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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

BRUCE LEE INSPIROU A FICÇÃO E A VIDA REAL


Artista marcial. Filósofo. Cineasta. Mestre.
Bruce Lee foi um dos maiores artistas que o mundo já conheceu. 
Treinado nas artes marciais pelo igualmente legendário Ip Man, é considerado por outros grandes nomes como o melhor lutador de todos os tempos. Ele foi um dos responsáveis por apresentar o kung fu ao mundo e mudou completamente a forma como os asiáticos eram representados nos filmes norte-americanos.
A grandiosidade do nome Bruce Lee é indiscutível pelos maiores experts do mundo da luta. Assim, considero mais interessante para o leitor, abrir a postagem com algumas das opiniões selecionadas de alguns dos maiores mestres e artistas que tiveram a oportunidade de vê-lo em ação. 


Todos depoimentos dos referidos artistas marciais seguir foram diretamente extraídos do livro Bruce Lee & the Dawn of Martial Arts in America, ainda indisponível na versão em português do Brasil.



Ed Parker 
(1931-1990)
Titulação: Mestre décimo Dan (fundador do kempo karatê norte-americano)

"A primeira impressão que tive de Bruce Lee foi a de que era um fanfarrão. Mas logo descobri que havia me equivocado. Fiquei impressionado por seu talento. Ele era um entre 2000 milhões. Ensinava-lhe um golpe e uma nova técnica e, no dia seguinte, já o executava melhor. Se Deus pudesse dar um nome a todos os talentos naturais para as artes marciais, esse seria 'Bruce Lee'. Um indivíduo sem o seu talento natural poderia passar a vida inteira treinando e não encontrar jamais o que ele tinha"



Dan Inosanto
Titulação: Mestre em Pencak Silat Esgrima e Jeet Kune Do

"Eu, que lutei contra Bruce Lee muitas vezes, posso assegurar que ele era ainda melhor do que em seus filmes. Ele era realmente rápido e seus golpes eram muito explosivos. Sua velocidade, reflexos e resistência eram superiores. Já o vi enfrentar oponentes do judô, do kung fu, etc, e nunca jamais o vi perder. Comparando-lhe com Chuck Norris, por exemplo, um dos maiores competidores daquelas épocas, posso dizer que, na realidade, Bruce Lee brincava com ele, como um adulto brinca com uma criança. Digo isto sem reservas de nenhum tipo. Não é por desacreditar de Norris, que também é grande, mas esta é a verdade"



Joe Lewis
(1944-2012)
Titulação: Campeão dos pesos pesados de Full Contact e Kick Boxing

"Bruce Lee foi o homem mais rápido que já confrontei. Tinha ombros grossos, mãos rápidas e pernas magras e fortes e um bom torso que é a chave da explosividade em qualquer atleta. Tinha uma inteligência abstrata, soberba. Era muito bom conceitualizando. Podia traduzir imediatamente uma ideia em um conceito verbal e uma ação física. Apenas alguns poucos mestres são capazes disto. Por isso, a mim, me impressionou tanto"



Ernest H. Lieb
(1940-2006)
Titulação: Mestre Décimo Dan American Karate System

"Conheço em pessoa o senhor Lee. Tive o privilégio de trabalhar com ele diversas vezes. Ele superava em velocidade a maioria dos faixa-pretas que conheço. Ainda que eu tenha ganhado 42 torneios de karatê, não me considero a sua altura"



Ken Knudson
(1944-2006)
Titulação: Faixa Preta em Goju Shorei, Campeão de Karatê

"O poder dos socos e chutes de Bruce Lee são explosivos e perturbadores. Uma vez, ele me fez uma demonstração de seu chute lateral que me moveu tão rápido que me deixou com a sensação de que meus olhos tinham saído do lugar com o impacto. Aplica em todas as suas técnicas a lógica e me refiro a uma muito boa lógica em todas as suas técnicas"



Wally Jay
(1917-2011)
Titulação: Faixa Vermelha Décimo Dan Small Circle Jujitsu, Faixa Vermelha e Branca Sexto Dan em Judô

"Bruce é fascinante e incomparável. Não deixo de me impressionar com a sua capacidade, sua velocidade de relâmpago, sem detrimento da força tremenda de seus golpes"



John Rhee
(1932-2018)
Titulação: Mestre Décimo Dan Taekwondo

"Não conheci ninguém mais dedicado às artes marciais do que Bruce Lee. Há aqueles que o acusam de ser um lutador apenas nos filmes e não na realidade. Mas eu, que treinei com ele inumeráveis vezes, posso assegurar que na realidade Bruce Lee era um combatente muito bom e com um grande instinto. Nunca me atreveria a lutar contra ele por tão bom e efetivo que era. Nunca conheci ninguém, em proporção ao seu peso, tão forte quanto ele"



Bob Wall
Titulação: Faixa Preta Karatê Shorin Ryu, Nono Dan em Tang Soo Do

"Bruce Lee rechaçava a competição tradicional pela injustiça e a parcialidade dos árbitros em particular. Se tivesse existido o Full Contact, estou certo de que haveria combate de maneira profissional. Em minha opinião, teria sido campeão do mundo em sua categoria. Devemos entendê-lo bem com relação a isto. Ele era realista. Era muito rápido e não havia nada que poderia fazer frente a um peso pesado. Tampouco era um 'Superman'. Mas em sua categoria, ou incluso em algo superior, não haveria encontrado rival. Tinha a velocidade, a pegada, a técnica e, sobretudo, uma vontade sagrada de vencer. Uma mente prodigiosa, estava muitos anos adiantado e trabalhava mais que ninguém. Não poderia mais que admirá-lo, ainda que, ao mesmo tempo, me incomodava um pouco que ele não fazia mais do que pensar nas artes marciais"



Mike Stone
Titulação: Décimo Dan de Karatê Shorin Ryu, Campeão de Karatê

"Bruce Lee era um dos artistas marciais com mais conhecimento que conheci. Estava avançado para o seu tempo. Havia muitas coisas que eu queria aprender dele, como por exemplo, melhorar a minha atitude fazendo sparring ou sua simplicidade na defesa pessoal. Bruce era uma das pessoas mais fortes, quilo por quilo, que conheci. Poderia ter vencido muitos oponentes muito mais pesados do que ele. Creio que haveria sido extremamente bem na competição se acaso houvesse sido demasiado rápido para a maioria dos juízes, tal era o seu nível"



Louis Delgado
Titulação: Campeão de Karatê

"Nunca vi nada igual a Bruce Lee. Já me encontrei com vários lutadores de karatê, mas Bruce foi o único capaz de me desconcertar completamente. Estou completamente assombrado quando luto contra ele. Nunca vi ninguém como ele. Também fiquei muito intrigado e assombrado com a biblioteca de livros de Bushido que Bruce Lee tem. Realmente, não creio que haja ninguém mais dedicado às artes marciais orientais que ele"


Mas como a estrela do filme, Bruce Lee, se tornou um ícone tão universalmente reconhecido, apesar de completar apenas quatro filmes e morrer aos 32 anos?


1. Bruce Lee foi o primeiro herói de ação do cinema


Antes de Lee, o combate na tela era duro e pouco convincente.
O treinamento de Lee em várias artes marciais e formação em dança inspirou uma abordagem mais fluida e realista para o cinema.
Ele queria que as lutas na tela parecessem brutais e elegantes, um tema que alimenta filmes de ação desde então como O Tigre e o Dragão e Matrix.
Os cineastas americanos também adotaram o conceito de uma figura solitária que, a princípio, parece um cara comum, mas, quando pressionada, se transforma em um exército de um homem só.
Sem Bruce Lee não existiria Bruce Willis.

2. Bruce Lee tornou as artes marciais abertas a todos


Bruce Lee, Angela Mao, Bob Wall e Chuck Norris.

Os colegas e tutores de Lee em sua terra natal, a China, desaprovavam as técnicas de artes marciais ensinadas à pessoas de fora. Mas quando viveu em Seattle nos anos 60, Lee abriu uma escola de kung fu e ensinou abertamente o seu próprio sistema, o Jeet Kune Do ("O Caminho do Punho Interceptador"). Dentre os seus melhores alunos estavam incluídos Steve McQueen e James Coburn.
Lee rejeitou os rígidos estilos clássicos das artes marciais individuais e concebeu o Jeet Kune Do como um sistema que funcionaria em uma luta real, uma mistura dos melhores aspectos de boxe, esgrima, judô e kung fu.
Antes de Lee, essas técnicas eram misteriosas e esotéricas. Hoje, você pode estar matriculado em uma aula minutos depois de terminar de ler esta postagem.

3. Bruce Lee foi o primeiro guru de auto-ajuda

          

Lee era mais do que apenas um lutador. Ele era um pensador que incentivava os alunos a adotar disciplina mental e excelência física.
Grande parte de sua filosofia está relacionada à simplicidade do Jeet Kune Do ("Seja como a água"), mas muito de seu pensamento pode ser aplicado de maneira mais geral e foi adotado (e distorcido) pela indústria da auto-ajuda.

"Simplifique. Afaste o que não é essencial. Gaste muito tempo pensando em algo e você nunca conseguirá fazê-lo."
"Para o inferno com as circunstâncias. Crie oportunidades."
"Não procure uma personalidade de sucesso e tente duplicá-la. Tenha fé em si mesmo."

4. Bruce Lee derrubou barreiras raciais (literalmente)


Bob Wall, Bruce Lee e Chuck Norris.

Há um momento fantástico no filme de 1972 de Lee, A Fúria do Dragão, onde o astro foi impedido de entrar em um parque público japonês por um guarda que aponta para uma placa acima do portão:

"Não são permitidos cães e chineses"

Lee simplesmente responde quebrando a cara dos homens que zombaram dele, antes de saltar e quebrar a placa do portão com um poderoso chute voador.


A história deste longa envolve um jovem estudante de artes marciais e o misterioso assassinato de seu mestre. Em busca da verdade e da vingança, ele descobre uma grande operação de tráfico de drogas, uma escola de lutadores rivais e a tensão entre chineses e japoneses como os responsáveis pela morte de seu mestre.

Em combates brutais, valendo-se unicamente da força de seus punhos, Lee enfrenta os assassinos de seu mestre e as forças imperialistas japonesas que querem dominar o seu povo.

Em um outro momento particular destacável, Lee entra em um dojo japonês rival e devolve-lhes um "presente" provocativo, um placa cujo letreiro diz "Doentes da Ásia" (um insulto persistente da Segunda Guerra Mundial). 


Lee também esmaga a placa com a inscrição racista, arrancando o seu papel e força alguns dos alunos do dojo japonês a comê-lo, após serem completamente derrotados pelo seu kung fu.

Vivendo um homem atormentando e impossibilidade de fugir do destino, Lee representa metaforicamente um dívida de sangue pelas dificuldades enfrentadas pelos cidadãos chineses desde o  momento histórico no qual os japoneses começaram a ter mais influência em Xangai e todo o sentimento de revanche do povo chinês pelas feridas deixadas pós-Segunda Guerra Mundial. (Assistam ao animê Joker Game, ele retrata brevemente o cenário de uma Xangai de joelhos ao imperialismo e dominada pela violência e pela corrupção de todos os lados)

O personagem de Lee é aqui um herói trágico com o fardo de sujar as mãos e macular os postulados pacíficos de seu respeitado mestre, paradoxalmente, em função da perpetuação da doutrina na qual foi educado. Lee é impressionante em sua atuação, não encontrando sequer um adversário à sua altura. Esta sua performance serve figurativamente a imagem mística de um dragão chinês indestrutível, símbolo de idealismo e resiliência, onde o sacrifício de alguns vale se proporcionar a felicidade de todos os demais.


"Hoje vocês comem papel. Na próxima, comerão vidro"

Nos anos 60/70, quando as atitudes transculturais não estavam ainda tão esclarecidas, o estrelato de Lee carregava um amplo poder por trás de uma mensagem intransigente: considerar uma raça como "inferior" a outra é estúpido.

5. Bruce Lee é o avô da corrida livre


Bruce Lee e seu mestre Ip Man

A filosofia Jeet Kune Do de Lee, expressão fluida combinada com eficiência de movimento, é praticamente o principal guia por trás da corrida livre/Parkour.
Muito da filosofia de Lee foi inspirada nas idéias zen-budistas em torno da transcendência do pensamento consciente ("O eu é o maior obstáculo à execução de toda ação física").
Os praticantes de corrida livre/parkour pretendem viajar de um ponto a outro da maneira mais suave e eficiente possível para obter um tipo de fluxo físico.
Visite qualquer academia/escola do Parkour e você com toda certeza verá um pôster de Lee, que certamente teria aplaudido a graça e o dinamismo do estilo.

6. Bruce Lee inventou o malhar


Antes de Lee, as academias de ginástica eram sobre fisiculturistas do tipo Arnie, uma obsessão competitiva, do tipo fetichista.
Com foco típico na praticidade, Lee percebeu que o corpo masculino ideal seria forte e musculoso, mas também elegante e aerodinâmico, construído para poder e velocidade. A ideia agora universal de ir à academia, parecer e se sentir bem e, talvez, criar um pouco de tônus ​​muscular é puro Bruce Lee.
O fato é que ele também bebeu bife liquidificado para aumentar seus níveis de proteína.

7. Bruce Lee é o pai espiritual do hip-hop


Bruce Lee e a atriz de Hong Kong 
Diana Chang Chun-wen em Chinatown 
de São Francisco.

Todos os elementos básicos do hip-hop têm raízes na filosofia fluida e livre de Lee (rap freestyle, scratching) e na fisicalidade de agitar as pernas (breakdancing).
Mas ele também foi uma grande inspiração como ícone étnico, um "outsider" cuja presença e potência ofereciam uma imagem surpreendente de empoderamento não-branco (RZA de Wu Tang Clan: "Eu acredito que Bruce Lee era um profeta menor").
Lee foi referenciado, analisado e amostrado em inúmeras faixas inspiradas em hip-hop. A sua imagem do filme Jogo da Morte de macacão amarelo (também referenciada por Tarantino para Kill Bill) foi referenciada diretamente para o clipe de Game of Death de Gorillaz.

8. Bruce Lee moldou a cultura dos super-heróis

Para Stan Lee, fundador da Marvel Comics, "Bruce Lee era um super-herói sem fantasia. Ele foi o primeiro a conscientizar os ocidentais desse tipo de luta e modo de vida".
A Marvel produziu muitas séries de quadrinhos inspiradas em Bruce Lee, como Mestre do Kung Fu (Shang-Chi muito em breve terá seu próprio filme a integrar o MCU) e Punho de Ferro, e as qualidades instantaneamente reconhecíveis e sobre-humanas de Lee penetraram em muitas outras áreas da cultura pop (Tente encontrar um videogame de luta sem um Bruce Lee como personagem).

8.1. Personagens da DC e Marvel Comics

Richard Dragon

É menos uma referência a um personagem em particular e mais a alguns como um todo. Por causa da mania de kung fu dos anos 70 impulsionada por Bruce Lee, personagens como Punho de Ferro (Marvel), Shang-Chi (Marvel), Richard Dragon (DC) e Tigre de Bronze (DC) surgiram. 
As referências mais notáveis ​​que eu já vi com alguns dos personagens estão na arte em que estão representados. Às vezes, temos Shang-Chi vestindo um traje semelhante ao de Lee ou até desenhado para parecer mais semelhante a ele. Se tiver a oportunidade de ter em suas mãos algum exemplar dos quadrinhos clássicos, você observará que quanto mais antiga sua edição, mais Shang-Chi se assemelha a Lee. O Mestre do Kung Fu era um autêntico retrato de Bruce Lee.


Kill Bill Volume 1: A atriz Uma Thurman veste 
uma roupa realmente semelhante ao macacão 
amarelo de Bruce Lee de Jogo da Morte.
Sim, até Bob Esponja também referencia o 
mesmo filme envolvendo Bruce Lee. No
episódio "Ilha Karatê", Sandy Bochechas
veste o mesmo macacão amarelo e enfrenta 
uma série de oponentes em cada andar de 
um edifício semelhante às lutas finais 
de Jogo da Morte.


8.2. Vídeo Games

Maxi e Li Long (Soul Calibur)


Aqui estão dois personagens da série Soul Calibur que foram influenciados por Lee. Sim, o visual não existe, mas um acessório de Lee está presente: o nunchuckus. Ele os usou na maioria de seus filmes como Jogo da Morte e Operação Dragão. Além disso, alguns dos movimentos do astros estão presentes.


Fei Long (Street Fighter) 


Fei Long surgiu em Super Street Fighter II. Um dos maiores tributos a Bruce Lee dentro dos vídeo games. O passado de Fei Long nunca foi muito explorado dentro do modo história do jogo, mas tal qual Bruce Lee, Fei Long é um habilidoso lutador e um grande ator do cinema oriental. 


O encerramento do personagem (imagem acima) é um dos melhores de todo o Super Street Fighter II e é como o final da história do próprio Bruce Lee. Mesmo após a sua morte, seu legado se mantêm vivo com centenas de milhares de estudantes de artes marciais por todo o mundo, os quais receberam seus ensinamentos e os transmitirão para as próximas gerações e para todo o sempre.

Jacky (Virtua Fighter)
 

Jack Bryant é menos uma referência à sua aparência e mais ao estilo de luta de Bruce Lee.
Com relação a sua aparência, podemos ver claramente que o personagem é inspirado no músico britânico Billy Idol.  
Você pode olhar para Jacky e dizer com certeza que ele não se parece nem um pouco com Bruce Lee, mas o seu estilo de luta é exatamente o Jeet Kune Do, o estilo de luta que Lee inventou. 
Só não me pergunte se ele está usando certo, porque eu não sei.  

Lei Marshall Law e Lei Forrest Kaw (Tekken)


Marshall Law era o sósia de Bruce Lee na série Tekken
Em Tekken 3, ele foi substituído por seu filho, chamado Forrest Law e que também era praticamente Bruce Lee 2.0. 
Eles tinham tudo, desde a aparência até alguns dos maneirismos, os gritos e também usavam os famosos macacões amarelos. Eu me pergunto: O que aconteceu com Forrest depois de Tekken 3? 
Ele voltou no Tekken Tag Tournament 2, mas isso é tudo. Oh, bem, ele era apenas um clone de seu pai.

 Liu Kang (Mortal Kombat)


A maioria dos lutadores de Mortal Kombat foi baseada em algum dos grandes nomes da cultura pop. Johnny Cage era praticamente um pastiche de Jean-Claude Van Damme, enquanto Liu Kang, era Bruce Lee. A aparência e os seus maneirismos estavam presentes no primeiro jogo. 

É como se alguém literalmente pegasse o personagem de Lee de Operação Dragão e o jogasse no game. Em Mortal Kombat original, Liu Kang era praticamente o próprio Bruce Lee. Nos próximos jogos, ainda adicionaram ao personagem os mesmos gritos de Lee, mas ele foi ganhando mais personalidade própria, com um design que incorporou cabelos compridos e uma faixa vermelha estilo Ryu (ou Rambo). Em Mortal Kombat X ele tem o o seu melhor design, na minha opinião, incorporando longos cabelos grisalhos indicando a passagem do tempo na história da franquia. Já em Mortal Kombat 11, Liu Kang ficou com o desenho do seu rosto muito mais semelhante às feições de Bruce Lee e ainda ganhou nunchakus como mais uma referência ao ator e artista marcial chinês.


Evolução do design de Liu Kang.

E por falar em personalidade, Liu Kang é muito mais do que um Bruce Lee de cabelo comprido, chegando inclusive a agir como um anti-vilão por um tempo, mudando drasticamente o tom da sua história. Felizmente, ele retornou ao seu papel original como o eterno original protetor do Plano Terreno.

Os fãs mais antigos e esclarecidos dos videogames sabem que certamente Liu Kang teria sido o primeiro Bruce Lee dos games de luta, sendo seguido logo depois por Fei Long. 
Aqueles menos esclarecidos ainda se perguntam: Quem teria sido o primeiro? Liu Kang ou Fei Long?
A resposta certa é: Nenhum dos dois, uma vez que o primeiro Bruce Lee foi na verdade o personagem Kim Dragon do pouco conhecido jogo da Alpha Denshi (a antes conhecida ADK)/SNK World Heroes.

8.3. Animês


Sendo a cultura japonesa fortemente influenciada pelas artes marciais e pelos ideais benéficos do esforço e aprimoramento constante para superar os desafios e as adversidades, não é de surpreender ver estas particularidades culturais refletidas em sua indústria de histórias em quadrinhos e produção de desenhos animados. Vou citar apenas as referências mais óbvias, pois existem milhares de outras.

Kenshiro (Hokuto no Ken)


Começamos por uma das referências mais óbvias: Kenshiro, o herói/protagonista do animê/mangá Hokuto no Ken.
A história, uma das mais fantásticas e populares da história dos mangás que envolvem artes marciais, conta com muitos elementos do cinema de ação ocidental e oriental. O herói Kenshiro é muito semelhante fisicamente ao ator Sylvester Stallone e apresenta todos os trejeitos e maneirismos de Bruce Lee, incluindo os seus brados de batalha, e mesmo nunchakus foram por ele utilizados em algumas lutas.

Might Gai e Rocky Lee (Naruto)


Rocky Lee é uma das referências mais óbvias da história dos animês ao mestre Bruce Lee, inclusive em seu próprio nome. Além de fisicamente lembrar uma caricatura de Bruce, o personagem luta de forma maliciosamente idêntica. Embora Naruto seja uma história sobre ninjas, Rocky Lee luta livremente como um praticamente de kung fu na maioria das vezes.
Seu mestre Might Gai, o personagem mais legal e forte de Naruto na minha opinião (e também na opinião de Uchiha Madara), ainda que fisicamente lembre mais outro ator e também artista marcial chinês, no seu caso Jackie Chan, referencia muito mais a Bruce Lee do que seu discípulo em alguns detalhes da sua filosofia, maneirismos e estilo de luta. Posteriormente, Gai-sensei ainda acrescenta nunchakus aos seus acessórios de combate. 

Dragon Ball


Dragon Ball, provavelmente o animê/mangá mais conhecido do mundo não seria possível sem a existência de Bruce Lee. O mangaká Akira Toriyama, sendo um grande fã de filmes e fortemente influenciado por eles, para compor a sua obra, inspirou-se principalmente em Operação Dragão
O Tenkaichi Budoukai pega emprestada a ideia do filme que introduziu ao ocidente um torneio de luta com combates reais. 
A Torre dos Músculos, uma das mais famosas edificações da Saga Red Ribbon, com diferentes inimigos a cada andar com um estilo de luta diferente foi também inspirado em O Jogo da Morte.
O estilo de luta predominante de Dragon Ball é o kung fu, no entanto, com o decorrer da série, os personagens parecem assumir um estilo de luta próprio, o que pode ter sido influenciado pelo Jeet Kune Do e a filosofia de Lee (“Estilo do sem estilo”, "Seja água").
O próprio treinamento ministrado pelo Mestre Kame visava a preparação do corpo e da mente. Goku foi treinado para se adaptar e analisar o melhor jeito para vencer as lutas.


Já em Dragon Ball Z, vemos Vegeta treinando numa gravidade de 300G (imagem acima), na qual realizava apoios com dois dedos que muitos diriam serem impossíveis de serem executados por qualquer ser humano, mesmo se em nossa conhecida gravidade. Esse famoso apoio com dois dedos é o mesmo demonstrado por Bruce Lee durante uma apresentação de karatê.

Bruce Lee exite no universo das histórias de Dragon Ball?


ShenLong no Densetsu, o primeiro filme de
Dragon Ball: na cena vemos um misterioso
motorista mascarado idêntico ao personagem
Kato, interpretado por Bruce Lee na série de TV
O Besouro Verde.

É incrível, mas a resposta para a pergunta é SIM!
Além das várias referências na arte de Toriyama, o nome Bruce Lee foi mencionado por alguns personagens no começo da saga do Torneio de Artes Marciais. 
Quando Kuririn surge na história exigindo ser aceito como um discípulo de Mutenroshi, o Mestre Kame, o monge careca chega a mencionar ter treinado um tempo no templo de Bruce Lee.
O Mestre Kame fica feliz com isso e menciona que o ator e artista marcial é seu amigo.
"O Bruce é meu amigo", disse o velho mestre naquela ocasião.
Mestre Kame e Bruce Lee com certeza aprenderam muito um com o outro.


A lista de séries animadas, quadrinhos e filmes japoneses é imensa, portanto cito apenas mais algumas menções especiais:

Inosanto Dan (Tenjho Tenge): Inosanto Dan de Tenjho Tenge é uma cópia incrivelmente flagrante de Bruce Lee. Ele se parece, grita e se veste como ele. Usa nunchaku, é o presidente do "Jun Fan Kung Fu Club ", e assim por diante. 
E seu nome ainda é uma referência a um dos melhores alunos de Bruce Lee (presente na parte de depoimentos desta postagem).
Spike Spiegel (Cowboy Beebop): O caçador de recompensas protagonista da série, Spike Spiegel, ensina ao personagem Rocco um princípio de Jeet Kune Do. Quando você assiste Cowboy Bepop, descobre que Spiegel não só pratica as artes marciais Jeet Kune Do de Bruce Lee, mas também segue suas filosofias. 
Hitmonlee (Pokémon): A poderosa dupla de Pokémons lutadores, Hitmonchan e Hitmonlee, é baseada em duas grandes celebridades das artes marciais, Jackie Chan e Bruce Lee. 


Pao-lin Huang (Tiger & Bunny): Ágil e jovem lutadora de kung-fu Pao-lin Huang, também conhecida como Dragon Kid, do anime Tiger & Bunny, é uma homenagem direta a Bruce Lee. Adornada com um agasalho de treino amarelo e com um "Dragão" como apelido, uma homenagem ao clássico Operação Dragão (Enter the Dragon).
Shiryu (Saint Seiya),
Seijuro Shin (Eyeshield 21),
Wonrei (Gash Bell),
etc.

9. Abbas Alizadeh, o Bruce Lee afegão


Antes de falarmos sobre este incrível personagem real, o qual se popularizou na Internet desde 2014, é necessário um pequeno resumo de uma história esclarecedora para a atual situação do Afeganistão.

Se você conhece à fundo a realidade da referida nação do Oriente Médio e tivesse que escolher onde morar entre a Arábia Saudita, a Coreia do Norte e o Afeganistão, certamente escolheria ou a Arábia Saudita ou a Coreia do Norte. 

O Afeganistão é um país que há mais de 40 anos não vê a paz!

Tudo começou com o apoio militar da antiga União Soviética (URSS) ao governo legítimo socialista do Afeganistão no momento que este país se defendia principalmente dos insurgentes Muyahidines, grupo de guerrilheiros afegãos islâmicos liderados por ninguém menos que Osama Bin Laden e apoiados por armas e muitos dólares vindos diretamente do "país das maravilhas". 

Isso mesmo, os Estados Unidos por meio da CIA financiaram a Osama Bin Laden em sua luta contra os soviéticos no Afeganistão em uma operação que fez parte da Guerra Fria e contribuiria para o seu embate definitivo.

O Afeganistão é um lugar muito perigoso para se viver, mas nosso personagem, Abbas Alizadeh, não teme a morte e espera viver até os 50 ou 70 anos. Ele começou a treinar desde os 14 anos, imitava os movimentos de Bruce Lee e aprendeu a usar os nunchakus vendo os seus filmes. Bruce era seu herói de infância e sonhava em ser como ele.

Após conquistar a sua independência do Reino Unido em 1919, o Afeganistão, sob o governo do rei Amamnullah Khan, experimentou grandes progressos, especialmente em questão de Direitos Humanos.
Porém, tudo isso mudou após um golpe de Estado arquitetado pelo Reino Unido e com a queda com rei Amamnullah em 1929.
 
Nós latino-americanos estamos muito habituados com situações assim em nosso continente. Quando um país que outrora enfrentava grandes instabilidades começa a caminhar com suas próprias pernas, contrariando interesses transnacionais, tem sua caminhada interrompida por golpes financiados pelas grandes nações imperialistas (leia-se Estados Unidos). Perdemos o sentido de comunidade, de povo, agora fomos reduzidos apenas um amontoado de pessoas sobre uma terra arrasada. 
 
Em 1978, os socialistas chegaram ao poder no Afeganistão. Algumas de suas reformas foram boas e outras péssimas. Eles revolucionaram a escolarização, isso foi ótimo, porém cometeram equívocos com a reforma agrária e o seu erro mais grotesco foi impor uma ideologia ateia sem levar em conta o espírito religioso daquele povo. 
Facções rebeldes e religiosas extremistas desataram uma escalada de violência no Afeganistão. 
As duas maiores potências do momento, Estados Unidos e URSS entram então no jogo.
Aqui cabe uma distinção básica entre invasão e intervenção. 
A URSS não invadiu o Afeganistão. As duas nações estavam alinhadas politica e ideologicamente na época. O próprio governo afegão solicitou aquela intervenção por parte do governo soviético devido ao caos que reinava em seu país.
O mesmo não pode ser dito sobre a ação americana na Síria. O caso Síria foi uma invasão norte-americana, porém o caso Colômbia foi um simples uma intervenção. 
Estados Unidos e Colômbia estão alinhados politicamente há muitos anos e o governo colombiano solicitou a intervenção norte-americana. 
Pedidos de colaboração entre nações politicamente alinhadas fazem parte da geopolítica estável, a isso chamamos de intervenção. 
A ação norte-americana em solo afegão, conhecida como Operação Ciclone, teve Osama Bin Laden como um grande aliado para impedir o avanço do comunismo. Ele foi chamado pelo jornais norte-americanos da época de um guerreiro anti-soviético que lidera um exército no caminho da paz. Quem diria? 


Jornal norte-americano The Independent:
"Guerreiro anti-soviético põe seu exército na estrada para a paz"
Era assim que os Estados Unidos viam Osama Bin Laden quando
os inimigos dele eram os soviéticos.

O norte-americanos colocaram uma marionete sua no poder do Afeganistão em 1996 e os talibãs transformaram o país em um reino de terror. O resto da história todos conhecemos: Após o atentado terrorista ao World Trade Center em Nova Iorque (2001), cujo mentor teria sido Osama Bin Laden, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão com uma intenção aparente de caçada ao terrorismo.
O Afeganistão é apenas um dos muitos exemplos de países onde a invasão dos Estados Unidos, em nome de seus interesses políticos e econômicos, substituiu um governo levando aquela nação a cair nas mãos de grupos religiosos extremistas anti-democráticos.
A hipócrita política norte-americana professa ser intolerante aos países que dialogam com ditaduras, mas os Estados Unidos por muitos anos dialogam e tem como aliados poderosas e sanguinárias ditaduras, como a Arábia Saudita, além de terem colaborado na criação de outras.

Em meio a todo este caos nasce um nova estrela, Abbas Alizadeh, um jovem que com a ajuda do esporte tenta inspirar os demais, grandes ou pequenos, a se tornarem fortes ante as adversidades. Entretanto, surgem religiosos radicais  que não apenas o criticam, mas também o ameaçam de morte. 
Se há 100 anos as mulheres do Afeganistão poderiam andar nas ruas sem medo, agora sabemos como devem andar vestidas. 
Se há 100 anos havia mais liberdade de pensamento, agora sabemos o que pensam aqueles que criticam o Bruce Lee afegão.
Se há 100 anos havia mais liberdade religiosa, os líderes daquela nação pautam toda a sua lei exclusivamente sob seu livro sagrado.

É revoltante pensar no grande perigo de vida que este jovem corre em pleno século XXI apenas por querer viver a sua liberdade e o mais importante sem fazer mal a ninguém.
Abbas Alizadeh é exemplo de persistência e perseverança. Em nome da liberdade, sua mensagem toca diretamente todos aqueles que ainda defendem a democracia. Frente um estado anti-democrático, desobedecer sempre, reverenciar jamais.

"Quero encontrar o meu lugar no mundo. Quero ser Abbas. Não quero ser Bruce Lee. Como já disse, nunca haverá ninguém igual a Bruce Lee. como tão pouco haverá outro como Abbas".

Abbas Alizadeh

sábado, 22 de dezembro de 2018

KINNIKUMAN E A GUERRA FRIA




Entre a Segunda Guerra Mundial e o boom da economia do Japão, a partir de meados da década de 1970 (quando o Japão se tornou a segunda maior economia do mundo), a terra do sol nascente ainda era um país em desenvolvimento. Um bom número de cidadãos vivia em torno da linha da pobreza e, apesar de vinte anos depois da guerra, o país ainda estava em um período de recuperação terrível.


Então, quem seria o super-herói azarão que representaria os cidadãos trabalhadores que batalhavam no Japão daquele período? Seu nome era Kinnikuman, o campeão de luta-livre nascido no planeta Kinniku e criado como um autêntico cidadão trabalhador japonês das décadas de 1970 e 1980.
De um super-herói covarde, atrapalhado e excêntrico, Kinnikuman deixa o seu triste passado de "uma vergonha nacional" para se tornar o melhor do mundo.


Mas você nunca imaginaria isso no primeiro episódio da série, porque, quando Kinnikuman originalmente estreou em 1979, era um mangá de "gag".
A dupla Yudetamago mostrava o seu amor por super-heróis e kaiju, especificamente o Ultraman, e originalmente Kinnikuman era o único super-herói por quem ninguém gostaria de ser salvo. Muito semelhante a um "Chapolin Colorado japonês".

Kinnikuman ainda teve seus próprios ataques "Kinniku Beam" e "Kinniku Flash" mantidos para a sua versão animê e até mencionados em seu tema de abertura - uma música contagiante de Akira Kushida. Também digno de nota é o dublador Akira Kamiya - que ainda dublou Ryo Saeba (City Hunter) e Kenshiro (Hokuto no Ken), dentre outros - com um Kinnikuman muito divertido, alternando entre o cômico e o sério várias vezes em um piscar de olhos.


Terryman e o presidente Ronald Reagan.

Contextualizando, nos anos 80 os EUA estavam na Era Reagan e o mundo todo vivia a Guerra Fria.
Hollywood e a cultura pop redescobriam a história através de filmes como De Volta para o Futuro, surgiam heróis de ação como Rambo e Michael Knight, desenhos animados como Comandos em Ação (Década de 80 = Década das Action Figures) e a MTV quebrava todas as barreiras musicais.


O boom do Wrestling coincidiu com esses ícones da cultura pop que se tornaram globais.

Novos começos… Novas ambições... Novas liberdades... Todos exemplificam a visão de Vince McMahon Jr, Hulk Hogan e a conexão do rock n roll com o Wrestling.


O boom do Wrestling nunca teria funcionado em qualquer outra década antes ou depois. Ante novos líderes, novas invenções, as pessoas se viam desafiadas a derrubarem barreiras sociais. Os anos 80 foram mergulhados na bravura para incentivar novas lideranças e produzir outros líderes, assumindo riscos.

Em Kinnikuman, cujo mangá ainda encontra-se em produção, o arco mais influenciado pelo cenário político daquele período foi provavelmente o chamado arco da 21ª Olimpíada Chojin. E não custa nada lembrar que esta postagem está cheia de spoilers...


Eu só poderia imaginar o que estava se passando na cabeça de Yudetamago quando eles escreveram o arco do mangá neste ponto: Foi para redefinir o status quo? Foi uma experiência?

Este arco é uma revisita ao Torneio de Lutas, onde tudo começou. Aqui as batalhas ficam ainda mais violentas e longas e os trabalhos de arte tornam-se mais aprimorados, e os estereótipos ficam "menos ofensivos".

Alguém poderia me esclarecer uma dúvida? Usar roupas tradicionais e ter traços típicos do povo ao qual o personagem representa é ofensivo? Não creio. Talvez o "estereótipo estético" seja visto como ofensivo quando ele enfatiza algum traço negativo do povo representado. Os estereótipos presentes em Kinnikuman ou são inofensivos, ou são simplesmente engraçados e "fantásticos" demais para serem levados à sério. É o mesmo caso do que vemos desde Street Fighter II, cujos desenvolvedores optaram por representar seus personagens através de estereótipos étnicos para que eles se tornassem automaticamente reconhecidos e até identificáveis. E estes personagens não seriam tão marcantes e reconhecidos não fossem os estereótipos étnicos do Dhalsim, do Zangief, do Dee Jay, do T. Hawk, etc.


Bem... este arco começa já apresentando a Kinnikuman - que acabara de perder um cinturão de campeão no valor de 10 milhões de ienes - os cinco chojins ("super-homens"/os super-heróis do universo Kinnikuman) que têm maiores chances de vencer o novo campeonato. Dentre os já conhecidos temos Terryman dos Estados Unidos, Brocken Jr da Alemanha Ocidental, e o queridíssimo Ramenman da China.

Temos agora um novo chojin peruano, vindo diretamente do Império Inca - o que explica os seus mais de 2 mil anos de idade - conhecido como Benkiman, que por um acaso é também um mictório-humano, e cujos fãs celebram a sua participação de forma "apropriada", atirando bostas por onde ele se apresenta.

Um dos detalhes que mais amo em Kinnikuman e que faz dele uma das minhas obras prediletas é o fator criatividade - Algo que o Dragon Ball original também tinha de sobra: Goku, um menino chinês com rabo de macaco, confrontou um exército sem pátria, um ninja, um frankenstein, um homem de três olhos, alguns demônios, se encontrou com "Deus", e ainda mandou um coelho para a Lua. E nesta fase de Kinnikuman, os chojins estão se tornando cada vez mais abstratos.

Há também um novo chojin vindo do Japão, disputando com Kinnikuman a preferência do público japonês, conhecido como...


... Rikishiman Wolfman.

O estilo de luta de Wolfman é inspirado no sumô - mais japonês e nacionalista impossível - e de fato o personagem foi baseado em um lutador de sumô real conhecido como Chiyonofuji "The Wolf" Mitsugu (1955-2016), que foi extremamente popular nas décadas de 1970 e 1980.

Você pode imaginar que Chiyonofuji deve ter tido um problema com este personagem porque Wolfman foi renomeado para Rikishiman quando do lançamento do animê Kinnikuman em 1980.


Chiyonofuji Mitsugu

Digamos que o caso foi semelhante ao infame caso da Capcom com o lutador real Mike Tyson e o personagem Mike Bison (M. Bison) da série Street Fighter II que terminou por embaralhar os nomes de três dos quatro chefes originais do game, ao invés de renomear apenas um personagem como foi feito em Kinnikuman.

Não sei se a mudança do nome permaneceu em Kinnikuman Nisei (Músculo Total, no Brasil), mas estou razoavelmente certo de que ele se chama Wolfman mais uma vez. E acho que já passou tempo suficiente, por isso, se por acaso tivermos um animê reboot de Kinnikuman, espero que utilizem o nome original de Wolfman.


Chiyonofuji Mitsugu e Sylvester Stallone
foram grandes amigos.

Engraçado é quando o Kinnikuman vai enfrentar Wolfman nas finais, e antes da luta, quando o vê usando um cinturão Mawashi, zomba dele, porque do seu ponto de vista seu rival parece estar vestindo uma fralda. Mas Kinnikuman logo para de rir porque descobre que também precisará vestir o mesmo cinturão Mawashi para lutar. E as piadas ficam ainda mais sem noção com o rei do planeta Kinniku, o ex-campeão Mayumi, tratando seu filho Kinnikuman como a um bebê.

Você sabe que esse é o tipo de cena que um estrangeiro - um gaijin, como diriam os japoneses - faria se ele não entendesse a cultura japonesa, mas estas são pessoas japonesas reais, ou pelo menos foram japonesas durante a maior parte de suas vidas. Vejam como os japoneses gostam de fazer piadas até sobre si mesmos.

Não posso deixar de mencionar agora o misterioso Warsman, o chojin ciborgue representante da União Soviética, que já podemos sentir o seu grande hype desde a sua primeira aparição e no restante do mangá.


Lembra de que eu mencionei como as lutas tornaram-se muito mais violentas neste arco?
Já na primeira rodada das lutas tivemos um desmembramento e duas decapitações!


Na cena que você vê na imagem acima, Brocken Jr rasga ao meio o corpo de Watchman, o homem-relógio da Suíça, usando o movimento Camel Cluth.

Se você quer saber por que não há um espaço para um texto na imagem acima, é porque Watchman é essencialmente um robô, então não há problema em mostrar isso para as crianças. Afinal, por que você acha que os soldados do Clã do Pé se tornaram robôs nos desenhos animados das Tartarugas Ninjas?

Se bem que, mesmo sendo quase um robô, Watchman está sangrando...


Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchev.

Em um ponto da primeira rodada das lutas desta Olimpíada Chojin, Warsman (representando a União Soviética) enfrenta Pentagon (representando os Estados Unidos) em plena época de Guerra Fria, o que pode fazer essa luta parecer um pouco antiquada e brega, mas este é um dos pontos-chave desta postagem.

Diferentemente do mangá original, que dedicou uma única página para deixar claro aos leitores o significado daquele confronto, na versão animê fica muito mais clara a trama explosivamente política - literalmente na verdade, pois vemos jatos americanos e soviéticos se chocando em uma batalha aérea.

Pentagon (Pentágono) é o nome da base militar dos Estados Unidos e a "guerra" é o nome de Warsman (War = Guerra). A América de Reagan contra a Rússia de Gorbatchev. Este período histórico é revisitado durante o Perfect Origin Arc, um arco do mangá lançado em 2012 e que reavivou a franquia.


Mire bem nesta imagem acima e imagine-se como uma criança no Japão lendo isso no Weekly Shonen Jump, com medo de que seus pais possam te pegar e te colocar em sérios apuros...

Gosto de comparar Warsman a Ivan Drago, o vilão do filme Rocky IV (1985), interpretado por Dolph Lundgren (Embora Darth Vader seja uma comparação mais óbvia).
Ivan Drago, o lutador soviético, tem postura monossilábica, é entupido de esteroides e tem sede de sangue. Não muito diferente do que Lundren já estava acostumado a fazer no cinema, eu sei.

Warsman parecia ser mudo, com sua respiração pesada e sons mecânicos, era literalmente uma máquina, por dentro e por fora, e também sedento por sangue, embora sua força seja 100% natural de sua fisiologia e ele tenha motivos muito mais convincentes para ser como tal, que serão revelados ao fim deste arco do mangá.


Como citado no início da postagem, a cultura pop da época nos Estados Unidos, principalmente no cinema, já era bastante influente, e neste período histórico encontrava sempre uma oportunidade para demonizar a Rússia. Esta foi a época em que os filmes exploravam com recorrência o tema "os bíceps contra o comunismo". Por exemplo, em Rambo II, nosso herói John Rambo chegou ao ápice em combater o Vietnã e a Rússia num mesmo filme.

Isso aconteceu porque, diferente de seu antecessor Jimmy Carter, Ronald Reagan (1911-2004) resolveu retomar a treta contra a União Soviética. Carter era da turma do “deixa disso” e o Reagan era da turma do “chuta a cara deles”.

Quem viveu e assistiu a grandes eventos esportivos num passado não tão distante deve se lembrar do clima de mistério que pairava sob as equipes pertencentes ao antigo regime comunista. Como treinavam os atletas das nações que formavam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas para enfrentar seus concorrentes capitalistas?

No contexto da Guerra Fria, os esportes se transformaram em arenas de disputas entre comunistas e capitalistas, os quais tentavam mostrar superioridade ideológica sobre o outro. Algo similar ao que ocorreu no campo da ciência, da tecnologia e da corrida espacial.


A importância do esporte como arma ideológica era levada tão a sério que a União Soviética desistiu de participar da realização dos primeiros jogos olímpicos, em 1948, porque se chegou a conclusão de que não estavam suficientemente preparados. E valeu a pena para eles, pois os resultados nas competições seguintes foram surpreendentes.

Desde o início da formação da União Soviética, seus dirigentes acreditavam que o esporte exercia enorme importância na engrenagem social. A cultura física, o desenvolvimento do corpo era importante até para garantir a formação de cidadãos e cidadãs fortes, prontos para defenderem a nação.

Havia, entretanto, o receio de que a prática viesse a servir como instrumento de despolitização do proletariado, de desviá-lo da luta de classes. Por conta dessa visão, os atletas soviéticos eram, formalmente, amadores.

E esta era uma das críticas sutilmente colocadas em Rocky IV aos atletas da União Soviética, onde temos o combate, que era para ser uma disputa festiva em Las Vegas, entre um amador (Ivan Drago) e um profissional aposentado (Apollo Creed).
Enquanto Rocky Balboa treinava socando carnes congeladas no açougue, Ivan Drago tinha ao seu lado o melhor da tecnologia na hora de treinar, além de usar anabolizantes. Estava de uma forma muito clara a crítica ao “amadorismo profissional” dos atletas da União Soviética, que dominava os Jogos Olímpicos.


De forma semelhante era Warsman, que é uma máquina literal cujo cérebro eletrônico pode analisar, julgar e eliminar qualquer oponente num intervalo de tempo menor do que 30 minutos. E segundo o treinador dele, Mister Barracuda, mesmo a dieta de seu pupilo é controlada por um programa de computador.

O misterioso treinador do ciborgue soviético, descobriu Warsman em uma viagem a União Soviética. E como estava Warsman naquele tempo? Como ele vivia e o que fazia? Warsman estava vivendo nas ruas, quebrando inimigos e fugindo da Associação de Chojins Soviéticos que não passava de uma fachada para produzir super-soldados leais ao regime (De acordo com informações completares que recebemos mais tarde).

Drago e Warsman, dentro do contexto de suas próprias histórias, parecem uma intenção velada da União Soviética de "esfregar na decadente cara capitalista americana que a Rússia estava produzindo atletas de performance muito superior".

Drago matou Apollo Creed. Warsman matou Teapackman, Pentagon, e ainda causou uma morte cerebral em Ramenman (na última imagem acima), ao atingir a têmpora dele com sua garras retráteis estilo Wolverine, chamadas Bear Claws... Um verdadeiro massacre.

Então em Kinnikuman também há o contexto da revanche pelo companheiro ferido/morto por um lutador russo. No caso do Drago, o contexto foi a mensagem deixada pelo moribundo Creed para "vencer a Guerra Fria" ("Somos nós contra eles").

Drago: "Se morrer, morreu"

Warsman: (Respiração do Vader)


Posso te dizer o quanto eu amo esta foto acima? Ela representa o contraste entre o Cômico Kinnikuman e o Sério Warsman. Lembre-se de que Kinnikuman ainda é meio cômico neste ponto da série.

Com os dois finalistas definidos (Kinnikuman e Warsman), é decidido que o combate final do torneio seria um "Death Match", onde o perdedor deveria remover a sua máscara, revelando o seu rosto para o mundo inteiro.

Para Clã Kinniku, revelar o seu rosto é uma ofensa punível com a morte, ou seja, se derrotado por Warsman, Kinnikuman não perderia apenas a luta, mas também a sua vida em um Hara Kiri.

Kinnikuman de praxe fugiria da luta, mas tudo muda quando ele vê Brocken Jr que empurrava a cadeira de rodas de Ramenman.
Nas próprias palavras de Brocken Jr, agora Ramenman não pode ver, escutar, falar e nem sequer pensar, é apenar um pedaço de carne que pode respirar. Muito triste.


E um dos momentos mais emocionantes da série acontece. Espere até ver como o animê o torna ainda melhor... Ramenman sabia que não tinha chance de ganhar aquela luta, mas ele lutou até o fim, porque tentava causar algum dano, mesmo que mínimo, em Warsman para proteger e ajudar o seu amigo Kinnikuman a ter uma chance maior do que a sua para encontrar a vitória.

Agora é hora de discutir sobre a situação do Japão neste período da história que foram os anos 80, e o que o mangá e o seu personagem título têm a nos dizer sobre isso.

O início da história no mangá logo nos apresenta o rival e futuro parceiro do personagem título, Terryman, um super-herói dos Estados Unidos que só salva as pessoas se elas puderem pagar (Como um dos primeiros estereótipos negativos apresentados no mangá: "o bom americano capitalista selvagem"), entrando em conflito com Kinnikuman, o único que está disposto a fazer o trabalho de graça.

Terryman também foi inspirado em um lutador real, no caso Terry Funk, e ele era retratado como alguém popular, inteligente e poderoso (Além de ser dono do melhor tema musical já feito para um personagem de animê), porém, em sua primeira aparição no mangá, ele era egoísta, convencido e um ganancioso sem noção que não ajudava nenhum cidadão em perigo, ao menos é claro que pudesse lucrar com isso.

Apesar de ser um estereótipo ambulante, Terryman representava muito bem a forma como os japoneses se sentiam com relação aos norte-americanos. E, por isto este mangá é uma máquina do tempo e tanto!
Mesmo com esta primeira impressão nada simpática do personagem, Terryman evolui rapidamente em personalidade - inspirado por seu rival Kinnikuman - de tal maneira que temos a impressão de que o Japão tem coisas melhores a dizer sobre os norte-americanos do que os próprios norte-americanos.

Kinnikuman, no começo do mangá, era essencialmente uma criança presa no corpo de um brutamontes, incapaz de tomar importantes decisões por si mesmo. Morava em uma casa que mais parecia um barraco e estava sempre sem dinheiro. E ainda por cima era preguiçoso, comilão, muito excêntrico e mulherengo (Acho que ainda não mencionei "peidorrento"...). E, por mais que ele mude no decorrer da história, esta imagem do super-herói cômico e covarde ficou muito marcada.


Abertura animê Paranoia Agent: "As crianças perdidas são uma 
magnífica gigantesca nuvem de cogumelo no céu ". Satoshi Kon 
não está sendo sutil. Ele quer que seu público saiba exatamente 
qual a sua mensagem.

Kinnikuman é uma paródia do Ultraman, que pode ser considerado um dos símbolos nacionais do Japão, tal como Mickey Mouse é para os Estados Unidos. Mas vemos também que os japoneses obviamente estavam muito descontentes por terem o seu país representado por uma figura tão problemática como Kinnikuman no importante evento da Olimpíada Chojin.

Eu acredito que o Kinnikuman pode de uma certa forma funcionar como uma crítica a própria política e a sociedade do Japão no  período pós-Segunda Guerra.

O Japão encontrava-se arrasado com o fim da guerra, e mesmo agora sequer tem direito a ter seu próprio exército. O governo japonês era e ainda é incapaz de assumir os terríveis crimes de guerra cometidos pelo Império Japonês, além de não permitir que tal assunto seja abordado de maneira correta no meio acadêmico. Tudo isso prejudica muito as relações do Japão com seus vizinhos como a China e a Coréia, e o país ainda amargou uma posição de total serviçalismo aos Estados Unidos.


Responsabilidade versus Vitimização.

O terrível massacre conhecido como o Estupro de Nanquim (1937-1938) foi o prelúdio de alguns dos mais horripilantes atos pelos quais o Império Japonês seria responsabilizado na década seguinte. Criminosos como o doutor Shiro Ishii - a versão nipônica de Joseph Mengele e responsável pela famigerada Unidade 731 - nunca foram condenados e receberam anistia graças aos Estados Unidos que ainda silenciaram quaisquer denúncias sobre os crimes deste (classificadas como "propaganda comunista do governo chinês"), em troca do conhecimento tecnológico desenvolvido pelo Japão através dos hediondos experimentos com seres humanos em campos de concentração.

Exatamente, em um dos mais graves abortos da justiça, esses registros se tornariam uma moeda de barganha no final da guerra, com Ishii usando-os para obter imunidade contra as acusações. Seis anos depois do fim da Segunda Guerra, o mesmo Shiro Ishii estaria ajudando os Estados Unidos com armas biológicas durante seu conflito na Coréia. Embora o mundo tivesse notado quando os campos do Terceiro Reich foram libertados, as ações da Unidade 731 passaram despercebidas. Mesmo hoje, elas parecem ser convenientemente varridas para debaixo do tapete e permanecem ausentes de muitos cursos acadêmicos.

Com a presença militar continuada dos Estados Unidos no Japão pós-guerra - inclusive para armazenar ogivas nucleares e armas químicas em território japonês - e a falta de jurisdição nacional sobre bases americanas, era vívida a frustração japonesa com a contínua sujeição do seu país a um país estrangeiro.


MW, do deus do mangá Osamu Tezuka:
A bomba atômica é um assassino indiscriminado.

Após o tratado de segurança revisado entre Estados Unidos e Japão em 1960, os Estados Unidos têm o direito de usar bases militares e instalações no Japão, em troca da promessa de defender o país anfitrião no caso de um ataque. A aliança de segurança tem um preço, no entanto. O Japão não só paga cerca de 70% dos custos de basear as tropas dos Estados Unidos, mas também é impedido de se perceber como um "país normal". Líderes políticos do Japão e os poderosos empresários são claramente culpados dessa situação "humilhante".

Como podemos observar, o Japão forte e agressivo foi reduzido a uma "criança desamparada" e os responsáveis foram as buas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki.


A mudança de Kinnikuman, acredito, pode funcionar como uma poderosa metáfora para povo japonês de libertar-se desta "infantilização" causada pelo fim da guerra com o traumático genocídio de seu povo patrocinado pelos Estados Unidos. E esta imagem acima de um lutador japonês, chorando e abraçando um lutador chinês que foi irreversivelmente desfigurado ilustra estes sentimentos de dor, ressentimento e culpa por sua irresponsabilidade e covardia.

Kinnikuman é dotado de uma imensa força interior (Kajiba no Kuso Chikara). De fato, ele descende de uma casta real em seu planeta natal, ele é quase um samurai, um nobre e um guerreiro por natureza. E, da mesma forma que o povo japonês, ele precisa redescobrir essa sua história, assumir os seus erros e encontrar o seu poder, a sua própria força.

Quando da final desta Olimpíada Chojin temos a revelação de que Mister Barracuda era na verdade Robin Mask, uma reviravolta interessante por algumas razões:

1) não havia internet naquela época, então imagine como foi para um leitor do mangá no Japão em 1981 vendo isso na Weekly Shonen Jump e descobrindo quem ele realmente era;

2) Robin Mask poderia muito bem ser considerado O arqui-inimigo de Kinnikuman ao longo das primeiras partes da série, além de Kinkotsuman. E mesmo que muitos leitores possam ter se queixado do nobre chojin inglês Robin Mask ter mudado completamente para um pessoa tão vingativa, ele tinha todos os motivos do mundo para se tornar um vilão.


A luta final entre Kinnikuman e Warsman foi o ponto de virada para ambos os personagens.

Durante todo aquele embate, Kinnikuman parece escutar uma Voz Misteriosa que o guiava e o aconselhava (Seria Ramenman? Mas como?). Aquela voz sugere que Kinnikuman use o Kajiba no Kuso Chikara ("Ultimate Muscle"/"Músculo Total" no Ocidente).

Warsman, por outro lado, necessitava seguir a programação de seu computador interno, ou seja, ele precisava sempre julgar um oponente e finalizá-lo em menos de 30 minutos, do contrário ele entra em pane. E foi exatamente isto o que acontecia nos momentos finais do embate.

Parece que Kinnikuman era resistente demais para Warsman computar seus movimentos. Embora tenha sofrido muito nas mãos do oponente e tenha por alguns momentos duvidado de si mesmo e desejado entregar a luta, foi graças a sua grande persistência, nunca desistir mesmo na eminência de morrer, que Kinnikuman virou o jogo e venceu com o seu golpe de assinatura.


A origem do Palo Special de Warsman, homenagem
ao lutador britânico Jackie Pallo.

Kinniku Buster!!!

Essa foi a marca registrada de Kinnikuman, o Kinniku Buster, um movimento considerado perfeito tal como o Palo Special de Warsman. Enquanto o Palo Special pode desarticular (e mesmo amputar) os braços e as pernas do oponente, o Kinniku Buster tem a capacidade de provocar danos ao pescoço, a espinha e a bacia do oponente, levando a ruptura em casos extremos.

Depois de 120 capítulos, Kinnikuman finalmente tem um movimento para chamar de seu... Warsman perde, Kinnikuman ganha, e este é agora o primeiro chojin a sagrar-se campeão por duas vezes consecutivas.

De acordo com as regras, o perdedor deveria ter a sua máscara removida pelo vencedor. E apesar de sua vida não estar em jogo, Warsman também tinha bons motivos para manter seu rosto escondido por trás daquela sua  máscara. Enfim... é o próprio lutador russo quem, aceitando a derrota como um lutador honrado que era, finalmente começa a falar e retira sua máscara para revelar... o rosto da vergonha.


A cena e a revelação a seguir são chocantes. Warsman conta a Kinnikuman a sua história - que também será expandida em um arco posterior -, e o seu passado parece que é "copiado" para vários outros personagens que surgiram depois dele anos mais tarde, como Gaara (Naruto), o próprio Naruto, Nico Robin (One Piece) e, mais recentemente, Katakuri (One Piece).

Antes de tombar derrotado, Warsman revela que o sofrimento causado pela tragédia que foi o seu nascimento o levou ao ringue para punir tanto chojins quanto robôs. O ringue era o único lugar onde ele encontrou aceitação porque dentro da arena não importa se você é um robô ou um chojin, a força é o único elemento importante. Foi no ringue em que ele foi educado que em um combate você só tem duas opções: "Matar ou ser morto".

Mas foi aquela luta com Kinnikuman que mudou o coração outrora "tão frio quanto o inverno siberiano" do robot-chojin. Warsman aprendeu um sentimento diferente daquele que tinha quando assassinava um oponente no ringue e o quão maravilhoso era poder competir.

Kinnikuman ampara Warsman e devolve a sua máscara, cobrindo o rosto dele, e declara que, apesar de ter vencido a disputa, foi o lutador russo o maior vencedor daquele confronto porque ele ganhou algo muito mais valioso do que um título de campeão: Ele havia se tornado um homem muito melhor.


Os resultados finais podem dizer que eu venci, mas...
durante toda a luta, você foi o melhor homem.

A voz misteriosa que guiava Kinnikuman durante toda aquela luta era de fato Ramenman - que para a nossa alegria retornará ao ringue em um arco posterior - , e ele ainda termina o arco alertando seu amigo de que raramente um campeão tem muito tempo para aproveitar a sua vitória.

Warsman é um dos melhores personagens da série. Enquanto a aparência fazia muitos verem um vilão, ele revela ter um coração de ouro durante a série. Precisamos de mais super-heróis desfigurados como ele (Falo "desfigurado mesmo"! Não como alguns personagens que têm tipo a pele azul ou uma porção de braços e ainda podem ser considerados belos). E Warsman torna-se interessante graças ao fato de que é ele quem move a maior parte de toda a ação neste arco de sua estreia. Assim é também Ramenman, outro chojin tão machão que até come sopa de nazista...

Rocky IV foi considerado por muitos um filme horrível e um simples veículo de "propaganda Reaganista". Mas eu o acho um filme foda pra caralho! Rocky Balboa é um dos meus personagens favoritos do cinema e a sua trilha sonora é fora de série. É impossível, seja você quem for, concordando ou não com a ideia implícita, não tirar algo de positivo nas nuances desse filme.

O arco da 21ª Olimpíada Chojin marcou o fim de uma era, porque os vilões serão diferentes no próximo arco. Kinnikuman foi bastante solo até este ponto, salvo por alguma ajuda de aliados e colegas chojin, mas eles irão formar uma verdadeira aliança no próximo arco, sendo este muito mais sério, com demônios, satanismo e mortes mais violentas. Há muito mais WTF vindo por aí...

Para aqueles de vocês que amam luta-livre, tente conhecer o mangá original de luta-livre. As lutas em Kinnikuman vão se tornando mais tecnicamente detalhadas em uma definição realista com o passar das suas fases, e são distintamente emocionantes e sentimos o seu poder não apenas em animê, mas para o esporte também.


Se você sente que é o prejudicado em tudo o que faz na vida, isso lhe dará um tipo distinto de inspiração para sair e fazer o que quer. Não importa se você ganha, nas palavras do próprio Kinnikuman, APENAS FAÇA!!! Não deixe seus sonhos serem sonhos!!!!

Feliz Natal e um Feliz Ano Novo.
Boas festas.

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