago.

O passado de Nakago.
O vilão da história Nakago, um dos sete guerreiros celestes de Seiryu, era extremamente cruel e frio, mas dotado de um forte carisma. Um personagem interessante, mas ele também chegou a tentar agredir Miaka sexualmente (Com poderes de fazer inveja a Jean Grey, ele poderia facilmente matar a heroína, mas preferiu tentar tirar a sua virgindade). Nakago só não concluiu o ato porque Miaka foi salva graças aos seus poderes de Miko e porque o vilão recuou ao se ver na sua própria inimiga.

Sim, no final da história descobrimos que Nakago fora estuprado, e o seu caso é ainda mais dramático, envolvendo pedofilia, pois quando isso ocorrera ele ainda era uma criança!
Após ver sua mãe ser estuprada e morta pelos soldados do seu país que exterminaram todo o seu clã, ele foi "adotado" pelo próprio imperador, que o transformou em um "brinquedo sexual". Nakago cresceu no palácio real e, sob a proteção do rei, tornou-se um soldado e líder do exército daquele país, mas secretamente arquitetou a sua vingança contra o homem que o molestara durante toda a sua infância e matara a sua família.

Nakago: "Você massacrou a minha tribo. Agora você vai sentir a
 agonia que infligiu."
Os efeitos daquele trauma eram bem visíveis em Nakago, a experiência mexeu com a sua personalidade. Além da crueldade e falta de escrúpulos, era incrivelmente sarcástico com todos, aliados ou inimigos ("Você me excita, quase tanto quanto uma mulher"), e era incapaz de amar, isto é, até que sua aliada Soi se sacrificou por ele na guerra.
Soi era uma guerreira celeste de Seiryu com poderes sobre o clima, foi uma ex-prostituta que tornou-se guerreira, tendo sido vendida para um bordel pelos próprios pais quando criança. Foi Nakago quem a tirou daquela vida de sofrimentos e por isso Soi apaixonou-se por seu salvador. Será que todos os vilões de Fushigi Yuugi foram prostitutas?

Já repararam como homens sendo estuprados quase sempre é encarado como uma piada? Tipo em filmes de comédia escrachada? Será que tal experiência não seria igualmente traumática para um homem? Onde fica a "igualdade de sexos" numa hora dessas? Se uma mulher acusa alguém de estuprá-la, ela certamente será ouvida e levada a sério, mas caso um homem se queixe de estupro, ele ouvirá simplesmente que "não foi homem o suficiente".

O Homem-Purpura e Jessica Jones
Voltando a ficção, existem alguns casos em que este tipo de violência foi utilizada para montar uma história, sem que este tema fosse o foco dela. Como foi o caso da Jessica Jones de Brian Bendis, também na Marvel.
Jessica é apresentada nesta história como uma ex-super-heroína que, embora fracassada, era também incrivelmente carismática. Durante toda a série é colocado um ar de mistério sobre o motivo pelo qual ela deixara de ser super-heroína, algo de terrível havia acontecido.
Então descobrimos que ela fora violentada pelo Homem-Purpura. Este, apesar de não ser um nome de peso dentro da ampla galeria de vilões da Marvel, é muito lembrado por ser um estuprador.
Mas o mais surpreendente nesta história foi que o Homem-Purpura jamais encostou em Jessica. Com seus poderes de controlar a vontade das pessoas, ele apenas fez com que a heroína o desejasse mais do que tudo na vida, e assim a torturava, obrigando-a a vê-lo transando com outras mulheres. Depois disso, ainda teve um rolo com o Homem-Purpura a controlando para matar o Demolidor, quando acabou fracassando. Jessica não teve seu corpo violado, mas sim a sua mente.

O outro caso relevante foi o estupro de Guts, na série de mangás de Berserk. Quando ainda era uma criança de apenas nove anos, vivendo com um grupo de mercenários, Guts foi violentado de várias formas, inclusive sexualmente. Ele foi vendido pelo pai adotivo que o odiava para uma noite de sexo com um notório pederasta de um outro exército.


Guts

O protagonista de Berserk era pequeno e fraco, e apesar daquela cena aparecer em apenas um quadrinho, foi o acontecimento que moldou o personagem. Guts odeia ser tocado, não confia nas pessoas, mesmo naquelas a quem salva, e não quer ter nenhum tipo de relação. Mas quem poderia pensar de outra forma, combatendo diariamente monstros e demônios que querem te matar e te foder em todos os sentidos?
Triste foi quando Guts finalmente fez um grupo de amigos em quem poderia confiar, mas o líder deles o traiu, permitindo que todos fossem mortos por um grupo de demônios e ainda violentou a mulher que ele amava na sua frente, o que fez as terríveis memórias de seu passado retornarem! A nova experiência traumática faz Guts tornar-se mais recluso e desconfiado.
Guts pode ser um dos caras mais machos de todos os animês e mangás e ainda um incrível espadachim e matador, mas continua traumatizado pela experiência. A profundidade da personalidade de Guts é uma das mais incríveis.

E finalmente chegamos ao caso de MW, mangá do final dos anos de 1970 de autoria de Osamu Tezuka, um drama psicológico de assassinato e guerra química. Os personagens principais, Garai e Michio Yuki, estão envolvidos em um relacionamento sexual de longo prazo que termina em drama e desgosto quando Yuki, infectado pelo gás venenoso MW, transforma-se em um assassino psicopata.


Na mesma noite em que aconteceu a liberação acidental do MW, Yuki, ainda criança, foi estuprado por Garai, quando se escondiam em uma caverna da Ilha Okino Mafune.

Yuki  e Sumiko, mangá MW.
O relacionamento dos dois é certamente tumultuado. Com um grave complexo de culpa, Garai torna-se um religioso como compensação por seus erros passados e deseja mais do que tudo salvar Yuki daquela vida de crimes horríveis. Garai é para Yuki, além de seu confidente, o seu amante. Existem casos registrados pela psicologia em que vítimas de abuso sexual se apaixonam por seus próprios agressores. Há por exemplo neste próprio mangá o episódio em que a jovem Sumiko apaixona-se por Garai, e Yuki, enlouquecido pelo ciúme, a viola. Mas a pobre moça, muito fraca e abalada mentalmente, com o tempo relevou desejo de casar-se com Yuki.

MW é um trabalho que examina a condição humana e a psicologia por trás daqueles que matam e as pessoas que as protegem. Também é uma violenta crítica ao servilismo do Japão aos EUA e a indústria bélica.




A dicotomia de bem e mal, são e insano, entre Garai e Yuki é evidente em MW. Incluído também está o conceito do inferno como este lugar de represálias. Yuki por exemplo é constantemente comparado ao demônio. Ele tornou-se um inimigo do governo, um bissexual sádico capaz de qualquer coisa para realizar seus objetivos, mesmo que isto inclua estuprar homens e mulheres. As noções sobre o inferno e vida após a morte no xintoísmo são semelhantes aquelas às quais os ocidentais estão acostumados, mas o inferno parece muito mais real e menos cerebral.
Garai fala constantemente de retribuição por seus pecados e pelos pecados de Yuki a partir de uma perspectiva japonesa, algo que você não vê frequentemente tão bem feito. O Dr. Tezuka fez claramente sua pesquisa sobre religiões.

O tormento de Garai.

No final, no entanto, as linhas entre estas duas forças em conflito, sejam elas quais forem, estão constantemente embaçadas. Embora os dois personagens sejam claramente dois lados da uma mesma moeda, a diferença entre eles torna-se mais turva na última metade da história quando Garai em vários momentos faz coisas questionavelmente morais a mando de Yuki. No raciocínio do próprio Garai, ele está apenas tentando salvar Yuki.

In Hell: "Não deixe que transformem você em algo que não é."
Estupro ainda é um tabu nas obras de ficção. Um crime hediondo, porém encarado por muitos como um ato extremamente horrível apenas quando entre um homem e uma mulher, e estranhamente sendo permitido e considerado tema para piadas quando entre pessoas do mesmo sexo. Com relação ao assunto há um pesadíssimo e violento filme In Hell, com Jean-Claude Van Damme, que retrata a assustadora realidade do estupro nos presídios. O homicídio muitas vezes também é usado nas histórias ficcionais de uma forma forçada e estúpida, e o estrupo quando usado do mesmo modo é ainda pior.

sábado, 23 de maio de 2015

FANATISMO E RELIGIÃO (2), DIREITOS HUMANOS E O POLITICAMENTE CORRETO


Não tenho medo de ser politicamente incorreto. Opinião todos nós temos, e acredito que muitos vão considerar uma obrigação moral tomar partido aqui.
Na minha última postagem ataquei os ultraconservadores, mas desta vez ataco a hipocrisia dos liberais, aproveitando este ano louco de 2015 que começou com o atentado a sede da revista Charlie Hebdo na França, além das diversas ações violentas do Estado Islâmico, e tudo o que vem sendo exaustivamente falado sobre o assunto.
Uma máxima que os politicamente corretos (gostaria de evitar usar esta expressão) usam durante fatalidades como estas é "deturpação do real islã". Mas o que vem a ser essa tal "deturpação"?

X-Men Schism - O mutante Kid Ômega usa o seu poder e revela o que há no coração dos líderes mundiais.
Participação especial de Ahmadinejad?
Considero um erro, um gravíssimo equivoco, uma pessoa como eu opinar sobre se o Estado Islâmico é ou não é o verdadeiro islã. Por quê? Simplesmente porque não tenho conhecimento sobre isso, não tenho nenhuma autoridade para falar a respeito do assunto. Enfim, não me sinto minimamente preparado para dizer se o Estado Islâmico é ou não o verdadeiro islã.
Mas eu sei que o Estado Islâmico baseia todas as suas ações em tradições islâmicas e no Alcorão. Fazem isso por mal? Deturpam? Talvez. Mas não sou eu, que não entendo nada de tradições islâmicas e Alcorão, quem vai dizer.

Crítica genial
De acordo com o que ouvimos das autoridades islâmicas que são contra o Estado Islâmico, e que procuraram apoio Ocidental, dá para compreender como funciona a lógica dos terroristas. Não podemos simplesmente fazer o jogo deles.
O diálogo com as autoridades islâmicas que são contra o Estado Islâmico é correto, pois com seus argumentos é possível entender que há outro islã possível. Não se trata de uma guerra contra o islã, mas uma guerra contra o terrorismo. Então espero que tenha ficado claro que não disse, nem nas linhas nem nas entrelinhas, que aqueles assassinos são o verdadeiro islã. Não há entrelinhas a ler no meu texto.

Holy Terror de Frank Miller - Propaganda anti-Islã ou anti-terrorismo?
A verdade é que há muitos muçulmanos que abominam este tipo de violência. Alguns falam muito abertamente sobre isto e a imprensa não lhes dá tanta atenção como deveria.
Mas não deixa de ser verdade que a “pequena minoria” de que sempre ouvimos falar, para apaziguar os nossos medos e proclamar a nossa própria tolerância, traduz-se em dezenas, ou mesmo centenas de milhões de potenciais terroristas em todo o mundo.
As ameaças não surpreendem, uma vez que estudos revelam que grande parte dos muçulmanos apoia o islã radical e consideram os atentados justificáveis. Caso não sejam tomadas as devidas providências, poderemos lidar, num futuro próximo, com uma realidade que continuará a inspirar violência a um nível global.
Sobre o caso do massacre em Paris no início deste ano, algo foi muito pouco comentado: O Charlie Hebdo é mais do que uma revista satírica, é radicalmente anarquista, com mais do tipo de autoritarismo que frequentemente acompanha a anarquia.
Mas os muçulmanos radicais não temem serem "zoados". É errado pensar que as charges da Charlie Hebdo fazem diferença para os radicais. Aliás, charges não fazem diferença nem para os políticos, embora estes sim tenham medo de serem "zoados". Aquelas charges não fazem mal a ninguém, mais parecem coisas que os adolescentes adoram fazer, enquanto os adultos simplesmente ignoram.
Mas os chargistas da Charlie Hebdo apresentavam uma única virtude reconhecida: coragem. Sim, coragem que deveria ser imitada (a coragem deve ser imitada, não a falta de respeito!). Mesmo depois de serem incendiados em 2011, eles não cederam à pressão islamita, nem mesmo sob a pretensão da sensibilidade para com a religião.
Não tenho pretensão de formar opinião, mas eu acredito que os chargistas estavam errados, assim como estavam errados também os islâmicos! Mesmo que os chargistas defendam a liberdade de expressão, ofenderam muitas pessoas enquanto inspiraram outras. E olha só, se você fizer uma paródia pornográfica com o cristianismo, dificilmente deverá aguardar que um padre venha te assassinar, assim como se fizer o mesmo com o budismo, não precisará se preocupar com a retaliação de algum monge. Mas se a fé atacada for a islâmica, você pode aguardar pelo seu assassinato, mesmo nestes tempos modernos. E tudo o que fizer contra o islã neste século ainda vai servir de exemplo para o próximo século!
Viva a liberdade, mas repeito é bom, e todo mundo gosta!
Com relação aos nossos amigos e vizinhos politicamente corretos, existem muitas coisas que não consigo compreender. Por que estão sempre do lado do terrorista, do lado do criminoso? Nunca vai haver uma generalização do crime quando este é cometido pela afiliação terrorista da qual falamos.

Pichação na Mesquita Brasil em São Paulo
Lembro que no Brasil aconteceram protestos com mensagens e ações em apoio aos chargistas assassinados. E houve um caso, noticiado inclusive pela Folha de São Paulo, de uma pichação no muro de uma mesquita com os dizeres "Je suis Charlie". Tal ato revoltou muitas pessoas que acusaram os responsáveis de cometerem "islamofobia à brasileira" por supostamente estarem generalizando todos os muçulmanos como terroristas (De fato foi uma agressão, mas nada que se compare a uma marcha das vadias). E pensar que estas mesmas pessoas não fazem qualquer protesto contra, por exemplo, o Irã, um regime teocrático vergonhoso, onde pessoas podem ser mortas, enforcadas e penduradas em guindastes pelo simples fato de serem gays. As mesmas pessoas que também se dizem fervorosas defensoras da causa LGBT quando da visita do ex-presidente iraniano Mahamoud Ahmadinejad ao Brasil, alguns anos atrás, não realizaram qualquer tipo de manifestação. Onde estavam os "corajosos" militantes? É um estranho paradoxo.

Como lidar com o terrorista adepto do islã sem ser taxado como "racista"? Será que ser seguidor de Maomé confere um DNA diferente?
O massacres cometidos pelos terroristas diariamente no Oriente Médio contra pessoas de outras crenças religiosas, particularmente cristãos, também não causam nenhum impacto. Até parece que estes oprimidos não tem nem o direito de existirem.

Jihad, em Esquadrão Suicida.
"A arte imita a vida".
A única vez que vi mobilização de alguns politicamente corretos por tais assassinatos foi o caso do Boko Haram, o grupo terrorista que massacrou cristãos e incendiou igrejas em retaliação às charges da revista Charlie Hebdo. Mas o que aquelas pessoas tinham a ver com as charges? Por um acaso os autores das charges também eram cristãos? E aqueles que se importaram com o ocorrido o fizerem porque este aconteceu na África, e não seria politicamente correto o suficiente da parte deles ficarem calados. Se fosse o mesmo de sempre no Oriente Médio, permaneceriam em silêncio. Mas em todos os casos são vidas humanas, igualmente importantes. Quanto vale a vida de um cristão na Síria?
Durante anos fomos doutrinados contra esse tipo de “racismo”. Por quê? A única resposta verdadeira é que era mais fácil para os políticos usar um termo aceito universalmente como negativo do que percorrer o caminho mais complicado de lidar com um problema muito mais complexo.

X-Men Schism - X-Girls dão uma lição em Amahdinejad com o poder feminino e...
Kitty Pryde: "Mencionei que sou judia?"
Pessoas matam por causa de religião? Sim, matam! Mas também matam por causa de política, de dinheiro, e até por futebol. Vejam só como podemos ser patéticos!
O problema não é a fé! São as pessoas!
E mesmo que se vivêssemos em um mundo onde ninguém acredita em nada, certamente ainda encontraríamos outros motivos para nos matarmos!

Bom, mas este é um humilde blog sobre assuntos diversos da cultura geek, que de vez em quando gosta de expressar a sua opinião sobre diversos assuntos da atualidade correlacionando-os a obras da ficção como quadrinhos, mangás, livros ou filmes, principalmente se estiverem ligados a geopolítica.
E por mais estranho que possa parecer, essa discussão sobre fanatismo sempre acaba no velho e cansativo papo de direita contra esquerda.
E acho que a essa altura do campeonato todos já devem estar por dentro da antiga briga entre Alan Moore e Frank Miller.

Alan Moore Vs Frank Miller
Fight!
Alan Moore e Frank Milller são dois dos mais influentes criadores de quadrinhos das últimas décadas.
Moore é inglês e seus quadrinhos mais famosos são V de Vingança e Watchmen. Miller é americano e responsável por maravilhas como Sin City e Os 300 de Esparta.
A treta deu início quando Frank Miller causou revolta por criticar o movimento "Ocupe", o protesto anti-capitalista que segundo ele "não é nada menos do que uma tentativa desajeitada e mal expressa da anarquia" feita por "um bando de crianças mimadas empunhando os seus iPhone e iPad e que deveriam parar de ficar no caminho de pessoas trabalhadoras e irem procurar empregos para eles mesmos" porque "a América está em guerra contra um inimigo implacável".
Alan Moore se autodenomina um anarquista e em sua graphic novel V de Vingança, o personagem V, usando uma máscara de Guy Fawkes, trabalha para derrubar o governo. E segundo Moore, os protestos Ocupe são "apenas pessoas comuns reivindicando direitos que sempre deveriam ter sido delas". E ainda lançou um ataque ao seu colega, condenando o seu trabalho como misógino, homofóbico e "completamente equivocado".

Robin, modere o seu linguajar, por favor...

As vezes eu me sinto como o
Lanterna Verde.
Como um anarquista, Moore acredita que o poder deve ser dado às pessoas cujas vidas isso está realmente afetando. Ele sugere que não é nada bom ter um grupo de pessoas "controlando os nossos destinos". Esse grupo que "nos controla" têm o poder porque eles controlam a moeda, além disso, eles não têm autoridade moral e mostram o oposto desta autoridade.

Tanto Frank Miller quanto Alan Moore tem pontos interessantes em suas críticas.
Mas Moore expõe o já manjado papo da Esquerda. Pregam "igualdade", mas sempre jogam uns contra os outros (pobres contra ricos, brancos contra negros, gays contra héteros, etc). Sem falar que ele é um hipócrita. Reconheço a genialidade de Moore, mas mesmo sendo um gênio, ainda é um hipócrita. Odeia o capitalismo e Hollywood, tanto que nem queria seu nome sendo creditado a "porcaria" que seria a versão cinematográfica de V de Vingança, mas esse movimento Ocupe foi inspirado justamente pelo filme. Duvido que tais manifestantes tenham conhecido o seu trabalho lendo quadrinhos.
Ele também declarou abertamente odiar quadrinhos e super-heróis, mas de onde será que vem o dinheiro que ele recebe? Seu colega é acusado de misoginia, mas qual é a da obsessão que Moore tem em sempre colocar algum estupro de uma mulher em seus quadrinhos?

Frank Miller por outro lado foi babaca com relação a alguns pontos de suas declarações, ainda que ao menos reconhecera que passou uma imagem muito superficial do terrorismo islâmico na sua tão criticada história Holly Terror, na qual todos os muçulmanos são retratados como terroristas perigosos e são incansavelmente perseguido pelo super-herói The Fixer.
Com razão as declarações de Miller foram criticadas? Sim, mas como já falado, a questão é muito mais complexa. Ser um esquerdista funciona muitas vezes como um escudo, Moore pode falar e escrever o que bem entender, mas nunca receberá as mesmas críticas que o seu colega Miller. Deve ser por isso que a maioria esmagadora dos humoristas são de esquerda. E, claro, vale qualquer ofensa contra os católicos, mas nem pensar em criticar um jihadista.
Mas a questão não é ser de esquerda ou direita. Quando você é um babaca, você é um babaca.

Bem, eu sou fã de ambos, acho os dois geniais. E é engraçado esse flagrante conflito entre Moore e Miller, porque eles são alguns dos maiores nomes da grande revolução em quadrinhos da década de 1980, com aquelas tão marcantes obras com um conteúdo mais adulto e sombrio que as histórias de super-heróis passaram a ter.
Não deixo de gostar do Moore por ele ser um anarquista ou "petralha", nem deixo de gostar do Miller por ele ser um ultra-conservador ou "coxinha". Concordo e discordo em muitas das ideias por eles defendidas.

Esquerda e Direita: No fundo um não vive sem o outro.
Essa pseudo-guerra não leva a lugar nenhum. E, sério mesmo, caso você queira militar por algum partido ou causa, a primeira coisa de que precisará será uma venda para os seus olhos. O canal Nerdologia do Youtube trás um vídeo muito interessante que aborda este assunto.
E agora, para falar rapidamente sobre a ligação entre direitos humanos e o politicamente correto, vou usar mais um exemplo dentro da ficção:

Pode me acusar do que for, mas alguns dos trabalhos de Miller são perfeitos para expor uma crítica sobre diretos humanos e politicamente correto.
Entre os anos de 2012 e 2013 veio a adaptação em desenho animado da célebre história em quadrinhos de 1986 "The Dark Knight Returns" de autoria de Frank Miller. E uma das figuras mais controversas apresentada na obra é o Dr. Bartolomew Wolper, um psiquiatra liberal que garante que todos os criminosos loucos de Gotham são apenas vítimas do Batman. Uma questão recorrente é se a ação do Batman como combatente do crime vale para a redução da criminalidade ou na verdade estimula os criminosos a saírem da toca.
Será que há alguma razão nesta teoria? No contexto desta história, o Dr. Wolper é então um médico midiático que só dá bola fora.

Animação Batman The Dark Knight Returns:
Dr. Wolper e o "reformado" Coringa.
O crime e a violência são problemas sócio-econômico-educacionais. Um dos maiores problemas sociais que enfrentamos é a fala de educação. Educação familiar, escolar e social. A educação que há anos segue em declínio. Os crimes mais comuns, que com pesar percebemos serem em grande parte praticados por jovens, são estupros e torturas, e estes não tem relação com níveis sociais. Pessoas matam ou estupram por pura maldade e não por falta de condições melhores de vida.
Nosso código penal é ainda obsoleto e precisa urgentemente de uma revisão. Se os criminosos cometem crimes hediondos, não devem ser protegidos de forma alguma, e sabemos de muitos casos destes recebendo ainda indultos do governo.
Por que a nossa sociedade anda tão confusa? Por que esses tais "direitos humanos" sempre ficam do lado de quem comete o crime? Por que não ficam nunca do lado da vítima ou por exemplo da família do policial que morreu durante o serviço?
O povo quer justiça, quer segurança, e não deve nunca ficar desamparado frente a violência. Ele anseia por um governo que seja a sua voz e não que governe de acordo com os seus próprios interesses. Afinal, não é o povo o que há de mais valioso para o governo?

segunda-feira, 11 de maio de 2015

FANATISMO E RELIGIÃO: FICÇÃO X REALIDADE

Autores das mais diversas mídias (livros, filmes, quadrinhos, etc) são conhecidos por buscarem nos mais improváveis lugares as inspirações para comporem as suas obras. Muitas destas criações mantém um profundo significado e também expressam a emoção interior. Os icônicos vilões destas obras foram criados por estas verdadeiras escolas de pensamento.
O clássico super-herói americano também tem uma grande influência do mito do messias judaico. Sabiam que a maioria dos criadores da Era de Ouro dos quadrinhos americanos eram judeus imigrantes ou filhos de judeus? Os heróis surgiram no final da década de 1930, e há pesquisadores que relacionam o surgimento do super-herói americano com a subida dos nazistas ao poder na Alemanha, quando o antissemitismo se tornou uma ameaça palpável e os judeus ansiavam por um salvador. Também foram os efeitos da crise de 1929 que influenciaram estas criações.
O objetivo desta postagem é traçar um paralelo entre alguns dos vilões da nossa realidade e a ficção.

Jack Kirby
Foi quando começou o seu trabalho com a DC Comics que Jack Kirby criou o super-vilão conhecido como Darkseid, o principal inimigo dos Novos Deuses. O governante tirano impiedoso de Apokolips possui poderes que rivalizam com os do Superman, tornando Darkseid a personificação do próprio ódio.
Sendo judeu e com fortes sentimentos sobre as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, Kirby colocou em Darkseid muito de Adolf Hitler e do regime tirânico da Alemanha Nazista.
Muito parecido com Hitler, Darkseid subjugou seu povo e realizou uma "lavagem cerebral" neles.

Darkseid e Richard Nixon
No entanto, a personalidade base que Jack Kirby colocou em Darkseid foi a do presidente norte-americano Richard Nixon, ainda que, mesmo para os padrões das coisas horríveis que Nixon fez, pareça duro compará-lo a Hitler.
Além disso, o servo de Darkseid, o Glorioso Godfrey, conhecido pelo grande poder de seus discursos de persuasão, deve ter sido baseado no reverendo Billy Graham, que assim como Nixon, fora conhecido por expressar ódio contra os judeus-americanos.

Glorioso Godfrey e Billy Graham
Quando lemos um quadrinho, assistimos um filme ou um desenho animado, muitas vezes é possível correlacionar certos personagens com figuras da nossa realidade atual. As situações, mesmo das obras mais clássicas, continuam muito presentes em nosso cotidiano. E se há uma verdade absoluta na história é aquela que diz: "Aqueles que não aprendem com a sua própria história estão condenados a repeti-la".

"Mais uma vez, o genocídio em nome de Deus. Uma história tão antiga quanto o homem."

Estas palavras, extraídas da célebre história dos X-Men, "Deus ama, o homem mata", são de Magneto e eu acho que elas ilustram muito bem o espírito deste romance gráfico, publicado em 1982 e escrito por Chris Claremont.

Magneto jurando que os assassinos intolerantes de crianças pagarão por seus crimes.
"Deus ama, o homem mata" foi considerada a história mais marcante feita para os X-Men. Nesta história, Claremont concentrou-se na questão do fanatismo religioso. A religião era muito presente nas histórias em quadrinhos. Como já dito, grande parte dos escritores eram judeus, mas isso não significa que somente o judaísmo fora representado. Em The Uncanny X-Men, por exemplo, a religião era muito importante para um dos personagens, Kurt Wagner/Noturno, e era curioso ver um mutante católico devoto com a parecia de um demônio, uma maneira interessante de mostrar que não devemos julgar pelas aparências. Semelhante era o caso de Hank McCoy/Fera, mutante de aparência bestial e primitiva, mas na verdade um gênio científico.
A história de "Deus ama, o homem mata" era simples: um pastor evangélico chamado William Stryker que considerava-se um instrumento da vontade de Deus, a quem foi incumbida a missão de exterminar todas as "criaturas do diabo" chamadas mutantes. E ele decidiu exterminá-los, usando os poderes mutantes de Charles Xavier. Então os X-Men, com a ajuda de Magneto, tentam deter Stryker e o massacre de mutantes. Esta história foi usada em 2003 por Bryan Singer para o filme X-Men 2.

Reverendo William Stryker
O clima desta história é pesado e sombrio e contém algumas imagens chocantes, já nas suas primeiras páginas. As duas crianças mortas com tiros à queima-roupa pelo simples fato de serem mutantes anuncia o tom da história. William Stryker não hesitou em usar a violência, ele matou para realizar o que ele considerou como uma cruzada e defendeu a erradicação de mutantes durante seus sermões. Ele não hesitou em permitir que Magneto quase fosse linchado por uma multidão enfurecida. E Stryker justifica todas as suas ações e suas palavras com a Bíblia, e até mesmo invoca a Deus como sua testemunha.

O pior da religião foi representado pelo caso de William Stryker. O ex-sargento e agora reverendo investe suas forças e palavras para criar um "exército" de pessoas devotas que junto dele pregam o extermínio da raça mutante. Os X-Men são alvos de preconceito e racismo no conto de Claremont, e isto é elevado a um nível muito maior, de uma forma jamais feita antes. Sem falar que é humano pacas!
Outro ponto interessante é a origem de Stryker: Quando ainda um militar do exército dos Estados Unidos, em um viajem com a sua esposa grávida, sofreu um acidente de carro. E ele é então obrigado a realizar às pressas o parto de sua esposa, ficando abalado com a aparência da criança, possivelmente um mutante, que ele já considerava algo maligno, e por isso a matou ali mesmo, assim como a mãe. Como diz a música de abertura do filme o Corcunda de Notre Dame da Disney: "Responda a charada: quem é o homem e o monstro quem é... ? Ele vê o mal em todos... só não vê o mal em si mesmo... "


De acordo com o raciocínio de Stryker, como "mutantes" não são sequer mencionados na Bíblia, estes não seriam criaturas de Deus, mas sim do Diabo. Um já manjado e estreito discurso que toma de assalto a sociedade, e tal "dogma" torna difícil levar a sério o tipo de religioso que quer ser respeitado. Ele se diz perseguido, mas persegue! 
O ponto máximo acontece com o debate em rede nacional entre Ciclope e Stryker. Aqui o líder dos X-Men argumenta sobre a posição do reverendo: "Rótulos arbitrários são mais importantes do que a maneira como levamos a nossa vida? O que é mais importante do que aquilo que realmente somos? Sob outro ponto de vista, nós poderíamos ser a verdadeira raça humana e todos os demais como você os mutantes".
É então que o reverendo humilha Noturno, apontando para ele e disparando: "Humano? Você ousa chamar aquela... coisa... de humano?"


Logicamente a jovem X-Man Kitty Pryde não permitiria que falassem assim do seu querido amigo, desafiando Stryker, fazendo este chegar ao extremo de pegar um revólver e ameaçar atirar na criança em frente às câmeras de televisão.
Para Stryker o "diferente" deve sofrer, aquele que não se encaixa precisa ser "apedrejado até morrer". E ele foi particularmente cruel com os dois X-Men afiliados religiosamente assim como ele. Noturno, como já dito, é católico, e Kitty Pryde, a Lince Negra, é judia.
Quando foi finalmente detido e preso, William Stryker alegou que estava sofrendo "perseguição religiosa". Cara, como isso é parecido com a vida real!

Algo não muito diferente do que vemos hoje, com as perseguições de grupos religiosos fundamentalistas. Preciso dar exemplos ou citar nomes?
O que mais vemos hoje são líderes religiosos que além de extorquir o povo, ainda incitam o preconceito, defendendo ideias completamente anti-éticas e enfatizando que elas são “a palavra de Deus”. Pilantras de marca maior, vivendo a custa da exploração dos ignorantes que caem no seu discurso.


O fato de Stryker ter sido derrotado graças a ajuda do bom senso de alguns policiais, outros líderes religiosos e políticos demonstra que estas instituições são boas quando bem geridas.

The New Teen Titans # 21: Soldados servos leais ao Irmão Sangue.
Ainda sobre o tema, um quadrinho que eu sempre gostei muito é a fase de George Pérez e Marv Wolfman com o Novos Titãs, também na década de 1980.
Aqui somos apresentados ao super-vilão conhecido como Irmão Sangue, líder do culto da Igreja do Sangue, que alegava ter adquirido a imortalidade e poderes divinos. A sua igreja tinha uma grande influência e possuía filiais em muitos países.

The New Teen Titans # 30: O culto do Irmão Sangue
Este caso da ficção apresentada pela história em quadrinhos também é bem semelhante ao que vemos atualmente. A Igreja do Irmão Sangue é aclamada por muitos por resgatar pessoas, principalmente as mais jovens, do submundo do crime e das drogas, dando consolo e uma nova razão para viver, mas a verdade é que todos eles estão apenas sendo condicionados, como algo parecido com uma lavagem cerebral, os membros da seita estão dispostos a fazer tudo pelo seu líder e atacam e eliminam a todos aqueles que pensam de forma diferente.
A Igreja do Sangue também tem muita influência na sociedade, com alguns de seus membros ocupando cargos muito importantes na política, inclusive no congresso norte-americano.
O Irmão Sangue usa dessa influência para conseguir subsídios, bem como as armas de guerra que necessita para lutar pela "liberdade" de seu país Zândia e contra seu presidente corrupto, mas este também está sendo controlado pela seita.
Também o Irmão Sangue realiza uma grande campanha contra os seus maiores opositores, o grupo de super-heróis adolescentes dos Novos Titãs. Essa perseguição e propaganda anti-Titã é feita principalmente pela repórter Bethany Snow, secretamente membro da seita do Sangue, e a sua emissora de TV.

The New Teen Titans # 28: Bethany Snow não é o que você chamaria de uma repórter
objetiva, considerando que ela é parte da Igreja do Sangue.
E ainda manipulando alguns dos membros dos próprios Titãs, como a telepata Ravena e o alienígena Azrael, o Irmão Sangue pretendia simular um milagre em rede nacional, para provar a veracidade de seus poderes e divindade.
Como Ravena, o Irmão Sangue é um empata. Enquanto a jovem Titã absorve a dor das pessoas, o Irmão Sangue torna-se mais poderoso absorvendo a fé das pessoas.

The New Teen Titans # 30: O computador é tão avançado que transforma emoções em poder.
De alguma forma.
Simulando milagres, extorquindo as pessoas sofridas as quais consolou, manipulando a política com sua influência, pregando a intolerância para com o diferente, distorcendo os fatos com o apoio de uma emissora de Televisão. O fanatismo do Irmão Sangue apresenta certas similaridades com muitas personalidades atuais.
Com certeza todos já conhecem a história de Jim Jones, líder e fundador de uma seita/igreja que foi o responsável pelo suicídio/assassinato de mais de 900 pessoas em novembro de 1978. Ele coordenou esse suicídio em massa, conhecido como o Massacre de Jonestown, na Guiana. Com o suicídio havia a promessa de uma vida melhor, em um lugar melhor, com pessoas melhores.
Com a fundação da igreja “Templo dos Povos“, Jones pretendia acabar com a segregação racial e foi até bem sucedido, inclusive incentivando a adoção de crianças de raças diferentes pelos membros da sua igreja.
Mas surgiram denuncias de sequestros de filhos das pessoas que abandonaram a seita, torturas físicas e psicológicas, privação de sono, de alimentos, e muitas outras coisas. E quando a notícia do assassinato de uma ex-integrante do Templo dos Povos, de alguns repórteres e do político norte-americano Leo Ryan, que foram investigar a igreja, veio à tona, o suicídio coletivo, que já havia sido ensaiado algumas vezes, foi colocado em prática. As pessoas foram orientadas a primeiramente darem veneno às crianças e depois o tomarem. Jim Jones foi encontrado morto com um tiro na cabeça. Foram 918 mortos, dentre eles, 270 crianças, o maior suicídio em massa da história.

Quão diferente será que é um Jim Jones de muitos destes que vemos por aí, pedindo dinheiro em troca de perdão e aproveitando-se da ingenuidade das pessoas para construir seu próprio patrimônio? (Edir Macedo? Bethany Snow pode ser comparada por exemplo a uma Rede Record que aliás tem aliados como o "partido dos trabalhadores" e um amiguinho chamado Sílvio Santos).

É um assunto já cansativo, mas parece não adiantar chamar a atenção das nossas autoridades contra o abuso cometido pelas igrejas, das mais diversas bandeiras, que continuam promovendo verdadeiras atrocidades em programas de rádio e televisão.
Pessoas chegam ao cúmulo de se colocar capazes de operar milagres, elas e suas seitas, tendo como pano de fundo sempre encher cada vez mais as suas sacolinhas.
Tudo é prometido aos desavisados, desde empregos ou o carro do ano, até curas para o pior dos cânceres.
Neste país, com as deficiências no nosso sistema de saúde (acredite em mim, é minha área de trabalho), é compreensível o desespero de alguns. Incompreensível é o silêncio e o pouco caso que é dispensado a um assunto tão grave.
Leis existem e estão aí para serem cumpridas. Ninguém tem o direito de enganar tanta gente o tempo todo.
Falta apenas a vontade ou o interesse de aplicar e punir de igual maneira tais emissoras, no mínimo coniventes com esse estado de coisas.

The New Teen Titans # 31: Irmão Sangue, derrotado por Ravena,
é regatado pelo misericordioso Azrael.
No caso da ficção da história em quadrinhos dos Novos Titãs, a mensagem foi a mais clara possível: Só foi possível para os Novos Titãs derrotarem o vilão Irmão Sangue quando seu segredo foi revelado e todos aqueles que acreditavam nele deixaram de acreditar, enfraquecendo consideravelmente os seus poderes.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

E O GIGANTE ACORDOU?

            

Nunca pensei que viveria para um dia ver isso.
É impressionante, fantástico ver o povo brasileiro indo às ruas protestando, exigindo do governo. Muito bom. Não é só porque não vivemos mais numa ditadura (será que não?) que não precisamos protestar. Sou à favor que o povo mostre a sua cara na rua contra os abusos do governo.
Já poderiamos até desconfiar do que vinha por aí quando nossa presidente foi vaiada no estádio Nacional de Brasília (Mané Garrincha) na Copa das Confederações. O povo lá parecia não estar se deixando levar pela euforia da Copa do Mundo. Cada um de nós pode fazer um top 10 dos reais motivos destes dias memoráveis. O que começou como um protesto em São Paulo pelo aumento da passagem dos coletivos juntou-se a outros temas como os serviços precários de saúde, os altos investimentos na estrutura para a Copa do Mundo de futebol e os escândalos de corrupção, como essa famigerada Pec 37 que quer tirar a autonomia do Ministério Público para investigar e punir os envolvidos em corrupção. Para terem uma idéia, esta medida só funciona em três países (Uganda, Quênia e Indonésia).
Apesar de apoiar a manifestação, vou deixar algumas ponderações. As cenas de violência e vandalismo por parte de várias pessoas não pegou nada bem. Felizmente a maioria dos manifestantes são gente de bem que inclusive exigem de seus pares um movimento pacífico e sem confrontos com as autoridades. O outro ponto é que o movimento é visivelmente apartidário, mas, ao que parece, a esquerda está sendo atacada pela esquerda, por parte de certas cenas que presenciei. Tal fato não me impressiona em nada. É historicamente comprovado. Espero estar errado quando penso no país caminhando para o totalitarismo. Mas quero deixar uma coisa clara, não sou de direita e muito menos de esquerda. 
Mas é verdade que o povo brasileiro cansou de ouvir há uma década que tudo está indo de bem a melhor. Cansou de engolir essa corrupção e aceitá-la por nos tirar do patamar de um país subdesenvolvido. Cansou de ver os seus hospitais e escolas aos pedaços, enquanto estádios suntuosos são erguidos da noite para o dia.
Muito bem, povo brasileiro, vamos à luta, mas não se esqueçam de honrar o seu grito de revolta nas próximas eleições e não deixar mais o país nas mãos de pessoas corruptas e incompetentes. Que estes questionamentos sirvam para estimular o Brasil a ser o país da educação e não apenas o país do futebol. 
Até logo.

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